Luiz Flávio
Os chamados atacarejos avançam no mercado e no Estado do Pará já chegam a cerca de 50% do varejo de alimentos apenas na Região Metropolitana de Belém (RMB), segundo cálculos da Associação dos Distribuidores e Atacadistas do Estado do Pará (ADAPA), crescimento que vem avançando principalmente após a chegada dos grandes grupos ao Estado 8 anos atrás.
A primeira loja desse segmento que chegou ao Pará foi do grupo Carrefour em 2015. Dois anos depois vieram os grupos Assaí e Matheus. Hoje os grandes grupos somam 15 lojas em toda a região metropolitana atualmente no formato mix, que associa vendas no atacado e varejo, o famoso atacarejo.
Segundo estudo realizado pela consultoria McKinsey & Company, o setor de atacarejo acumula alta de 10% nas receitas desde 2020, contra quedas de 6% nos supermercados e 20% nos hipermercados no país. A expectativa era que o setor de atacarejo avançasse 15% no Brasil ano passado. Os números podem ser explicados por outra parte do levantamento que apontou que 70% dos consumidores estão em busca de formas de economizar, com 40% deles abertos a alternativas mais econômicas.
Geam Freitas, presidente da associação e do grupo Preço Baixo, diz que os atacarejos evoluíram muito, principalmente nos últimos 5 anos, antenados com o que os clientes buscam: preço bom e atendimento diferenciado. Nesse contexto ampliaram o mix de produtos, agregaram serviços e melhoraram a apresentação das lojas.
“Aliado a tudo isso agregaram tecnologias, modernizando os serviços. Aqueles grandes galpões escuros e malcuidados que presenciávamos são coisas do passado. Hoje temos lojas com açougues, padarias uma gama enorme de lojas e serviços que já são encontrados em supermercados e hipermercados”, destaca Freitas. Ele ressalta ainda que o formado onde os clientes só podiam compram se tivessem CNPJ ou um passaporte também acabaram no país.
O presidente da ADAPA, que conta hoje com 72 associados, diz que a despeito do setor do varejo ainda predominar o comércio em muitos locais, os atacarejos vem crescendo como nunca no Brasil. No Pará, o setor é responsável pela geração de 15 mil empregos diretos apenas na região metropolitana.
“O segmento cresceu tanto que bandeiras varejistas tradicionais daqui e de fora aderiram ao modelo do atacarejo, mantendo lojas nos dois modelos e o contrário também ocorreu: grandes grupos atacadistas nacionais, como o Matheus, abriram lojas apenas de varejo. Ainda não é algo corriqueiro aqui no Pará, mas é uma tendência irreversível”, explica o empresário, que também preside o Sindicato das Empresas do Comércio de Supermercado e Autosserviço do Estado do Pará (Sindespa).
O sistema de atacarejo sempre existiu no Pará, em lojas menores espalhadas pelos bairros da região metropolitana desde 2005 bem antes da chegada dos grandes “players nacionais“ ao Pará em 2015. “Essa entrada das empresas nacionais acabou forçando um desenvolvimento dos atacarejos locais, movimentando o setor. Esse é um modelo consolidado nacionalmente e hoje a competição entre as empresas locais e as nacionais é forte!”, destaca Geam.
Alguns estados brasileiros – como o Rio Grande do Sul – experimentaram uma verdadeira “invasão” de atacarejos nos últimos anos. “Em muitas regiões a penetração chega a dominar 70% do varejo de alimentos nesses locais”, diz.
“Aqui no Pará os grandes players de fora ainda têm uma penetração muito grande no atacado, na venda para pequenos comerciantes, mas essa realidade vem mudando. Sem dúvida 70% do total das vendas nos atacarejos é para o consumidor final e 30% vão para os pequenos comerciantes”, detalha.
A analista de sistemas Aline Santos de Oliveira, 35 anos, diz que até já esqueceu o que é um supermercado. “Faz muito tempo mesmo que não vou mais a um. Acho que fazem uns 5 anos ou mais. Só vou aos atacadões. Priorizo um localizado no meu bairro, Jurunas; e outro em São Brás”, afirma.
Ela, que vai a um atacadão toda semana, diz que quando encontra produtos ainda mais em conta, sempre compra em quantidades para estocar em casa. “É muito mais vantagem. Estamos em épocas de inflação e sei que este mês o preço está um e no mês que vem estará outro, sempre para cima. Geralmente eu faço estocagem de arroz, açúcar e óleo e até café”, comenta.
A auxiliar de serviços gerais Aline Cristina Bastos, 44, vem intensificando a frequência de visitas aos atacarejos. Tudo para tentar driblar o aumento da inflação. “Sem dúvida é a opção mais barata. Moro numa passagem de 4 casas que moram num total de 16 pessoas. Somos todos parentes. Sempre nos juntamos e fazemos as compras juntos e ao chegar em casa dividimos. Uma compra grande dá para até 20 dias de todas as famílias. Conseguimos economizar bastante”, conta.
Para a funcionária pública Sílvia Cássia Martins, 51, optar por comprar nos atacarejos e não em supermercados é uma questão matemática. “Vou no atacarejo a cada 15 dias e percebi que os preços variam dependendo do período do mês. No início do mês os valores de alimentos como carnes e leite estão mais caros. Depois do dia 21 as promoções começam e permanecem até final do mês. Independente do período que vamos ainda assim é muito mais vantagem porque a economia você sente no bolso, quando computamos o valor total das compras”, destaca.
Os descontos nos itens oferecidos pelos atacarejos beneficiam estabelecimentos como bares e restaurantes, além de pessoas físicas. “Todo mundo está querendo economizar”, diz Sílvia.