Grande Belém

O trabalho delas no Ver-o-Peso

O trabalho delas no Ver-o-Peso

Wesley Costa

Para homenagear as mulheres, o DIÁRIO foi até a feira do Ver-o-Peso conhecer histórias de trabalhadoras e as relações que possuem com um dos principais cartões-postais de Belém.

O perfume que exala dos corredores das barracas de ervas da feira é inconfundível. Sempre animadas, as erveiras integram um dos símbolos do Ver-o-Peso. Detentoras de saberes repassados de geração em geração, as vidas de muitas delas chegam a se confundir com o ambiente de trabalho.

O amor pelas ervas surgiu há mais de 50 anos na vida de Nazaré Coelho. Mãe de dois filhos, a erveira diz se sentir completa e realizada enquanto mulher. “O meu primeiro contato com o Ver-o-Peso foi através de uma paixão. Foi daqui também que novos sentimentos foram aflorando e, entre eles, o amor pelas ervas. Coincidentemente, essas ervas transmitem esse cuidado que pode ser visto muito forte em todas as mulheres”, diz.

Ao longo dos anos de trabalho, ela viu a feira se transformar em um espaço que tenta ser mais plural e inclusivo. “Ao meu redor, por exemplo, as mulheres são maioria e isso é muito bom. Mesmo cada uma dentro do seu espaço, a interação é grande e o respeito também, principalmente quando o assunto é clientela”, contou. “Foi através das ervas que consegui alcançar muitos sonhos e agora só espero um futuro de saúde, paz, amor e muito respeito enquanto mulher”, completou.

Nos últimos anos, houve avanços significativos na presença feminina em áreas antes dominadas por homens. As mulheres estão cada vez mais ocupando cargos de liderança em empresas, governos e organizações. No Ver-o-Peso, essa mudança não é diferente. Há quase seis meses, Elda Reis, 48, iniciou sua venda de pescado e se destaca no tradicional mercado do peixe da feira. A atividade que está bastante ligada ao universo masculino passou a ser sua principal fonte de renda.

“Eu sempre trabalhei aqui no mercado, mas como fileteira. Devido a pandemia as coisas ficaram mais difíceis e acabei perdendo o emprego, foi quando decidi vir para a venda direta. Hoje, minha relação com todos aqui é a melhor possível. O respeito é grande, não somente porque sou mulher, mas porque há também esse reconhecimento dentro da profissão”, afirma Elda.

Elda Reis. Foto celso Rodrigues/ Diário do Pará.
Grace Kelly Foto celso Rodrigues/ Diário do Pará.
Dona Nazaré  Foto Celso Rodrigues/ Diário do Pará.

OPORTUNIDADES

Apesar dos avanços dentro da sociedade, ainda há muito a ser feito para garantir que as mulheres tenham acesso igualitário a oportunidades e recursos em todas as áreas. Durante suas atividades na feira, a artesã Greice Kelly, 38, já vivenciou situações no qual tentaram lhe diminuir, simplesmente por ser mulher.

“Há dois anos vim trabalhar com meu esposo que já tinha a venda de artesanatos nessa área do Ver-o-Peso, mas apesar de ser um espaço que reúne todo mundo de alguma forma, o preconceito ainda é grande quando se é mulher. Alguns não gostam nem de negociar, levando o discurso de que mulher não sabe fazer negócio, o que não é verdade”.

A artesã contou ainda que através do seu trabalho muitos sonhos já foram realizados e deixa uma mensagem para todas as mulheres que também trabalham o Ver-o-Peso. “Não desistam dos seus objetivos e sejam persistentes nessa rotina que não é fácil. Enquanto mulheres, podemos sim fazer toda e qualquer atividade que venha nos satisfazer. Jamais abaixe a cabeça e lute pelo seu espaço nesse local que também é um direito seu”.