Durante o Círio de Nazaré, a fé e a culinária caminham lado a lado. Entre as ruas tomadas por promessas, cordões e orações, também se espalha um cheiro inconfundível: o da maniçoba. A iguaria, considerada patrimônio da mesa paraense, é presença obrigatória na celebração, mas requer atenção para o período de preparo: são sete dias para cozinhá-la corretamente.
Servida nas casas de família e nas confraternizações que marcam o período, a tradição, no entanto, carrega essa advertência séria. Feita a partir da folha da mandioca moída – conhecida como maniva –, a maniçoba contém ácido cianídrico, o chamado veneno cianeto, uma substância tóxica capaz de causar intoxicação grave e até a morte se ingerida in natura. Por isso, para se tornar segura, a folha precisa passar por um processo longo e cuidadoso: sete dias ininterruptos de cozimento.
Mas por que 7 dias?
O perigo está no cianeto, gás liberado durante a moagem da mandioca. Se ingerido, reage com a hemoglobina – proteína que transporta oxigênio no organismo – e impede que o corpo absorva esse gás vital, levando a uma rápida intoxicação e asfixia. Por isso, o preparo correto é indispensável.
Para eliminar o veneno e deixar a receita segura para o consumo, o preparo precisa de pelo menos 7 dias de cozimento, que irão garantir que o gás mortal seja evaporado por completo.
Com sabor forte e aparência que remete a uma feijoada, só que verde, a receita reúne cortes variados de carnes bovinas e suínas, que cozinham junto com a maniva e ajudam a dar corpo, textura e o gosto característico do prato. Sua origem é indígena, que aprenderam a neutralizar o veneno da planta e transformaram a folha em alimento.