
Um resíduo que antes era descartado virou inovação, renda e impacto positivo no Amapá. O casal Valda Gonçalves e Lázaro da Silva Gonçalves, fundadores da startup Engenho Café de Açaí, transformou o caroço do açaí em uma bebida funcional sem cafeína, rica em antioxidantes, fibras e proteínas. A iniciativa, que começou em 2011 e ganhou força durante a pandemia, hoje já alcança o mercado internacional.
Segundo Valda, cerca de 80% do fruto se tornava resíduo e muitas vezes era jogado em rios e terrenos. Ao perceber o desperdício, o casal desenvolveu um processo de torrefação e moagem semelhante ao do café tradicional. “Transformamos o que antes era lixo em alimento funcional. O café de açaí não tem cafeína, mas preserva aroma e sabor”, explica a empreendedora.
Da batedeira às exportações
As primeiras experiências aconteceram de forma caseira, mas logo a ideia ganhou corpo. Para validar a bebida, Valda chegou a trabalhar como motorista de aplicativo, oferecendo o produto aos passageiros e ajustando a fórmula conforme o retorno. Pouco depois, conquistou os primeiros pedidos e viu a produção crescer.
Com apoio do Sebrae, a startup estruturou embalagens, obteve certificações e iniciou as exportações. A primeira negociação internacional aconteceu após uma missão empresarial à Alemanha, e desde então os contratos se multiplicaram. Hoje, a produção chega a 12 toneladas mensais, sendo 60% distribuídas no Brasil — sobretudo nas regiões Norte e Nordeste — e 40% destinadas ao exterior.
A bebida já é vendida nos Estados Unidos, Austrália Alemanha e outros países da Europa, além de ter um contrato firmado para envio de 40 toneladas aos Emirados Árabes. Valda também negocia novas parcerias no Chile, Panamá e Peru.
Linha diversificada e certificações
Além da versão 100% feita do caroço do açaí, o Engenho Café de Açaí lançou um blend especial, que combina 40% de café tradicional e 60% de açaí, além de cápsulas compatíveis com máquinas Nespresso.
O produto já conquistou selo de origem do Ministério do Desenvolvimento Agrário, selo orgânico no Brasil e nos EUA (FDA), certificação vegana (SVB) e selo Latam.
Sustentabilidade e impacto social
A matéria-prima vem da Cooperativa Amazonbai, em Macapá (AP), garantindo origem sustentável e inclusão de produtores locais. Parte dos resíduos coletados é revertida em consultorias e mentorias oferecidas à comunidade.
Para o casal, o futuro passa por ampliar ainda mais a presença no mercado e diversificar a linha de produtos derivados do caroço do açaí, incluindo óleos, extratos e até itens de cosmética. “Nosso papel como empreendedores é olhar para o que ninguém vê, transformar problemas em soluções e gerar impacto positivo”, resume Valda Gonçalves.