
Toda a Região Metropolitana de Belém (RMB) se prepara para o chamado “verão amazônico”, aquele período do ano em que chove menos no nordeste paraense. E de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), este momento de transição atmosférica, que ainda está em andamento, ajuda a entender os ventos de até 90 quilômetros por hora que causaram o destelhamento de dezenas de casas no bairro Maracajá, do distrito de Mosqueiro, durante um temporal registrado na tarde de domingo, 4.
“A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que é o sistema responsável pela definição desse período, está justamente se deslocando já para o hemisfério norte, para as baixas latitudes, região equatorial do hemisfério norte. Porém, alguns fragmentos dessa ZCIT permanecem no nosso litoral, em conjunto com os ventos alísios – ventos permanentes que sopram de leste para oeste, das zonas subtropicais para o Equador, influenciando a circulação atmosférica global e o clima local -, que penetram na bacia amazônica, e vêm com muita umidade”, detalha Adriróseo dos Santos, que está coordenador do Inmet no Pará.
“E é essa combinação de umidade que vem do oceano, da costa do oceano, com a superfície de temperaturas altas que promove a formação de nuvens de convecção, nuvens cumulonimbus”, complementa.
O especialista informa ainda que as cumulonimbus são pontuais, localizadas e se formam muito rápido, provocando vendavais e chuva forte. “Foi o que ocorreu ontem no distrito. Temos a Escala Belfort, que é empírica, e classifica intensidade de vento. E de acordo com ela, a velocidade foi de cerca de 90 km/h naquele instante. Esse patamar corresponde a uma tempestade forte na escala, sendo capaz de provocar danos significativos em áreas urbanas e rurais”, afirma.
A dona de casa Kelly Souza, de 31 anos, sentiu da pior forma a intensidade do fenômeno. Estava saindo do chuveiro com um dos filhos pequenos quando viu sua casa ficar sem cobertura.
“Era muito forte, e vinha de todos os lados. Foi só o tempo de correr para tentar sair de casa, porque começou a cair árvores, um monte de coisa. Nunca tinha passado por nada parecido. O vento levou o telhado como se fosse papel”, lamenta ela, que tinha acabado de quitar a casa onde mora com o marido e os filhos há 12 anos. Embora todos tenham saído sem nenhum machucado, o imóvel teve perda total e Kelly contará com assistência do poder público [leia ao final da matéria].
Adriróseo afirma que o Inmet já havia emitido alerta para este tipo de evento climático para o período naquela região, e reforça a necessidade de monitoramento por parte das autoridades.
“Ventos fortes nessa região ocorrem nessa época mesmo, porque se forma essa linha de instabilidade no nordeste paraense, na costa do Atlântico. As cumulus nimbus, que são os pontos vermelhos no mapa, têm na sua base um vórtice (movimento giratório de fluido) muito grande que provocam essas ventanias bem localizadas”, relaciona o coordenador do Inmet no Pará.
Prefeitura e governo em ação
De acordo com a Defesa Civil, vinculada à Secretaria de Segurança, Ordem Pública e Mobilidade (Segbel), cerca de 40 famílias foram afetadas com a ventania, totalizando aproximadamente 156 pessoas. Três famílias ficaram desalojadas, devido à perda total de suas residências ou ao risco iminente de desabamento.
Apesar da gravidade da situação, o prefeito de Belém, Igor Normando (MDB), garantiu que todas as famílias serão assistidas pelo poder público. Ele e outras autoridades estiveram no local durante a manhã desta segunda-feira, 5.
“Estamos aqui não apenas para prestar solidariedade, mas para garantir o apoio do Estado e do município às famílias atingidas, para que possam restaurar seus lares e recuperar sua dignidade”, declarou, acompanhado do titular da Segbel, Luciano de Oliveira; o superintendente da Defesa Civil, Vitor Magalhães; além do presidente da Companhia de Habitação do Pará (Cohab), Manoel Pioneiro; e representantes da Secretaria de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster).
Durante a ação, foi realizado o cadastramento das famílias atingidas, que serão encaminhadas para receber os auxílios necessários, conforme avaliação técnica da Defesa Civil Municipal.
Recomendações e Previsões
TERÇA-FEIRA, 6: Muitas nuvens pela manhã, nuvens com pancadas de chuvas e trovoadas à tarde e à noite. Máxima de 34º e mínima de 24º.
QUARTA-FEIRA, 7, ATÉ SEXTA-FEIRA, 9: tempo nublado com pancadas de chuva e trovoadas isoladas, especialmente à tarde, com mesmas condições de temperatura da terça-feira, tudo em função dessa dinâmica da atmosfera. O Inmet classifica este período como “estágio de perigo em potencial”.
- Cumulus nimbus (Cb), ou cumulonimbus é um tipo de nuvem vertical, densa alta, associada a tempestades com raios, trovões, chuva forte, ventos fortes, granizo e, em alguns casos, até mesmo tornados.
- Nuvens de convecção se formam quando o ar quente e úmido sobe, esfria e condensa, criando nuvens de grande desenvolvimento vertical, como as cumulonimbus.
- O Inmet orienta que, em caso de rajadas de vento, não se deve buscar abrigo debaixo de árvores, pois há leve risco de queda e descargas elétricas. Também é recomendado não estacionar veículos próximos a torres de transmissão e placas de propaganda. Deve-se evitar ainda o uso de aparelhos eletrônicos que estejam ligados à tomada.