"EU QUERO ACREDITAR"

“Arquivo X”: a verdade sempre vai estar lá fora

Reviva a nostalgia de Arquivo X, a série que cativou uma geração com sua mistura única de mistério e ficção científica.

Série clássica mudou a forma de ver e produzir TV - Foto: Divulgação
Série clássica mudou a forma de ver e produzir TV - Foto: Divulgação

Quando “Arquivo X”, série de Chris Carter, surgiu, em 1993, eu tinha apenas 10 anos. Levei um tempo até saber da sua existência. A internet ainda não era o que é hoje, revistas sobre cinema e, principalmente, séries de TV, eram escassas – isso quando chegavam até Belém. A TV por assinatura só veio dois ou três anos depois da estreia. Era dependente, como muitas outras pessoas, da rara boa vontade dos canais abertos com os pejorativamente chamados ‘enlatados americanos’. As emissoras os exibiam de forma aleatória, sem levar em consideração a continuidade das temporadas. Isso, claro, para poder tirá-los do ar quando fosse conveniente. Fora que a ‘tesoura’ agia sem piedade na edição.

A primeira vez que assisti a “Arquivo X” foi ali por 1996, na casa de um amigo, que tinha gravado em VHS alguns episódios. Achei sensacional. Fui fisgado já na tétrica melodia de abertura, que ficaria na minha cabeça por semanas. E meu interesse se confirmou com o desenvolvimento dos temas dos episódios. Um drama policial com direito a conspirações governamentais, casos sobrenaturais e indícios de vida extraterrestre… Tudo isso interligado na criação de uma mitologia que, mais tarde, inspiraria várias outras obras de ficção científica, como “Lost”, “Supernatural” e “Fringe”. Além disso, a série abriu as portas e deu moral para membros da equipe de produção emplacarem seus próprios projetos – “Homeland” e “Breaking Bad”, por exemplo, vieram da mente de colaboradores assíduos de “Arquivo X”.

Mas, acima de tudo, a relação especial entre os agentes Fox Mulder e Dana Scully é o que conduz e dá charme à série. O embate entre o crente e a cética, sempre permeado por uma tensão sexual, rende momentos de catarse para os fãs, que se identificam e torcem pelo casal. Afinal, eles são os nossos representantes, jogados no meio de uma teia de acontecimentos, tentando entender e desvendar os mistérios enquanto lidam com suas responsabilidades e sentimentos. O carisma e a química dos atores também ajudam, claro. David Duchovny e Gillian Anderson estão perfeitos nos papéis. Não é à toa que a série rendeu 9 temporadas contínuas, mais duas em um revival, dois filmes e notícias sobre novas produções continuam surgindo até hoje.

Depois de um tempo, passei a acompanhar na revista Sci-Fi News tudo sobre a série, que tinha grande destaque em suas páginas. Foi capa incontáveis vezes. Adorava aquela revista, vibrei quando a conheci. Era um oásis da cultura pop e, especialmente, da ficção científica. Nenhum outro veículo dedicava tanto espaço a esses temas quanto ela. Ajudou a trazer para o Brasil toda a febre dos “Excers”, como são nomeados os fãs de “Arquivo X”, que já tomava conta dos EUA e outras partes do mundo. Expressões como “A verdade está lá fora” e “Eu quero acreditar” tornaram-se lemas, marcaram a década de 1990. A cultura pop nunca foi a mesma depois de “Arquivo X”, que, por consequência, levou toda uma nova geração a conhecer as suas influências e redescobrir clássicos como “Além da Imaginação”, “Kolchak”, “Os invasores” e “Twin Peaks”. Um favor inestimável.

De fato, “Arquivo X” mudou a forma como se consumia televisão e, especialmente, como produzi-la, tendo Chris Carter na figura imponente de showrunner, algo que não era comum. Assim, ele era responsável pela condução de um arco dramático contínuo ao longo das temporadas – mesmo mantendo as necessárias incursões dos “monstros da semana” nos episódios considerados “soltos”. Essa fórmula, hoje tão batida, foi revolucionária e cativou o público, que acompanhava semana após semana aquela dupla de agentes enfrentando ameaças reais e paranormais, sem perder de vista o fio condutor da trama. Hoje, mais de trinta anos depois, “Arquivo X” mantém sua aura sombria e elegante. Um exemplo de TV bem feita que merece ser vista e revista sempre.

Onde assistir

  • “Arquivo X” está disponível para streaming na Disney+.

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