Grande Belém

CARNAVAL SEM TRIO: proibições em Mosqueiro preocupam

Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.
Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

Cintia Magno

Apouco mais de duas semanas do primeiro Carnaval sem restrições após a pandemia, o clima de tranquilidade tomou as praias e ruas do distrito de Mosqueiro, destino certo de muitos paraenses nas férias e feriados prolongados.

Entre os moradores e comerciantes da ilha, a expectativa é de que o Carnaval possa movimentar o fluxo de visitantes, apesar da preocupação com o impacto que decisões recentes que proibiram o uso de trios elétricos e aparelhagens durante o Carnaval na ilha podem vir a ocasionar.

Sem grande movimentação de veículos ao longo de toda a avenida Beira Mar e com as praias quase vazias, apesar da maré alta, a manhã de sábado (04) foi de calmaria em Mosqueiro. Apesar do pouco movimento, nos restaurantes instalados ao longo da orla o momento era de preparação para receber os possíveis visitantes que ainda pudessem chegar.

Considerando o histórico de movimentação intensa na ilha durante os feriados de Carnaval, a expectativa é de que o número de turistas e visitantes no distrito aumente no feriado que se aproxima.

A preparação para a data iniciou cedo nas estruturas do Jurubeba, que inclui três restaurantes e um hotel. Segundo aponta o gestor de planejamento da empresa, Paulo Louchard, o foco dessa preparação para o Carnaval está no pessoal, já que a maior parte do público atendido é de pessoas que vão a Mosqueiro em busca de tranquilidade no Carnaval.

“O Carnaval é um dos quatro grandes momentos de geração de renda em Mosqueiro, ao lado do Réveillon, da Semana Santa e das férias de julho. São quatro dias, então, é um momento importantíssimo para a economia da ilha, quando circula renda. A expectativa é grande de receber umas 500 mil pessoas nesse período em toda a ilha”, acredita.

“Vem gente de toda a Região Metropolitana para Mosqueiro nesse período do Carnaval, mesmo com pouca programação. As pessoas vêm mais, hoje, em busca da natureza, da tranquilidade do que propriamente de programação de Carnaval”.

Como o período é naturalmente festivo, Paulo aponta que deverá haver uma programação com apresentação de músicos no restaurante que funciona no período da noite, mas o foco principal do atendimento é outro. “A gente tem uma programaçãozinha de Carnaval, mas a gente foca mais no planejamento e na capacitação de pessoal para receber um grupo maior de pessoas do que propriamente em programação de Carnaval”, aponta.

“Esse não é o nosso foco principal, mas como não tem programação no distrito, a gente faz uma programação noturna interna”.

A ausência de programação aberta de Carnaval do distrito tem impacto de decisão recente da Vara da Infância e da Juventude do Distrito de Mosqueiro, vinculada ao Tribunal de Justiça do Estado Pará (TJ-PA), que proibiu as apresentações de trios elétricos e a realização de festas de aparelhagens na orla durante o Carnaval de Mosqueiro, assim como vetou a participação de torcidas organizadas de clubes de futebol, como Remo e Paysandu, em blocos e/ou desfiles de carnaval pelas ruas da bucólica.

A decisão tornou-se pública através de portaria publicada no último dia 30 de janeiro e vem causando insatisfação tanto em moradores da ilha, quanto em comerciantes que dependem da presença dos visitantes na ilha.

 

Proibição pode afetar movimento na ilha

O gerente de vendas José Ribamar, 61 anos, costuma ir para Mosqueiro todos os anos durante o Carnaval, já que ele e a família têm casa no distrito. Neste ano, porém, ele acredita que o movimento na ilha pode ficar prejudicado pela proibição de trios elétricos e aparelhagens na orla.

“Todo ano a gente vem passar o Carnaval em Mosqueiro porque a gente gosta da diversão e da alegria da ilha, mas esse ano a gente ainda não está sentindo esse clima de Carnaval porque proibiram tudo”, considerou. “Para mim, essa decisão é ruim para a gente que quer brincar o Carnaval e para os comerciantes que dependem desses feriados”.

Responsável por um restaurante localizado na orla da Praia do Murubira, praia que costuma receber muitos visitantes nos feriados, Dileusa Farias não esconde o desânimo causado pela proibição das festas, mas aponta que a esperança é de que ainda possa contar com a movimentação de pessoas que vão até a ilha para descansar no feriado.

“Eu trabalho há sete anos nessa orla e esse ano diziam que o Carnaval iria ser nas ruas e que isso ia melhorar para os comerciantes. A gente até ficou empolgado e se preparou para isso, contratando pessoas para nos ajudar, mas aí já saiu esse decreto dizendo que não vai ter mais, que está proibido, então é uma tristeza para nós, comerciantes, porque esse é um período que melhora mais o movimento e essa proibição prejudica, com certeza”, avalia.

“Esperamos que possam rever isso mais pra frente e que tudo aconteça da melhor forma para a gente ter um movimento melhor. Se não, vamos ter que contar com aquelas pessoas que vem mais pra aproveitar a praia mesmo”.

Nascido e criado na ilha de Mosqueiro, o motorista José Maria Araújo, 72 anos, também teme que a falta de programação para o Carnaval nas ruas possa prejudicar o movimento no distrito. “Quem tem bares, restaurantes, barracas nas praias isso pode prejudicar muito as vendas porque tem gente que pode preferir ir para outro lugar, onde vai ter festa”, considera. “Mas Mosqueiro tem mais de 21 praias, tem muita coisa boa para fazer aqui também. Mosqueiro ainda é o melhor destino para aproveitar a natureza”.

Tapioqueira na tradicional tapiocaria de Mosqueiro, na Vila, Dora Araújo também espera que as belezas naturais do distrito sejam suficientes para atrair os visitantes durante o feriado do Carnaval.

“Eu acho que vai dar bastante movimento até porque ficou dois anos sem Carnaval e agora as pessoas vão poder vir, tranquilas”, comentou.

Ela expressa a mesma esperança nutrida pela comerciante Marlene Ribeiro, que trabalha com a venda de biquínis e confecções. “O Carnaval tem sempre um movimento muito bom, junto com o mês de julho e o ano novo. Então, a expectativa é a melhor possível, que as pessoas venham a Mosqueiro para aproveitar a praia e para descansar. Vai ser muito bom para quem quer calmaria”.

JUSTIFICATIVA

De acordo com a portaria nº001/202023, da Vara da Infância e da Juventude do Distrito de Mosqueiro, vinculada ao Tribunal de Justiça do Pará, a justificativa para a proibição do uso de trios elétricos e aparelhagens na orla durante o Carnaval em Mosqueiro se baseia no fato de que no período do Carnaval circulam mais de 1 milhão de pessoas na ilha, “tornando impossível a fiscalização da presença de crianças e adolescentes em atividades como trios elétricos, festas de aparelhagens na orla e outros”.