LICENÇAS SUSPENSAS

MPF pede suspensão de licenças para condomínio de luxo em Alter do Chão (PA)

O MPF exige que a Semma comprove, através de documentos, a suspensão das licenças concedidas, e alertou que a omissão no fornecimento de respostas pode resultar em ações judiciais contra os responsáveis.

Há indícios de várias irregularidades no licenciamento do empreendimento Quinta da Villa Residence, situado na área da antiga Escola da Floresta
Há indícios de várias irregularidades no licenciamento do empreendimento Quinta da Villa Residence, situado na área da antiga Escola da Floresta

O Ministério Público Federal (MPF) recomendou nesta semana à Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) de Santarém (PA) a suspensão imediata das licenças e autorizações ambientais concedidas para a construção do condomínio de luxo Quinta da Villa Residence, localizado na Área de Proteção Ambiental (APA) de Alter do Chão. A recomendação urgente do MPF baseia-se em indícios de diversas irregularidades, como questões administrativas, fundiárias, ambientais e até violação de direitos dos povos indígenas locais.

Irregularidades identificadas na obra de Alter do Chão

A construção, que já havia sido embargada pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), está sendo realizada em uma área que, no passado, abrigava a Escola da Floresta, um importante espaço de educação ambiental que promovia a valorização da diversidade biológica e do conhecimento tradicional dos povos indígenas e comunidades extrativistas. Esse local também é considerado sagrado pelos povos indígenas Borari, que alegam não ter sido consultados sobre o empreendimento, ferindo o direito à consulta prévia e informada, conforme estabelecido pela Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Durante inspeção no último dia 15, o MPF identificou vários problemas graves no local, como o desmatamento de floresta nativa sem a devida autorização, a destruição de áreas de preservação permanente e o risco de poluição dos corpos d’água da região. Além disso, foi constatado que o solo e o subsolo da área podem abrigar sítios arqueológicos, incluindo a presença de “terra preta”, um tipo de solo associado ao manejo tradicional de terra por populações antigas da Amazônia.

Questões fundiárias e conflito de interesses

O MPF também levantou questões sobre a posse da terra onde a obra está sendo executada. O terreno, que anteriormente pertencia ao Conselho Nacional de Populações Extrativistas (CNS), seria, na verdade, terra pública, sob domínio da União e gestão do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e não propriedade privada, como afirmam os empreendedores.

Além disso, a investigação aponta para um possível conflito de interesses envolvendo a empresa responsável pela construção, Machado Lima Empreendimentos, e autoridades da Prefeitura de Santarém. O sócio da construtora é irmão do secretário municipal de governo, que, por sua vez, é parente do atual prefeito. Essa relação familiar levanta suspeitas sobre a transparência no processo de licenciamento e a influência política sobre as decisões da Prefeitura.

Medidas para proteção ambiental e cultural

A recomendação do MPF visa garantir a proteção do meio ambiente, do patrimônio cultural e dos direitos dos povos indígenas Borari, enquanto investigações sobre as irregularidades continuam. O MPF exige que a Semma comprove, através de documentos, a suspensão das licenças concedidas, e alertou que a omissão no fornecimento de respostas pode resultar em ações judiciais contra os responsáveis.

Essas ações fazem parte de um pacote de medidas do MPF para proteger a área de Alter do Chão, uma das regiões mais emblemáticas da Amazônia, ameaçada por especulação imobiliária e atividades ilegais. A suspensão das licenças continuará em vigor até a conclusão do inquérito civil em andamento.

Com esse movimento, o MPF reafirma seu compromisso com a preservação ambiental e com a defesa dos direitos das comunidades locais, especialmente os povos indígenas, frente ao avanço de projetos que colocam em risco a biodiversidade e o modo de vida tradicional da região.