CÍRIO DA ORAÇÃO

Entrevista com D. Alberto: 'O Círio de Nazaré é um grande milagre'

Em entrevista concedida ao DIÁRIO, o Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa, clamou aos fiéis que se façam presentes na procissão dispostos a se colocar em oração Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.
Em entrevista concedida ao DIÁRIO, o Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa, clamou aos fiéis que se façam presentes na procissão dispostos a se colocar em oração Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

A emoção única sentida quando a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré surge em meio à multidão de fiéis tomará as ruas de Belém, por mais uma vez, neste domingo (13). No ano em que a grande manifestação de fé dos católicos paraenses chega à 232ª edição, o Círio de Nazaré traz como tema um verdadeiro chamado à oração: “Perseverar na Oração, com Maria, Mãe de Jesus”.

Em 2024, a programação oficial do Círio mantém as 14 procissões já realizadas no último ano, quando foi incluída a mais recente romaria, a Romaria da Acessibilidade. A novidade deste ano fica por conta do anúncio da construção do Complexo Santuário de Nossa Senhora de Nazaré, novo espaço dedicado à padroeira dos paraenses e cuja estrutura será integrada ao Centro Arquitetônico de Nazaré e à Basílica Santuário.

Anunciado em setembro deste ano, o novo santuário deverá ser mais um espaço de acolhida aos devotos de Nossa Senhora de Nazaré, voltado não somente para a multidão crescente de fiéis que se fazem presentes em Belém durante o Círio, mas igualmente aos que não conseguem estar na cidade em outubro, mas que também buscam prestar homenagens à Santa ao longo de todo o ano.

Em meio à boa notícia da criação de mais um espaço voltado para a devoção à Virgem de Nazaré, a Arquidiocese de Belém aguarda mais um Círio de acolhida às diversas manifestações de fé e repleto de bênçãos. Em entrevista concedida ao DIÁRIO, o Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa, clamou aos fiéis que se façam presentes na procissão dispostos a se colocar em oração. A expectativa é que o Círio de 2024 seja, acima de tudo, um Círio da oração!

Dom Alberto Taveira. Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

P: O Círio de Nazaré é um momento de conexão com Deus, através da intercessão da Virgem Maria, e o tema do Círio deste ano faz referência justamente à oração. Qual é a mensagem que o tema do Círio deste ano deixa aos fiéis?

R: O Papa Francisco convocou, para o ano de 2025, o Grande Jubileu que vai acontecer em Roma e também em todos os lugares do mundo. E ele pediu que o primeiro ano fosse de estudo dos documentos do Concílio Vaticano II, que foi 2023, e propôs que este ano, 2024, fosse um ano de aprofundamento da oração, então, o nosso livro de peregrinação deste ano tem uma novena toda sobre o Pai Nosso. Por causa disso, nós tomamos consciência de que quem mais ensina a rezar é Maria, que é a orante por excelência. Então, nós tomamos o texto dos Atos dos Apóstolos que fala que “perseveravam na oração com Maria, mãe de Jesus” e, por isso, nós escolhemos para este ano um Círio orante, um Círio que coloque em tônica aprender a rezar, rezar bem, rezar melhor, rezar com Maria e deixar-se conduzir pelo Espírito Santo.

P: O período de preparação que antecede o Círio, com as visitas feitas pela Imagem Peregrina que se estendem para além das fronteiras do Estado, já dá início a esse chamado à oração?

R: Eu penso que o Círio tem o antes, o durante e o depois. A preparação do Círio é feita especialmente através das peregrinações, mas também por aquilo que se tornou tradição em nossa cidade, em nossa Arquidiocese, que é esta visita da Imagem a várias paróquias e situações diversas. Depois, nós temos o núcleo do Círio, viver o Círio, é o hoje. Depois, quando começa a quinzena, eu chamaria de um depois, mas que está dentro também porque são os frutos do Círio. São as confissões, as pregações, a mudança de vida, a conversão e, é claro, cada ano nós sentimos que a Igreja cresce mais na sua presença, na sua atuação interna, dentro da própria igreja, e também na sociedade.

P: A gente percebe um crescimento na própria presença do público no Círio, que a cada ano é maior e, ainda assim, a gente vê que a procissão transcorre sem grandes problemas. O sr atribui isso ao propósito maior que leva as pessoas ao Círio, que é a devoção a Nossa Senhora?

R: Eu digo que o Círio é um milagre. Se eu encarregasse qualquer empresa de eventos de preparar um acontecimento desse porte, acho que ninguém aceitaria. E eu não tenho notícia de qualquer coisa grave durante o Ciro, pensando especialmente no sábado à noite, na Trasladação, e no Círio propriamente, no domingo. Não tem notícia de uma coisa grave que tenha ocorrido. Nós nos prevenimos, são 27 mil voluntários que trabalham no Círio e tem todo o pessoal que acolhe, que cuida da questão da saúde, e é impressionante porque as pessoas não vão ali para concorrer, para brigar, mas todos têm a causa comum. Então, não é, por exemplo, como acontece no esporte. Ali todo mundo joga no mesmo time, que é o time da fé e da homenagem a Nossa Senhora.

P: E essa grandiosidade do Círio também é traduzida nas procissões que ao longo dos anos foram sendo incorporadas e hoje chegam a 14. Há perspectiva de inclusão de novas procissões nos próximos anos?

R: Espero que não incluam mais porque não tem nem tempo e nem espaço para fazer mais. Nós começamos a Procissão da Acessibilidade [a última procissão a ser incluída na Programação Oficial do Círio, sendo a primeira realizada em 2023] e há poucos dias uma criança autista mandou um recado para mim dizendo que queria saber se eu iria na procissão deles e que se eu não fosse, ele não iria. É claro que eu vou, não é? Mas eu contei essa história apenas para dizer da alegria que aquela primeira vez que fizemos a Procissão da Acessibilidade provocou. Você vê não só as crianças autistas, mas também pessoas em cadeiras de rodas, que vão para a Procissão da Acessibilidade.

P: Esse ano nós chegamos ao Círio com a notícia da construção do novo Santuário de Nazaré. O que vem sendo pensado para mais esse espaço de devoção à Nossa Senhora de Nazaré?

R: O projeto está pronto. É um grande Santuário, depois espaços de acolhida, espaços de estacionamento, administração, tudo que é necessário para um grande espaço de acolhida. O nosso desejo seria que nós estivéssemos com Maria durante todo o ano, mas também temos uma outra questão que é que, durante o Círio, os espaços que temos já não são suficientes, de forma alguma, para acolher a quantidade de gente que vem. Então, nós precisamos estar atentos a isso e ter um espaço grande de eventos e também como acontece em outras celebrações da Arquidiocese. Em Lourdes, na França, tem a basílica grande, depois tem uma basílica subterrânea onde se faz grandes celebrações e depois fizeram um espaço do outro lado do rio, em frente ao lugar da aparição, que é uma basílica desse jeito. É um espaço feito para acolher multidões, então, é a partir dessa ideia que nós vamos construir essa nova Basílica.

P: Que mensagem o sr pode deixar aos fiéis que irão tomar as ruas de Belém neste domingo?

R: Primeiro, dizer que todos são muito bem-vindos. As pessoas que vêm de todas as partes, de perto ou de longe, são muito bem-vindos no Círio de Nazaré. O Círio é uma festa da Igreja Católica, mas é uma festa da acolhida de todas as manifestações que as pessoas quiserem ter para vir e alegrar-se conosco, chorar conosco, agradecer a Deus, mostrar a devoção a Nossa Senhora. Então, que seja o Círio da oração, que quem venha tenha essa disposição para se colocar em oração. E que Deus abençoe a participação de todos!