Grande Belém

Rua Joaquim Távora remete à origem de Belém

Colonizadores batizaram de Rua do Atalaya a atual Joaquim Távora Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.
Colonizadores batizaram de Rua do Atalaya a atual Joaquim Távora Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

Cintia Magno

A rua estreita que se estende desde a Praça do Carmo até a Igreja de São João Batista guarda a memória de um aspecto importante da história da formação da cidade de Belém, o processo de interiorização para o bairro da Campina, segundo bairro a se formar na capital paraense. Nomeada de travessa Joaquim Távora já no século XX, a via já foi chamada de Rua do Atalaya, nome originário dado pelos próprios colonizadores portugueses.
A importância da antiga Rua do Atalaya para a dinâmica de expansão para o interior do território da cidade de Belém é destacada pelo historiador Diego Pereira Santos. O professor lembra que a via tem início, inclusive, no cruzamento com o que foi a primeira rua da capital paraense, a atual Rua Siqueira Mendes. “Ela tem uma importância dentro dessa dinâmica espacial da cidade, principalmente no sentido dessa interiorização da organização de Belém que foi se projetando a partir do século XVII. Inclusive, ela é uma rua que remete à origem da cidade porque ela tem uma ligação direta com a primeira rua, com a Siqueira Mendes. Então, ela é uma rua que vai pensar essa penetração da cidade em direção à Campina”.
O professor lembra que até o século XVIII a organização e a paisagem de Belém eram muito marcadas pelas instalações religiosas, não à toa, a antiga Rua do Atalaya promove a ligação entre duas importantes construções, a Igreja do Carmo, localizada no que na época era o Largo do Carmo, e a Igreja de São João Batista, no antigo Largo que também recebia o mesmo nome da igreja. Ainda hoje, essa configuração pode ser conferida por qualquer pessoa que transite do início ao fim da via. “Até o século XVIII Belém era uma cidade das igrejas. O próprio Antonio Rocha Penteado, que é um geógrafo que escreveu um livro bem interessante para pensar essa ideia da formação da cidade de Belém, fala sobre isso”, pontua. “Normalmente, se conhecia Belém através do papel que as igrejas tinham”.
Ainda naquele período, as demais construções que compunham o cenário urbano de Belém eram moradias, em sua maioria casas simples. A mudança até que chegasse ao cenário atual de grandes casarões instalados pela via foi se construindo com o passar dos anos e do próprio processo de evolução urbana da cidade. “Eram mais moradias porque esse é o núcleo inicial da cidade, então, se tinham moradias menores, uma paisagem urbana de ruas estreitas, ruas tortuosas, especialmente as travessas”, considera Diego Santos. “Ainda eram poucas as edificações até o século XVII. Era um conjunto onde se tinham as casas que, em grande medida, eram de um só pavimento e algumas delas de taipa, então, se tinha um desenho urbano ainda muito inicial, desenho esse que vai permanecer pelo menos até o século XVIII. A própria população não era muito grande naquele período, era uma população que vivia modestamente, não tinha essa monumentalidade ainda”.
Para além da própria configuração da cidade, o professor considera que é importante analisar a história das ruas também pelo nome que elas remetem. No caso da Rua do Atalaya, a mudança para Travessa Joaquim Távora se deu já no século XX. “Quando a gente pensa a ideia da rua é sempre interessante pensar a partir de duas dimensões: a primeira é a dimensão do nome, que é muito importante”, considera Diego. “Ela só foi nomeada Joaquim Távora no século XX por óbvio, porque o nome a ser homenageado pela rua, a ter essa memória de uma permanência, é de um homem que vai ter uma ligação mais direta com a história a partir do século XX, então, é nesse período que se tem a mudança do nome de Rua do Atalaya para Joaquim Távora”.

Um personagem importante no período republicano

Engenheiro civil, Joaquim do Nascimento Fernandes Távora foi um militar que teve uma atuação importante no período republicano. “Quando a gente fala de uma personalidade que dá nome a alguma rua, é sempre uma forma de pensar o resgate e a permanência de uma memória. Nesse sentido, quando a gente fala da rua Joaquim Távora, a gente remete a essa figura que era o Joaquim do Nascimento Fernandes Távora”, aponta. “Ele foi um personagem importante do período Republicano e participou principalmente do apoio ao Levante do Forte de Copacabana, na época, ainda contra o Governo do Arthur Bernardes. Então, essa rua também vai resgatar a memória dessa personalidade”.
Entre as construções que passaram a fazer parte do cenário da rua ainda no século XX, quando ela já tinha o atual nome de Travessa Joaquim Távora, está uma loja de material de pesca. Gerente da Imbrasil Caça e Pesca, Silviane Serra conta que a loja começou na década de 1970 como um pequeno armarinho montado pelo mineiro José Gonçalves, até hoje proprietário da empresa. “Ele veio de Minas Gerais no seu carro com algumas coisas que ele ia vendendo e assim ele começou a vida aqui até a loja se tornar o que é hoje”, conta. “Quando as embarcações paravam no porto que ainda tinha aqui perto, na Siqueira Mendes, muitos barqueiros paravam aqui para comprar alguma peça, então, tinha muito essa demanda. Até hoje nós atendemos muitos ribeirinhos que chegam de embarcação por essa área da cidade”.

CARACTERÍSTICA

JOAQUIM TÁVORA
Rua estreita e ainda marcada pela presença de casarões antigos que persistem em meio a outras construções mais modernas. Liga o que foram os dois primeiros núcleos da cidade de Belém, o antigo bairro da Cidade, hoje chamado Cidade Velha, e o bairro da Campina, caracterizado pela intensa presença da atividade comercial que começou a se desenvolver na cidade já desde os primeiros períodos de sua formação.