DOAÇÃO

Doação de órgãos: uma decisão que salva vidas

Santa Casa, que é referência no transplante hepático adulto e renal pediátrico, promoveu evento relativo ao Setembro Verde para conscientizar sobre a importância de doar órgãos e de avisar a família sobre esse desejo

Tradição em Belém de distribuir bombons no dia de São Cosme e Damião resiste ao tempo
FOTO: Wagner Almeida
Tradição em Belém de distribuir bombons no dia de São Cosme e Damião resiste ao tempo FOTO: Wagner Almeida

O Dia Nacional da Doação de Órgãos é celebrado em 27 de setembro, uma data destinada a aumentar a conscientização da população acerca da relevância da doação de órgãos e tecidos, além de estimular que pessoas conversem esse assunto com seus familiares e amigos. Para enriquecer essa divulgação, a Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA) organizou uma programação especial em alusão ao Setembro Verde, sendo a mensagem central “Você tem escolha! Seja doador de órgãos e comunique sua família!”.

Referência no transplante hepático adulto e renal pediátrico, a instituição desempenha um papel crucial no fortalecimento das redes de transplantes e na melhoria da qualidade de vida de pacientes e famílias. Nos últimos anos, o número de doações e captações de órgãos e tecidos tem apresentado um crescimento constante na instituição. Esse progresso é resultado da maior visibilidade que o tema ganhou, além das melhorias na infraestrutura e das iniciativas de conscientização, que incluem a capacitação de profissionais e o monitoramento das comissões intra-hospitalares de doação de órgãos e tecidos (CIHDOTTS). Em 2021, contabilizaram-se 223 procedimentos; em 2022, esse número cresceu para 272, e em 2023, alcançou um total de 613. Até julho de 2024, já haviam sido realizados 376 transplantes, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa).

A médica intensivista e coordenadora da CIHDOTT da Santa Casa, Nelma Machado, ressaltou a importância de conscientizar as pessoas sobre a intenção de serem doadoras de órgãos. “Neste instante, nossa intenção é transmitir vida e alegria, abordando um tema que, muitas vezes, causa dor. No entanto, queremos apresentar uma nova perspectiva, destacando as pessoas que já passaram pelo transplante, como está a vida delas hoje e quais mudanças ocorreram. Além disso, pretendemos conectá-las com aqueles que ainda estão na fila, aguardando pelo transplante, para que essa interação possa proporcionar mais esperança a esses pacientes”, esclareceu.

“Quando mencionamos o Setembro Verde, estamos nos referindo à vida. À vida, você entende, à renovação e às oportunidades. Essa é a meta da nossa ação, que representa o desfecho de um conjunto de iniciativas que realizamos na Santa Casa durante todo o ano. No mês de setembro, expandimos nosso alcance e promovemos de fato uma maior reflexão e debate sobre a doação de órgãos, para que as pessoas se sintam aptas a dizer ‘sim’ quando as comissões intra-hospitalares abordarem as famílias, questionando-as sobre a possibilidade de doar o órgão de um paciente que, frequentemente, se encontra em estado crítico na UTI ou em uma emergência da UPA”, explica Nelma Machado.

RELEVÂNCIA

A professora e violinista Rafaele Cordeiro, de 41 anos, encantou todos com sua apresentação, enriquecendo o evento. Mãe de Clarissa Cordeiro, de 6 anos, que aguarda na fila de transplante, ela destacou a relevância dessas iniciativas. “Esses programas são essenciais para educar o público sobre a doação de órgãos, já que há muitas crianças e adultos que precisam. É crucial sensibilizar as pessoas, pois muitas vezes existe um certo preconceito gerado pela falta de informação”, afirmou.

PARA ENTENDER

l O que é a doação de órgãos?

É o ato por meio do qual podem ser doadas partes do corpo, sejam órgãos ou tecidos, para serem utilizados no tratamento de outra pessoa com a finalidade de reestabelecer a função de um órgão ou tecido doente.

De um único doador, é possível obter diversos órgãos e tecidos, incluindo rins, fígado, coração, pulmões, pâncreas, intestino, córneas, valvas cardíacas, pele, ossos e tendões.

A doação de órgãos como rim, parte do fígado, parte do pulmão e medula óssea pode ser feita em vida. Já a doação de órgãos de pessoas falecidas somente ocorre após a confirmação do diagnóstico de morte encefálica ou de uma parada cardiorrespiratória.

Na morte encefálica, pacientes sofreram um acidente que provocou traumatismo craniano, como acidente com carro, moto e quedas, ou sofreram um acidente vascular cerebral (AVC).

l Por que doar órgãos?

Doar órgãos pode salvar vidas em casos de órgãos vitais, como o coração, além de devolver qualidade de vida nos casos em que o órgão transplantado não é vital, como acontece com os rins.

A doação de órgãos prolonga a expectativa de vida de pessoas que precisam de um transplante, permitindo o restabelecimento da saúde e, muitas vezes, até mesmo a retomada de atividades cotidianas.

l O que preciso fazer para ser um doador?

Se você deseja ser um doador de órgãos, avisar aos parentes é o mais importante, já que a lei brasileira exige o consentimento da família para a retirada de órgãos e tecidos para transplante.

Não é necessário deixar a vontade expressa em documentos ou cartórios – basta que sua família atenda ao seu pedido e autorize a doação.

Por isso, comunicar à família que você é um doador de órgãos facilita o processo de transplantes. E se você tem um parente doador, respeite a vontade dele.

l O que é um doador de órgãos vivo e o que ele pode doar?

Um doador vivo é qualquer pessoa juridicamente capaz, atendidos os preceitos legais quanto à chamada doação intervivos, que esteja em condições satisfatórias de saúde e que concorde com a doação, desde que não prejudique sua própria saúde.

O doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, parte do pulmão ou parte da medula óssea. A compatibilidade sanguínea é primordial em todos os casos.

Pela lei, parentes até o quarto grau e cônjuges podem ser doadores em vida. Não parentes, somente com autorização judicial.

Nesse contexto, o doador está sujeito a riscos normais de se submeter a uma cirurgia com anestesia geral. Antes do procedimento, entretanto, são feitos exames a fim de minimizar os riscos.

l O que é um doador de órgãos falecido e o que ele pode doar?

Existem dois tipos de doadores falecidos:

– doador falecido após morte encefálica: paciente cuja morte encefálica foi constatada segundo critérios definidos pela legislação do país e que não tenha sofrido parada cardiorrespiratória.

O doador falecido, nessa condição, pode doar coração, pulmões, fígado, pâncreas, intestino, rins, córnea, vasos, pele, ossos e tendões. A retirada dos órgãos é realizada em centro cirúrgico. Para que o procedimento aconteça, é necessária a manutenção da circulação sanguínea do paciente até o momento da retirada do órgão a ser doado.

– doador por parada cardiorrespiratória: paciente cuja morte foi constatada por critérios cardiorrespiratórios (coração parado). O doador falecido, nessa condição, pode doar apenas tecidos para transplante, incluindo córnea, vasos, pele, ossos e tendões.

Em ambos os casos, a doação só acontece mediante autorização da família.

l Quem não pode ser um doador de órgãos?

Não existe restrição absoluta para a doação de órgãos. Entretanto, o ato pressupõe alguns critérios mínimos como o conhecimento da causa da morte e a ausência de doenças infecciosas ativas, dentre outros.

Também não poderão ser doadoras pessoas que não possuem documentação ou menores de 18 anos sem a autorização dos responsáveis.

Fonte: Ministério da Saúde