Pará

Manual de boas maneiras para o Amigo Secreto 

Marcelo Pinheiro, comunicólogo, professor de etiqueta e imagem pública.  Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.
Marcelo Pinheiro, comunicólogo, professor de etiqueta e imagem pública. Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

Luiz Octávio Lucas

Se dezembro é o mês das comemorações, também se pode dizer que é o das decepções para muita gente que participa do tradicional “amigo secreto”, também conhecido por “amigo oculto” ou “amigo invisível”. A dinâmica da brincadeira, todo mundo sabe, mas não custa recordar: se sorteia em um grupo de participantes o nome de quem se vai presentear, se define o valor mínimo do presente e a revelação de quem ganhou o mimo é feita geralmente na noite de Natal ou em algum dia de confraternização com a troca das lembranças.

Contudo, as regras nem sempre são seguidas por todos os participantes da brincadeira e é aí que começam os problemas. Daquele amigo que simplesmente falta no dia e não manda o presente até o “sem noção” que dá um presente de valor bem inferior ao que foi definido ou mesmo escolhe um objeto que não tem nada a ver com o sorteado, acontece de um tudo para criar aquele climão que em nada combina com o Natal.

Foi justamente isso que aconteceu com a vendedora Silvia Guerreiro, 35 anos. “Eu era adolescente e fazia parte de um grupo de jovens da igreja. Fizemos um amigo invisível e, na hora de ganhar um presente, um rapaz que me tirou. Quando abri o presente era uma agenda. Quem é que gosta de ganhar uma agenda? Passou uns dias, fui ver ela com calma e faltavam algumas páginas dela, tipo não tinha o dia 5 de janeiro. Ele arrancou, como se ela já estivesse sido usada”, recorda aos risos. “Nessa ocasião eu tirei uma amiga e dei pra ela  uma Bíblia”, cita. Apesar do trauma, a contemplada pelo presente de grego garante que gosta de participar de amigos secretos e nunca mais passou por esse tipo de constrangimento.

Outro que tem péssimas recordações de um amigo oculto é o gastrólogo Luiz Felipe, 27 anos. “Eu tinha um grupo de amigos, não era a primeira vez que fazíamos um amigo invisível, então decidimos fazer uma troca de presentes que seria só com produtos de um sex shop”, conta. “Eu tirei uma amiga e comprei pra ela um vibrador. Chegou na minha vez, ganhei um monte de brinquedinho de papel e um gel que não servia para nada, aí fiquei com aquela cara de parabéns e gol contra”, ironiza.

COMO NÃO ERRAR

Se neste Natal você tem agendado um presente para dar de amigo invisível e não quer correr o risco de desagradar a pessoa sorteada ou não quer ser o contemplado por escolhas de mimos que não vão te agradar, o melhor é seguir as orientações do professor de etiqueta e imagem pública Marcelo Pinheiro, que também é comunicólogo e tenta explicar por que tantas pessoas se frustram com a brincadeira do amigo secreto.

“Porque esquecem exatamente a palavra que você citou: brincadeira. A troca de presentes, popularmente chamada de amigo secreto, amigo invisível, amigo oculto, é uma brincadeira, uma atividade coletiva de interação e congraçamento. Se não observar este princípio, a frustração pode te sortear neste momento”, considera.

 

BUSQUE CONHECER O SORTEADO

Segundo o professor de etiqueta, para não errar na escolha do presente, o primeiro passo é obter informações antecipadas da pessoa que vai ganhá-lo. “As brincadeiras estão tão evoluídas que já vejo até lista de sugestões de presentes. Um amigo em comum pode ajudar também com informações prévias. Se nenhuma das opções estiver ao seu alcance, o segredo é buscar algo utilitário, para a maioria das pessoas, sem conotação íntima”, indica.

O QUE NÃO PRESENTEAR

Mas afinal, que tipos de presentes se deve evitar? Por quê? “Os presentes íntimos e de uso reservadamente pessoal. Por ser uma ação pública e coletiva, tudo o que possa constranger deve ser evitado. Não esquecer que a amiga é oculta somente até a brincadeira começar é fundamental, porque tão logo descoberta, ela também é namorada, esposa, mãe, avó, tia, madrinha e junto a esses papéis todos tem uma postura e conduta que devem ser respeitadas”, ressalta.

MÃOS ABANANDO

Marcelo ilustra ainda como se deve agir em caso de dar um presente e não receber outro em troca. “Naturalmente. Aliás, é a hora perfeita para colocar na roda o espírito natalino e demonstrar desapego a esses detalhes. Postura de compreensão é fundamental”, sugere ele, que também não escapou de se frustrar em um desses amigos. “Lembro de uma vez que fui um dos que não ganhei presente e imediatamente pedi a pessoa, após a justificativa formalizada na frente de todo mundo, que ela me dedicasse palavras do coração dela. Foi um momento muito especial”, pontua.

 

PRESENTE INFERIOR

Outra situação que comumente acontece é ganhar algo inferior ao valor combinado ou mesmo que não lhe agrade, ou por gosto pessoal ou por que não deu o tamanho etc. Mas, segundo o especialista, o problema nesse caso já começa na definição das regras. “Combinar preço de presente já não é das melhores práticas, afinal já se demonstra o espírito comercial da brincadeira e, até onde se saiba, ninguém leva nota fiscal para comprovar preço”, ressalta. “Mas, se mesmo assim sua roda se apegar no aspecto monetário e você receber algo visivelmente inferior, agradece. Pior é o colega da pergunta anterior que nem presente ganhou”, brinca.

 

O PRESENTE IDEAL

Se você não quer passar vergonha e, ao contrário, busca impressionar os participantes e mostrar que tem bom gosto, Marcelo Pinheiro dá sugestões de presentes adequados e bem difíceis de não agradarem a maioria. “São aqueles presentes que se apresentam melhor embalados. Observa que quem chega com as melhores caixas, especialmente decoradas, já cria um clima de disputa sem mesmo ser conhecido o conteúdo. Primeira impressão é tudo, no presente inclusive. As sacolas de loja famosas também agradam bastante”, admite.

“O importante é ter consciência que a troca de presentes envolve expectativa, principalmente de quem recebe. Já vi muito presente ótimo ser odiado e objetos aparentemente simplistas serem sucesso de público e crítica. De todo modo, chocolates finos sempre arrancam suspiros. Panetones finos são utilitários, até pra passar adiante, bebidas finas podem reforçar a ceia de Natal e objetos sofisticados para sala e escritório sempre são úteis”.

PRESENTES CAROS

Se no seu grupo de amigos foi definida uma cota mínima para o presente, fique à vontade para dar um objeto no valor acordado ou até acima, mas sem parecer soberbo. “Vai do coração e impressão de quem vai apostar no presentão. Se o sentimento de generosidade bater, vai em frente. Apenas cuidado para não criar um constrangimento perante os demais participantes e parecer um deslumbrado de dezembro sem controle do décimo terceiro”, avisa o professor.

NÃO GOSTO DO SORTEADO

Na conversa franca com Marcelo Pinheiro, ele ainda elucida outra dúvida comum nessa época: tem gente que tira determinado nome e por não se dar bem com a pessoa pede pra trocar de sorteado. Isso é correto? “Não vejo problema, desde que a troca seja em reservado e que seja mantido o sigilo. Não dá pra bancar a criança abrindo presente de aniversário na frente  de todos exclamando ‘Ah! Quero trocar!’, ou ‘Não gostei de quem tirei’ ou coisas do tipo. Por vezes, a troca é indispensável para manter a harmonia do grupo”, considera.

OPÇÃO VIÁVEL

E isso vale para pessoas com quem não se tem tanta intimidade. “É amigo secreto, e não conhecido secreto. Convivência e conhecimento é requisito para o funcionamento da brincadeira. Em se tratando de grupos de pouca intimidade, aposta num sorteio, onde todos levam presentes a serem colocados na árvore, numerados e sorteados na hora, podendo ser abertos antes ou não. A procura pelo número em torno da árvore e a apresentação do presente já garante a animação, estimulando o desejo de ganhar, até maior que o amigo oculto”, completa.

CONFIRA OITO DICAS PARA A BRINCADEIRA DAR CERTO

  1. Colocar os pets no sorteio não cabe. “Lembro-me de um ano em que sortearam o “Rodolfo” e na hora se descobriu que era o pet da dona da casa…. Imagina a confusão quando abriram a camisa de Natal na caixa?”
  2.  Amigo oculto não é saudável para crianças, a menos que seja uma rodada somente delas.
  3.  Informar o horário em que a troca acontecerá é necessário, as pessoas costumam circular em muitos ambientes durante o Natal. Isso evita esperar por alguém ou iniciar sem o conhecimento dos envolvidos.
  4.  Aquela cena de várias caixas, uma dentro da outra, já deu né?!
  5. Atenção para a descrição das características do amigo oculto. Isso pode render muita confusão. Quando pensar em dizer algo sobre alguém, pense no que você sentiria ao ouvir certas singularidades. É tão bonito ouvir quando se aposta em qualidades que você julga ter seu amigo.
  6. Se o amigo é secreto, foca nisso. E deixa aquela história de amigo invertido, amigo da onça etc pra lá, é demodeè constranger.
  7. Faça acompanhar um cartão ao seu amigo sorteado, é um gesto bem notado.
  8.  Se quiser roubar a cena, servindo de exemplo, leva um presente pra quem se dispôs a organizar tudo isso e um cartão bem grande pra que todos assinem quando a brincadeira acabar. Você será lembrado mais que os presentes que vão circular no salão

Fonte: Marcelo Pinheiro, comunicólogo, professor de etiqueta e imagem pública.