Pryscila Soares
Nas praças, feiras e até nas vias mais movimentadas da capital paraense é comum observar a presença de pessoas em situação de rua. Muitas vezes, esses espaços são utilizados como abrigos improvisados.
Com a pandemia da Covid-19, houve um crescimento de 38% dessa população no Brasil, entre os anos de 2019 e 2022, de acordo com um levantamento preliminar divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Os dados da “Estimativa da População em Situação de Rua no Brasil (2012-2022)” demonstram os impactos da pandemia nesse segmento populacional.
Neste período, foi alcançado o quantitativo de 281.472 pessoas em situação de rua no país. Segundo o Ipea, o estudo é inédito e será detalhado posteriormente em nota técnica. A estimativa apontou ainda que, em uma década, de 2012 a 2022, o aumento desse segmento da população foi de 211%, sendo significativamente superior ao crescimento vegetativo da população brasileira na última década, que foi de apenas 11% entre 2011 e 2021, na comparação com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com matéria divulgada no site do Ipea, na primeira estimativa nacional, feita em 2015, foram utilizados dados oficiais informados por 1.924 prefeituras. Com o início da pandemia, a estimativa foi atualizada até março de 2020, quando 1.940 municípios tinham 124.047 pessoas em situação de rua. Em 2021, 1.998 municípios reuniram 181.885 nessa situação.
E para a estimativa atual, o autor do estudo que analisou a evolução no quantitativo de pessoas em situação de rua até 2022 e pesquisador do Instituto, Marco Antônio Carvalho Natalino, também recorreu a dados oficiais informados por administrações municipais, além de dados do Censo Suas (2021), que monitora o Sistema Único de Assistência Social; assim como o último dado disponível do Cadastro Único (CadÚnico), de julho de 2022, e de um conjunto de variáveis socioeconômicas como taxas municipais de pobreza e de urbanização.
Nas ruas de Belém, a população também percebe essa elevação no número de pessoas em situação de rua. Dentre os pontos de concentração está a Praça Waldemar Henrique, no bairro do Reduto. Um palco e até monumentos da praça servem de abrigo. Outro ponto é a avenida Presidente Vargas. As pessoas costumam dormir nas calçadas dos estabelecimentos comerciais e órgãos públicos, a exemplo da sede dos Correios.
Um trabalhador autônomo que atua na área e preferiu não ser identificado acompanha há muitos anos a ocupação desses espaços pelas pessoas em situação de rua. Segundo ele, a presença delas acaba inibindo a circulação de populares pelo local, em determinados momentos.
“Tem tempo que tem muita gente aqui (em frente aos Correios). Às vezes as pessoas não passam por aqui quando eles estão. De 11h30 para 12h até umas 14h fica cheio, dos Correios até a Americanas. As pessoas andam depressa. E aqui ficam mulheres com crianças pequenas. Tem gente de todo tipo. Tem alguns que roubam. Eu tenho que ficar de olho (nas mercadorias), senão eles roubam”, disse.
Atuando há 38 anos em um ponto de táxi na Praça da República, o taxista Itamar Lopes, 67 anos, também notou esse aumento da população de rua não só ao longo daquela avenida, mas em diversos pontos da cidade. “Percebi que aumentou o número de pessoas nas ruas. E ontem (anteontem) à noite cheguei aqui e tinham oito pessoas deitadas na cabine do nosso ponto. Expliquei que não é um local público e pedi para elas higienizarem a área, que estava muito feio”, informou.