Dr. Responde

Diabetes Tipo 1 - Acúmulo de glicose no sangue

Diabetes Tipo 1 - Acúmulo de glicose no sangue

Cintia Magno

Do total de pessoas que possuem diabetes, cerca de 5% a 10% são acometidas pelo Diabetes Tipo 1, doença que é desencadeada pelo ataque do próprio sistema imunológico às células beta, fazendo com que pouca insulina seja liberada para o corpo e acumulando glicose no sangue.

O fato de ser causada por uma agressão do próprio corpo contra um órgão saudável, no caso o pâncreas, é justamente o que caracteriza o Diabetes Tipo 1 como uma doença autoimune. O médico endocrinologista, Enzo Oliveira, explica como se dá a doença. “Recordemos que, ao termos imunidade contra um vírus, de uma forma benéfica, desenvolvemos anticorpos, como por exemplo, o anticorpo contra hepatite B. No caso do Diabetes Tipo 1, o autoanticorpo agride alguma substância que ajudaria a produzir insulina. A falta desse hormônio leva aos sinais e sintomas da doença”.

O médico explica, ainda, que a insulina é um hormônio que visa a manutenção de estoques de energia: glicose, proteínas (massa magra) e gordura (tecido adiposo). Dessa forma, a deficiência de insulina leva à perda desses estoques, com uma profunda perda de peso não intencional, mesmo com apetite mantido ou até mesmo aumentado. “Ao não conseguir metabolizar glicose para os órgãos, esta se eleva consideravelmente na corrente sanguínea. Isto leva os rins a tentarem expulsar esse excesso de glicose, levando a aumento da frequência e quantidade urinária (poliúria) e consequentemente muita sede (polidipsia). Estes são os sintomas clássicos de um Diabetes Tipo 1: poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso não-intencional”.

Tratamento é feito com insulina 

Sendo mais frequente em crianças e adolescentes, o Diabetes Tipo 1 também pode ser diagnosticado em pessoas que possuem também outras doenças autoimunes. “Os mais acometidos são aqueles que têm outra doença autoimune, como hipotireoidismo autoimune – Tireoidite de Hashimoto, hipertireoidismo autoimune – Doença de Graves, psoríase, vitiligo, artrite reumatóide, dentre outras”, considera o médico endocrinologista Enzo Oliveira. “Quando em acompanhamento de outra doença autoimune, se flagra glicemia elevada, mas ainda sem sintomas da deficiência de insulina, podemos diagnosticar um Diabetes Autoimune Latente (sua sigla em inglês é LADA). O LADA leva a uma necessidade de tratamento de maneira bem mais lenta, com evidências iniciais de que reposição de vitamina D possa retardar a progressão, mas ainda não evitando a necessidade de tratamento com insulina”.

Como é caracterizada por deficiência de insulina, o tratamento do Diabetes Tipo 1 é realizado com insulina subcutânea, tentando mimetizar o funcionamento de um pâncreas normal.

Ação no organismo 

Como o Diabetes Tipo 1 age 

Diferente do Diabetes tipo 2, que ocorre quando o organismo não consegue usar adequadamente a insulina que produz ou produz insulina insuficiente para controlar a glicose, o Diabetes tipo 1 ocorre quando o próprio sistema imunológico ataca as células produtoras de insulina, destruindo-as. Para compreender como o tipo 1, autoimune, afeta o paciente, é preciso entender como funciona o organismo em relação ao controle da glicemia.

A endocrinologista pediátrica e coordenadora do departamento de DM1 na criança e adolescente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), dra. Monica Gabbay, explica que o Diabetes Tipo 1 é caracterizado como autoimune porque se identifica anticorpos contra a proteína do pâncreas. “Dentro do pâncreas a gente tem uma célula beta, que produz insulina, e o organismo passa a atacar proteínas que existem dentro dessa célula. Então, quando a gente detecta anticorpos contra a célula beta, a gente caracteriza que é um Diabetes Tipo 1”, explica.

“Esse diabetes autoimune vai atacando essa célula beta ao longo de um período e, quando há o diagnóstico, que o paciente está urinando muito, bebendo muita água, perdendo peso, e a glicemia se altera, já houve uma destruição importante do número de células beta. Quanto menor a criança, maior a destruição das células, então, a criança pequena acaba tendo um quadro mais agressivo do que um adulto, por exemplo”.

 

“Esse diabetes autoimune vai atacando essa célula beta ao longo de um período e, quando há o diagnóstico, que o paciente está urinando muito, bebendo muita água, perdendo peso, e a glicemia se altera, já houve uma destruição importante do número de células beta”

Monica Gabbay, médica endocrinologista pediatra

Carência de energia e mal-estar são sinais 

Os primeiros sintomas do Diabetes Tipo 1 são relacionados ao excesso de glicose que acaba se formando no organismo da pessoa com esse diagnóstico. “Se há uma destruição da célula beta, o organismo não consegue produzir insulina de maneira adequada e a insulina tem um papel praticamente de um ‘caminhão’. Ela vai até o sangue, retira a glicose e passa para dentro da célula”, compara a endocrinologista Mônica Gabbay. “Todos os alimentos que a gente come vão para o intestino e, de lá, são absorvidos para a corrente sanguínea na forma de glicose, que é a maneira de obter energia para entrar na célula e ela funcionar, para as pessoas fazerem suas atividades físicas, para pensar etc”.

Dessa forma, a insulina tem esse papel de transportar, de pegar a glicose e levar para dentro da célula. “A glicose chega na porta da célula e precisa entrar nela, mas se não tiver a insulina para abrir essa porta, a glicose não consegue entrar na célula e a célula fica carente de energia. Por essa razão, as pessoas têm a sensação de fraqueza, mal-estar e perda de peso, porque a célula não está nutrida apesar do excesso de açúcar no sangue”, relaciona a dra. Monica Gabbay. “Na tentativa de eliminar esse excesso de açúcar no sangue, o organismo começa a jogar fora a glicose pela urina. Isso força a diurese, a pessoa passa a urinar mais e, ao urinar mais, sente mais sede. Então, a pessoa faz muito xixi, bebe muita água e perde peso. À medida que esse quadro caminha, pode haver sintomas maiores, como dor abdominal”.

PARA ENTENDER

DIABETES TIPO 1

Como ela se manifesta?

*Em algumas pessoas, o sistema imunológico ataca equivocadamente as células beta. Logo, pouca ou nenhuma insulina é liberada para o corpo.

*Como consequência, a glicose fica em excesso no sangue, em vez de ser usada como energia.

*Esse é o processo que caracteriza o Tipo 1 de diabetes, que concentra entre 5 e 10% do total de pessoas com a doença.

Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).