Grande Belém

Mercadinhos de bairro entram na era digital

Mercadinhos de bairro entram na era digital

Cintia Magno

Acelerado pela pandemia e pelos novos hábitos que surgiram a partir dela, o uso da tecnologia pelos pequenos comércios de bairro tem sinalizado uma nova perspectiva para o segmento, tornando-o mais competitivo. Uma pesquisa realizada pela gestora global de venture capital Flourish Ventures, nomeada ‘Digitalizando o Pequeno Varejo 2022’, aponta que 65% dos lojistas brasileiros já usam aplicativos de mensagens para se comunicar com consumidores ou fornecedores, sendo que 46% dos consumidores costumam frequentar mercadinhos de bairro diariamente e 92% planejam manter ou aumentar as compras em mercearias.

Considerando que as mercearias ou comércios de esquina são vitais para a economia local, relevância indicada, inclusive, por 91% dos clientes entrevistados, a pesquisa revela a influência da pandemia da Covid-19 na maior digitalização dos processos de venda nesse tipo de comércio, no Brasil. De acordo com o levantamento, 22% dos lojistas começaram a usar novas ferramentas de negócios digitais durante esse período.

Carlos Azevedo. Foto: Mauro Ângelo.

Com 29 anos de tradição no bairro de São Brás, em Belém, o mercadinho e açougue mantido pelo comerciante Carlos Lins, 62 anos, e seus familiares, foi um dos que precisaram enfrentar todos os desafios impostos pela pandemia. O pequeno comércio não hesitou em aderir às ferramentas digitais disponíveis. “Ao longo desses 29 anos, a maneira de vender para o cliente foi facilitando muito. Devido ao próprio cartão de crédito e o PIX, hoje o dinheiro vivo circula muito pouco”, considera. “Durante a pandemia nós continuamos trabalhando e as vendas na loja diminuíram bastante, aí foi o delivery que cresceu muito”.

Mesmo com as atividades presenciais liberadas e a pandemia controlada, Carlos lembra que ainda hoje uma quantidade considerável de clientes mantém as compras remotamente. O contato é feito via WhatsApp e as compras são levadas diretamente na casa do comprador. “Esses aplicativos são uma boa forma de vender. Acabou o lockdown, mas ainda tem cliente que prefere o delivery, então, foi uma coisa que ficou”, considera o comerciante. “O PIX foi outra coisa que facilitou muito porque você não perde venda. Se o cliente quiser passar R$1 no PIX ele pode, não tem problema”.

 

Apesar de manter negócios baseado em produtos sortidos nos bairros, os mercadinhos se adequaram na forma de pagamento. Fotos: Mauro Ângelo

Cliente do mercadinho, o administrador Carlos Sá, 60 anos, também vê vantagens na compra em comércios de bairro. Além da proximidade, ele cita a conveniência de encontrar mais rapidamente um item que ficou faltando. “Eles ficam em um ponto estratégico e é um local que tem de tudo e a preços razoáveis. Você encontra desde o ovo, o pão, água”, considera. “E essas novas formas de pagamento, como o PIX, também contribuem com essa conveniência, sem falar no serviço de entrega”.

Ainda no bairro de São Brás, no histórico Mercado que leva o nome do bairro, o comerciante Evandro Amaro, 64 anos, viu as vendas aumentarem depois que passou a adotar essas novas ferramentas de pagamento. Ele aponta que a demanda parte dos próprios clientes. “Esse comércio está aqui desde 1950. Começou com a avó, passou para o pai e agora está no neto. Para se manter esses anos todos, não tem jeito, tem que acompanhar essas evoluções”, considera. “Hoje, a maior parte das vendas é pelo PIX, o que é muito bom porque eu vendo e já ganho”.

 

Evandro Amaro. Foto: Mauro Ângelo.

O PIX também agrega uma parcela considerável das vendas realizadas no mercadinho do comerciante Carlos Azevedo, 58 anos, localizado no bairro da Marambaia. Na profissão há 12 anos, ele também considera as mudanças ocorridas nas formas de comercialização, mas conta que optou por combinar o tradicional e as novas tecnologias. “Antes era balcão, tinha aquelas vendas por fração. Mas é uma necessidade aceitar essas mudanças. Eu não queria colocar o PIX no início porque eu tinha receio, mas pela necessidade eu tive que fazer e deu certo. Hoje já acostumei”, considera. “Hoje, a maioria das vendas é no cartão e no PIX, mas eu ainda tenho o tradicional caderno de fiado para aqueles clientes antigos”.

A variedade de formas de pagamento oferecidas, hoje, pelos mercadinhos é uma facilidade a mais destacada pela professora Suziane Ramos, 28 anos. “Eu compro bastante no mercadinho por ser perto de casa e até mesmo porque, às vezes, a gente encontra um valor mais acessível do que no próprio supermercado”, avalia.

SEBRAE

A percepção de que o PIX ocupou a preferência entre as formas de pagamento disponíveis não é uma realidade apenas no mercadinho do comerciante Carlos Azevedo. Uma pesquisa inédita realizada pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que o PIX é a principal forma de recebimento de pagamentos para 42% dos empreendedores de pequenos negócios, ficando à frente dos pagamentos em dinheiro e por cartão de crédito ou débito.

No caso do Microempreendedor Individual (MEI), 51% afirmam que o PIX é o principal meio de pagamento utilizado, já entre as micro e pequenas empresas, a ferramenta é o principal meio de pagamento para 28% dos entrevistados e para as pequenas empresas o percentual chega a 42%. Em todas as modalidades, o PIX ocupa o primeiro lugar entre as principais formas de pagamento utilizadas pelos clientes.