Reportagem da Agência Pública de jornalismo investigativo publicada esta semana sobre políticos bolsonaristas que pagaram para impulsionar denúncias falsas sobre o Marajó cita o deputado estadual Neil Duarte, do Partido Liberal, conhecido como “Coronel Neil”, dentre os que patrocinaram desinformação sobre um suposto esquema de exploração infantil e campanhas de arrecadação para entidades religiosas nas últimas semanas.
De acordo com levantamento da Pública, Neil está em um grupo de pelo menos seis políticos que investiram até R$ 100 para alavancar esses conteúdos: os deputados federais Luciano Galego (PL), do Maranhão, e Maurício Neves (PP), de São Paulo, a vereadora de Navegantes (SC) Lú Bittencourt (PL), os vereadores de São Paulo Reinaldo Digilio (PRB) e Lucas Ferreira (sem partido).
Ao todo, as publicações renderam quase 80 mil impressões, que é a quantidade de vezes que o anúncio apareceu para usuários do Facebook e Instagram. Porém, a postagem que mais teve impressões foi a de Neil Duarte. A propaganda circulou de 24 a 26 de fevereiro, rendendo aproximadamente 10 mil impressões. De acordo com uma pesquisa do NetLab/UFRJ, o deputado estadual também impulsionou anúncios para convocar caravanas para ato pró-Bolsonaro na avenida Paulista no dia 25 de fevereiro.
Na publicação sobre o Marajó, o “Coronel Neil” aproveita a apresentação da cantora gospel para falar da sua atuação na região. O vídeo usa várias fotos dele ao lado da senadora e ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves.
SEM PROJETO
No entanto, o “interesse” de Neil na região é, na verdade, absolutamente novo quando o assunto é sua trajetória política. No meio de seu segundo mandato de deputado estadual – o primeiro foi pelo PSD, entre 2015 e 2019, não tendo sido reeleito no pleito de 2018 -, até então o deputado nunca apresentou, que conste nos registros da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa), um projeto de lei, uma moção, requerimento ou qualquer proposição voltada a nenhum dos 16 municípios que compõem o arquipélago para o que quer que fosse.
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Nos 463 registros que aparecem quando se faz uma busca no portal do legislativo paraense por proposições apresentadas pelo “Coronel Neil” desde 2015, os resultados são quase sempre voltados ou a atender demandas de agentes da segurança pública, entre algumas muitas solicitações para bairros periféricos de Belém. A ordem de prioridades do parlamentar chama a atenção, visto que há, por exemplo, solicitações para realização de sessão especial, em 2023, para comemorar o 150º aniversário do patrono da aviação, Santos Dumont, e em 2016, para o aniversário do Conselho de Jovens Empresários de Ananindeua.
A reportagem buscou a assessoria do deputado estadual para saber se ele tinha alguma proposta relacionada ao Marajó apresentada e/ou aprovada ao longo de um mandato e meio, mas não obteve qualquer resposta.
AGU INVESTIGA
O Observatório do Marajó, uma ONG dedicada à observação de políticas públicas na ilha paraense, emitiu um alerta sobre a “propaganda” que associa o local à exploração sexual de crianças.
A entidade batizou o texto de “Não acredite em tudo que vês na internet”, depois de o Marajó emergir em novos ataques nas redes sociais baseados na música gospel compartilhada por Damares, que viralizou nas redes sociais entre os aliados da ex-ministra.
