Pryscila Soares
A importância da brincadeira e do contato com os brinquedos é muito discutida por diversos especialistas quando o assunto é o desenvolvimento infantil. Pensando não somente em resguardar as memórias e a materialidade dos brinquedos antigos, como também manter vivo todo esse universo lúdico, há quase 15 anos o escritor e colecionador Tony Cruz, 42, resolveu criar o Museu dos Brinquedos Antigos.
Trata-se de uma iniciativa pioneira na região Norte, um título que, para Tony, é motivo de orgulho e se traduz no reconhecimento de todo o esforço empregado nesse trabalho. Atualmente, o Museu funciona na casa onde Tony mora com familiares, no bairro do Coqueiro, em Belém.
Ele lembra que estava participando de uma edição da Feira do Livro, em 2009, quando teve a ideia de dar início à coleção, que hoje é composta por cerca de 5 mil peças. Os brinquedos mais antigos da coleção são dois carrinhos de lata do ano de 1940. No acervo há, por exemplo, o Forte Apache, que remonta um cenário de batalha entre índios e americanos, um brinquedo da década de 1970, dos Estados Unidos.
Além dele, existem brinquedos famosos como o boneco Baby, da série “Família Dinossauro”, da década de 90. Há também o Fofão, da década de 1980, e a primeira boneca Mônica, lançada na década de 1970. Outro item, que virou febre entre crianças e adultos amantes da animação Toy Story, é o Xerife Woody, lançado pela primeira vez na década de 90. Também há brinquedos atuais e mais modernos no acervo.
RECONHECIMENTO
Tornar este sonho em realidade implicou em inúmeras renúncias para o colecionador e na busca por conhecimento não apenas sobre a origem das peças, como a respeito da forma correta de manter o espaço. A primeira delas foi utilizar uma reserva, que seria para a compra de uma casa, para começar a montar o Museu. Foi com o recurso que Tony comprou boa parte dos brinquedos. Ao longo deste período, a maior parte da coleção foi adquirida com recursos próprios e uma parte menor foi fruto de doações. Entre elas está uma doação de sete brinquedos feita pela famosa marca de brinquedos Estrela.
“Não comprei a casa. Escrevi o projeto, que passou por uma professora de português, fui num cartório, reconheci e levei o projeto para casa. Hoje o acervo tem 5.100 peças”, pontua.
Além do Museu, Tony atua como auxiliar de escritório, além de prestar serviços de restauro de brinquedos e outros tipos de peças. É com a própria renda que ele mantém o espaço, toda a conservação e manutenção dos itens. É ele mesmo quem faz a limpeza e a organização das peças, uma vez por semana, seguindo os protocolos preconizados por museus.
“O trabalho ficou sério e, em 2014, a gente recebeu da Estrela uma premiação internacional. Quem me procurou foi o Bruno, um dos diretores de marketing geral da Estrela. Ele me mandou um e-mail perguntando de onde eu era. Expliquei que era de Belém e ele falou ‘meu irmão, a sua história é muito bonita. Tu foi um cara audacioso’. O prêmio chegou para a gente”, explica.
A iniciativa ganhou repercussão nacional e internacional. Com isso, inúmeros convites para expor o projeto foram surgindo. Por questões financeiras, Tony ainda não conseguiu levar o projeto para fora do país. Mas costuma participar de exposições em eventos, escolas, inclusive em Fortaleza (CE). E está aberto a convites.
“As pessoas que curtem querem ter esse contato. Hoje a gente orienta turmas de TCC com temas sobre brinquedos e brincadeiras. O grande objetivo hoje é que as pessoas venham conhecer e reviver o brincar, ter essa nostalgia. Eu vivi aquilo de abrir o brinquedo, ter o imaginário e brincar”, afirma.
Em agosto deste ano o Museu completará 15 anos de história e o maior sonho de Tony é ver o espaço se tornar um museu público para reunir diversos tipos de colecionadores, para que todas as pessoas que desejem possam visitar e conhecer esse universo lúdico. Para isso, ele necessita de incentivo.
“Ia nas lojas e perguntava se tinha estoque de brinquedos. Eu comprei todos os brinquedos antigos de Belém. Comprava e guardava. Um certo dia começaram os convites para expor e palestras. As marcas já nos procuram, até para relançar brinquedos que tenho aqui. Espero que isso aqui fique, porque é cultura, é arte. Espero que um dia esse espaço ocupe uma casa antiga no centro de Belém, onde a gente possa oferecer conhecimento, cultura e as peças num espaço adequado”, declara.