Grande Belém

Icoaraci, um distrito que abre muitos sorrisos

A orla sempre movimentada e o artesanato são características de Icoaraci, distrito de Belém, que tem 154 anos de história, Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.
A orla sempre movimentada e o artesanato são características de Icoaraci, distrito de Belém, que tem 154 anos de história, Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

Diego Monteiro

A orla sempre movimentada e o artesanato são características de Icoaraci, distrito de Belém, que tem 154 anos de história, além de mais de 167 mil habitantes, segundo estimado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Eliane Ferro, professora de 32 anos, natural de Macapá, estado vizinho do Amapá, está em sua segunda visita a Icoaraci, acompanhada da mãe, Maria Ferro, de 73 anos. “Gosto de tudo aqui, especialmente do pôr do sol, uma das coisas mais belas que já presenciei. Estou hospedada no bairro da Pedreira. Poderia ter escolhido os pontos turísticos do centro de Belém, mas optei por vir para cá”, compartilha.

Maria também elogia o distrito. “Aqui tem algo especial, mesmo quando está lotado, em alguns pontos é possível desfrutar de tranquilidade. Além disso, os estabelecimentos na orla proporcionam uma experiência agradável, que somado aos sabores oferecidos, torna a experiência muito melhor e inesquecível. Qualquer oportunidade, sempre indico a região “, afirma Maria.

Essas características destacadas por Eliane e Maria evidenciam alguns significados do distrito, começando pelo próprio nome. Segundo historiadores, a palavra “Icoaraci” deriva do Tupi-Guarani e significa “de frente para o sol”. No entanto, há outras interpretações para o nome, e alguns sugerem que também pode significar “mãe de todas as águas” ou “onde o sol repousa”.

“Que Icoaraci continue sendo esse local convidativo, onde os visitantes se sentem acolhidos por essa atmosfera agradável. Atualmente, o local precisa de melhorias, especialmente em relação à limpeza, mas não podemos ignorar suas belezas e história”, acrescenta Eliane.

Quem nasce na Vila Sorriso, como o distrito é conhecido, costuma ser chamado de “pé redondo”, uma alusão ao hábito comum de se locomover de bicicleta por lá. Esse meio de transporte é utilizado para as atividades diárias – como ir a feira, por exemplo – ou até mesmo para exercícios físicos na orla, um dos pontos que, inclusive, registra um dos maiores movimentos da região.

A calçada extensa e a ciclovia recebem um grande fluxo de corredores e ciclistas no final da tarde e início da noite. “Quando tenho um tempo livre, costumo vir aqui sozinho. É um momento para mim, onde posso correr ou até mesmo usar algumas estruturas para fazer musculação e admirar a natureza também”, relata Marlon Gabriel, 21.

Marlon, que é militar, reside em Icoaraci desde que nasceu e não tem planos de deixar o distrito tão cedo. “Recebi várias propostas para morar em outros lugares, mas recusei. Aqui tem um clima agradável, uma orla maravilhosa, tudo perto de casa. Temos pessoas acolhedoras que recebem os visitantes com alegria, o que condiz com o apelido de ‘Vila Sorriso’, não é?”, destaca.

O distrito possui pontos históricos, de entretenimento e gastronomia. Destacam-se a Praia do Cruzeiro, a Feira de Artesanato do Paracuri, o Museu de Artes Populares, a Biblioteca Municipal Avertano Rocha, a Cooperativa dos Artesãos (Coart) e a Estação Cultural de Icoaraci (antiga Estação Ferroviária de Pinheiro), além dos bares e restaurantes.

Para Andrian Gabriele, estudante de 17 anos, o local representa uma síntese das melhores qualidades de Belém. “Não podemos ignorar as outras regiões, mas quando consideramos a história e as tradições ainda presentes, tudo é muito bonito e atraente. Precisamos melhorar em muitos aspectos, como qualquer lugar, mas sou apaixonada por aqui e sei que até os que não moram aqui são”, declara.

Icoaraci tem nove bairros: Águas Negras; Agulha; Campina de Icoaraci; Cruzeiro; Maracacueira; Paracuri; Parque Guajará; Ponta Grossa; e Tenoné. A região pode ser acessada por dois dos principais corredores viários da capital, como as rodovias Augusto Montenegro e Artur Bernardes, ou por meio de embarcações pelo trapiche.

A economia local é fundamentada em um parque industrial que abriga, principalmente, os ramos de pesca, madeira, marcenaria e palmito. Outro polo econômico é a feira da Oito de Maio, no bairro da Campina, além de três grandes armazéns e os chamados “atacarejos”.

Cabe ressaltar também que o distrito possui uma culinária rica em pescados. Além disso, tem como tradição o artesanato, atividade que recebe reconhecimento internacional. “A cerâmica é uma atividade de família, que vem de pai para filho. Comecei com essa atividade, por exemplo, aos 15 anos e hoje é meu principal meio de subsistência”, frisa Roberto Navegantes, 61.

Roberto Navegantes, 61, artesão. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

“Recebemos pessoas de várias partes do Brasil e do mundo. Todos interessados em conhecer um pouco mais da nossa história e do nosso artesanato. Estou nessa atividade há 45 anos, herança dos meus avós, e continuarei nela até o fim. Além disso, nasci e cresci aqui. Trabalho, defendo e amo minha região”, afirma.

Quem nasceu em Icoaraci, testemunhou o local crescer, se desenvolver e viu muita coisa mudar. “Sou da época em que as pessoas vinham tomar banho na Praia do Cruzeiro, quando o local não era poluído e era próprio para o uso. Hoje em dia não é possível fazer a mesma coisa. No entanto, temos outras coisas interessantes por aqui e é isso que ainda atrai as pessoas”, conclui Roberto Navegantes.

 

Da água de coco ao café com os mais variados acompanhamentos

Algumas das atrações são as barracas de venda de água de coco, uma opção perfeita para quem quer apreciar o pôr do sol. “Antes de trabalhar com esse tipo de comércio, na minha infância, esses pontos já existiam aqui”, recorda o vendedor Lucas Pinheiro, 22. “Amo o que faço, pois todos os dias conheço pessoas novas e que escolhem nossa Icoaraci para relaxar da rotina e ter bons momentos”.

“Como nasci aqui, só tenho lembranças positivas. Podemos dizer que são recordações saudosas. Lembro de quando jogava bola na faixa de areia da praia. Ou quando me reunia com os amigos na Praça Matriz para conversar e brincar. Icoaraci é isso: é vida; é alegria; é amor; é lar; é saudade. Amo meu cantinho”, declara.

Outros destaques são os estabelecimentos que oferecem café com os mais variados acompanhamentos. “Tem dias que parece que toda Belém vem para cá e isso aqui fica lotado”, afirma Chay Araújo, 39. De mesa em mesa, conversando com os clientes, a atendente expressa alegria em ser uma icoaraciense autêntica. “Para ter uma ideia, nasci em um hospital que nem existe mais aqui”.

Chay Araújo, 39, atendente. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

Chay observa que já residiu em várias outras regiões, mas no final, acabou voltando para suas origens. “Já morei em Castanhal (Região Metropolitana de Belém), no bairro do Coqueiro, até mesmo em Águas Lindas (Ananindeua), mas eu não sei o que acontece que eu sempre paro aqui. Meu único pedido era que a Prefeitura de Belém resolvesse o problema do lixo nas ruas. Tirando isso, não saio daqui nunca”.