Ana Laura Costa
A gastronomia está relacionada à cultura regional, que afirma a identidade de um povo e, no Brasil, essa relação é bastante evidente. No país, a diversidade gastronômica é uma das principais características da identidade cultural brasileira e, por meio dela, conta-se histórias, se transmite costumes e constrói-se memórias.
No Ver-o-Peso, em Belém, há pelo menos 10 anos, o box da Eli, da proprietária Elisângela Barbosa Siqueira, compartilha com moradores da cidade e turistas os sabores da culinária regional. De acordo com ela, começar a cozinhar foi um ato aprendido na prática, sem herança familiar, mas que contou com a ajuda de cursos culinários e especializações.
O carro chefe da casa é o filhote ao molho de camarão, assim como o camarão empanado. E ela revela que um ingrediente não pode faltar para acompanhar: o açaí. “As pessoas comem primeiro com os olhos, né? Vêm os outros clientes pedindo e não resistem e, claro, costumam pedir junto com o açaí”, conta.
Além de fonte de renda, vender o prato também é fazer parte da conservação e fomento da cultura gastronômica da região. “Eu fico muito feliz em fazer parte disso, assim como todas as minhas colegas de trabalho daqui. Me sinto lisonjeada. A nossa comida tem sabores únicos, tem diferencial, se destaca muito. Para mim não é só uma fonte de renda, mas também pertencer”.
Comida típica faz sempre sucesso em pontos de venda
Não muito longe dali, em um dos pontos mais tradicionais para tomar um bom tacacá, comer um vatapá ou maniçoba, está a ‘Barraca da Fafá’, situada na rua Treze de Maio, no bairro da Campina. No vai e vem pelas ruas do comércio, os transeuntes sempre encontram um tempinho para degustar as iguarias. Para alguns, a parada obrigatória já é tradição familiar.
É o caso de Nazaraci Gomes da Silva, 50 , sua filha, Maria Ester, 11, e da matriarca da família Maria das Graças Gomes da Silva, de 70 anos. Após uma circulada no Centro Comercial de Belém, o plano das três era almoçar, mas a chuva atrapalhou e o que era almoço, virou ‘lanche da tarde’.
“Já é tradição almoçar um vatapá quando estamos no comércio, a gente sempre para aqui, é uma tradição familiar. A gente come maniçoba, toma um tacacá, mas o vatapá é o preferido mesmo. A chuva até empatou na hora do almoço, mas não a merenda”, brinca Nazaraci.
E por falar em tradição, no bairro do Canudos, o ‘Tacacá do Nilson’, do proprietário Nilson Cardoso, também não fica atrás quando o assunto é representar a culinária paraense. Apesar do nome, no estabelecimento são comercializados outros pratos como lasanha, camusquim e variados doces. Entretanto, Nilson afirma que a maniçoba, prato de origem indígena e típico da região, é o mais procurado.
“Quando comecei a fazer a maniçoba, pensei que ela seria apenas procurada em datas comemorativas e, principalmente, quando se aproximasse o Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Mas não, o povo paraense aprendeu a comer a nossa maniçoba como uma feijoada, diariamente. Não tem hora, nem dia, para degustar a maniçoba”, ressalta.
Amante explícito da gastronomia paraense, ele afirma. “A nossa culinária paraense está aí para ser explorada, para ser demonstrada, para ser conhecida e reconhecida, aprovada e saboreada”, completa.
Cidade Criativa da Gastronomia
A capital paraense, inclusive, atualmente é a única cidade da Amazônia, dentre as 246 cidades do mundo, a obter o título de ‘Cidade Criativa da Gastronomia’, da Unesco. Os pratos típicos da região, com sabores únicos da Amazônia, atraem o paladar de turistas do mundo inteiro que anseiam provar os peixes de água doce, a acidez do tucupi ao pato ou no tacacá e, claro, o famoso açaí com farinha de mandioca ou tapioca.