Ana Laura Costa
Só de janeiro a dezembro de 2023, no Terminal Rodoviário de Belém, em São Brás, cerca de 980 mil passageiros embarcaram no local, uma média de 2.700 passageiros por dia, segundo a Sinart. Os números expressam a quantidade de histórias que se cruzam diariamente, entre um desembarque e outro; numa pausa para o café na lanchonete; numa corrida de táxi até o destino final; ou até mesmo no curto perímetro em que o carregador de bagagens transporta para uma pessoa totalmente desconhecida.
O terminal da capital abriga histórias singulares, principalmente dos que trabalham no local e já viveram muitas outras. Há 7 meses, o motorista intermunicipal, Romerito Guerra, amanhece em uma cidade e anoitece noutra, saindo de Belém, passando pelo município de Santa Maria do Pará, no nordeste do Estado, seguindo para a cidade de Paragominas, região sudeste. A rota segue pela PA-010, numa viagem que ele considera tranquila e já conhece muito bem.
“Nossa viagem dura na faixa de seis a seis horas e meia, todos os dias. Eu amo o que eu faço, sem dúvidas. Todos os dias a gente conhece pessoas novas, também conhece outros lugares no meio da estrada. Cada dia é uma paisagem diferente, nada é igual, não é”, ressalta o motorista.
Enquanto atende os mais novos passageiros para mais um dia de viagem a trabalho, Romerito que também já atuou como motorista de ônibus urbano na capital e motorista particular, relembra o dia em que fez uma viagem e uma passageira entrou em trabalho de parto. Segundo ele, essa foi uma das experiências mais marcantes. “A gente tem que pensar muito rápido, não podemos ficar nervosos junto com a pessoa, né? Então, quando ela entrou em trabalho de parto, já estávamos bem próximos ao hospital e no final, deu tudo certo”, destaca.
Prestativo, o motorista nunca teve problemas de relação com passageiros, assim como o carregador de bagagens Joelson Soares da Silva, 50, que faz piada de todas as situações possíveis. O vem e vai do terminal rodoviário da capital, é um cenário que faz parte de sua vida há pelo menos 31 anos. O local é seu primeiro e único emprego.
“Conheço isso aqui de cabo a rabo, são muitas pessoas que chegam aqui todos os dias. Tem os bem-humorados, os mal-humorados, aí a gente tem que levar no banho maria, senão a gente acaba pegando aquela energia da pessoa, né?”, ressalta. Ele destaca que o trabalho como carregador de bagagens o ajudou a construir tudo o que tem hoje. Mesmo em dias de folga, não tem jeito, religiosamente às 4h da manhã ele já está de pé.
“Quem me colocou aqui foi o meu avô. Ele era presidente aqui. Quando entrei, em 1993, tinha uns 20 anos. Provavelmente vou me aposentar por aqui. Fiz muitos amigos, a melhor coisa aqui é ficar na sacanagem, enquanto a gente aguarda um passageiro e outro para levar as bagagens”, disse. Mas após às 19h, seu lugar preferido fica no bairro do Cordeiro. “Venho alegre para cá, graças a Deus. Mas quando chego em casa, minha esposa está lá me esperando, o meu filho, o meu neto. É tudo de bom!”, ressalta.
RISADAS
Bom de conversa, o taxista Luís Monteiro, 57, que trabalha há 2 anos no terminal, confessa que gosta mesmo de passageiros bons de papo. “A vida já é tão difícil, a gente tem que saber lidar com todo mundo, conversar, rir, tem que ser assim”, completa.
Antes de trabalhar como taxista, Luís trabalhava em obras com os serviços de pedreiro e encanador, mas foi no transporte de passageiros que, há dois meses, lhe ocorreu uma história, no mínimo, cômica. “Desembarcou uma francesa aqui e ela veio falar comigo, disse “Bonjour”, e eu entendi que ela queria ir para a cidade de Moju. Fui com ela até a segunda ponte, aí voltei. Na verdade, ela queria ir para o antigo hotel Hilton, né? Princesa Louçã agora. Foi muito engraçado!”, conta.
A história é confirmada por colegas de trabalho como o seu Alencar. Com bom humor, o taxista afirma que o que é bom mesmo “é pegar uma corrida boa. De ida e volta para o aeroporto, de preferência”, brinca.