Grande Belém

A rotina de quem guarda veículos em Belém

Guardadores de carros tiram a renda com a qual sustentam suas famílias nos diversos estacionamentos de Belém e falam como é o trabalho, a relação com os clientes e se gostariam de voltar para o mercado formal. Foto: Celso Rodrigues/ Diário do Pará.
Guardadores de carros tiram a renda com a qual sustentam suas famílias nos diversos estacionamentos de Belém e falam como é o trabalho, a relação com os clientes e se gostariam de voltar para o mercado formal. Foto: Celso Rodrigues/ Diário do Pará.

Pryscila Soares

Eles enfrentam sol e chuva e estão nos principais pontos da cidade, onde há movimento maior de pessoas. Acordam cedo e ficam por várias horas nas ruas para garantir o sustento de suas famílias. Assim costuma ser a rotina dos guardadores de carros.

Ao longo da avenida Almirante Barroso, em Belém, e ruas transversais há inúmeros trabalhadores informais, assim como em outras partes do bairro do Marco. Dentre essas pessoas está Marcelo Braga Monteiro, 46, que há 10 anos decidiu trocar de profissão. Era ajudante de pedreiro, mas acabou se identificando com a atividade informal. Ele atua na avenida João Paulo II, próximo à travessa do Chaco. Na área há diversos estabelecimentos comerciais.

Ele, que mora em Ananindeua, trabalha de domingo a domingo em busca do sustento. A jornada inicia por volta das 7h30 e encerra no período da tarde, geralmente entre 15h30 e 16h. E quando ele sabe que vai ocorrer eventos noturnos nos restaurantes ao redor, ele faz “plantão” à noite também. Marcelo conta que tem clientes fiéis e, nesta época do ano, as pessoas ficam mais generosas. Isso significa que a renda melhora e dá para garantir uma espécie de 13º salário com a atividade. “Todo dia tenho um ganho aqui. Não é muito, mas dá para sobreviver”, disse. “Tem vezes que ganho por dia R$ 50, R$ 60. Nesta época de Natal está bom. É entre R$ 80, R$ 70 e vai variando”.

Apesar de estar acostumado com a rotina, ele diz que gostaria de arrumar um emprego com carteira assinada. Marcelo é separado e tem dois filhos adultos. “Mas a oportunidade não aparece. O dia que aparecer, eu largo por causa da minha idade. Só não venho quando estou doente. Tenho clientes aqui e quando chega essa época de Natal eles me dão cesta. Queria que a gente tivesse mais apoio”, relata, ao falar que se preocupa com o futuro e que optaria por trabalhar de carteira assinada pela segurança e as garantias de um trabalho formal.

CURUZU

Diferente de Marcelo, outro guardador de carro que atua no mesmo bairro não pensa em mudar de profissão. Sebastião Rodrigues tem 53 anos e trabalha há 36 na atividade e, também, com vendas na travessa Curuzu, próximo ao estádio do Paysandu. Em dias normais, ele vende água de coco e repara os veículos. Quando tem jogos do time, ele aproveita para faturar com a venda de bebidas. Sebastião trabalhou de carteira assinada por 9 meses, mas não se acostumou.

Em seguida, ele retornou para a atividade autônoma. “Comecei com a venda de coco. Aqui funcionava urgência e emergência (de um plano de saúde), me entrosei com as pessoas e comecei a reparar os carros. Gostei dessa profissão. Só que é um negócio que não tem seguro”, explica. Neste período de final de ano, ele faz uma caixinha para receber recursos extras dos clientes. “A gente não tem décimo, então fizemos uma caixinha. Tem cliente que dá R$ 10, outros dão R$ 20 e a gente vai levando”.

Para Sebastião, o principal desafio da profissão autônoma é enfrentar o preconceito por parte de algumas pessoas. “Tem pessoas super legais, mas tem uns que são muito ignorantes, destratam a gente e ficam discriminando. A gente sai de casa umas seis horas da manhã para ir organizando os carros, e fica aqui até umas 16h”, conta. “É uma atividade importante e a gente ajuda as pessoas. Temos liberdade de trabalhar sossegado. Com a renda daqui comprei minhas coisas”, destaca o trabalhador, que criou os filhos com a renda conquistada ali.