Clássico do horror

“O Massacre da Serra Elétrica”: 50 anos de puro terror

O filme que deu ao mundo Leatherface, um dos grandes vilões do cinema de horror, foi lançado em 1º de outubro de 1974, nos Estados Unidos.

“O Massacre da Serra Elétrica”: 50 anos de puro terror

Do que se trata “O Massacre da Serra Elétrica”? Para alguns, a desintegração da família americana; para outros, um retrato da desesperança de uma sociedade às voltas com a Guerra do Vietnã, o escândalo de Watergate e o fim da cultura hippie de paz & amor. A melhor resposta, contudo, foi dada pelo intérprete de Leatherface, o icônico vilão do filme de Tobe Hooper. Para o ator Gunnar Hansen, “é um filme sobre os maiores sustos que uma plateia pode aguentar (…) e penso que muita gente pode enxergar outras coisas nele. E se assim desejam e se suas opiniões são consistentes com o filme, e não estão apenas sobrepondo algo que não faz sentido algum, então está bem pra mim”.

É exatamente dessa forma que “O Massacre da Serra Elétrica” chegou aos 50 anos desde o seu lançamento, no último dia 1º de outubro, nos Estados Unidos. Como um filme que suscita  discussões profundas em relação ao contexto sociopolítico da época, ao mesmo tempo que cumpre sua função primordial como filme de terror, provocando desconforto e medo no espectador. Além de ficar marcado por consolidar uma nova construção cinematográfica do gênero, que já havia dado alguns passos com “Psicose”, tirando o perigo quase que abstrato dos castelos góticos dos anos 1960 e tornando-o bem mais palpável – “A noite do terror”, também de 1974, é outro exemplo dessa mudança de paradigma.

É incrível como “O Massacre da Serra Elétrica” não perdeu a sua força com o passar dos anos. E o impacto é imediato. A narração jornalística do início e a sequência de imagens perturbadoras que vem a seguir da exposição brutal de corpos em decomposição, combinada com imagens sugestivas, como o tatu morto na estrada, te deixam em estado de completa apreensão. Esse efeito é conquistado graças a um ar documental com o qual o filme foi concebido – gravado em 16mm e ampliado para 35mm, que o deixou granulado. Fora a trilha sonora “seca”, dando destaque à mixagem de som, com ruídos constantes de rádio, barulho de estrada, etc., sem possibilidade de respiro; e a fotografia que faz com que o sol amarelo e escaldante do Texas exploda na nossa cara. Tudo isso se transforma em um ambiente sufocante. É quente, cru, visceral.

Sally e seus amigos conhecem o verdadeiro significado da dor e sofrimento – Foto: Divulgação

Usar como uma das inspirações a história de um assassino real, Ed Gein, para a trama também ajudou a criar um clima de cinema-verdade e, posteriormente, de lendas em torno do “Massacre”. Afinal, ter um assassino que usa uma máscara feita de pele humana e uma casa repleta de ossos aguçam sobremaneira a imaginação. “Essa era uma das grandes coisas sobre o jeito como Tobe escreveu e dirigiu o filme. Ele fez as pessoas enxergarem coisas que não estavam lá (…) Teve uma mulher que ficou louca comigo ao ver o filme: ‘Você violentou aquelas garotas!’. Eu disse: ‘Não me lembro de estar lá naquele dia’”, disse certa vez o ator Jim Siedow.

O engraçado é que, quando entramos na história em si, hoje ela pode parecer banal, mas cabe lembrar que “O Massacre da Serra Elétrica” reivindica parte desse pioneirismo. Há até um termo utilizado por estudiosos do cinema para caracterizá-lo: “proto slasher”, pois ajudou a fundar algumas das bases para o sub-gênero que, a partir de “Halloween” e na década seguinte, dominaria o terror, com o grupo de jovens destinado a morrer nas mãos de um assassino mascarado (aqui, no caso, Leatherface é acompanhado da sua família, um clã canibal), perseguições, mortes violentas e, claro, uma final girl, entre outras regras.

As cenas entre os vilões e suas vítimas são um ponto alto do filme de Hooper. Desde a primeira interação, com o caroneiro, do estranhamento e repulsa, até os embates corporais com Leatherface, cujo gigantismo frente àqueles jovens se traduz em uma sensação colossal de impotência diante da morte iminente. As vítimas são desumanizadas, tratadas como gado. Note como elas vão sozinhas para o abate na casa da família, que faz as vezes de matadouro. A primeira vez que Leatherface usa a sua motosserra (sim, não é uma serra elétrica como a tradução brasileira impôs, mas a sonoridade desta é imbatível, convenhamos) em uma das vítimas, a expressão de pavor na que está “aguardando a vez” é hipnótica e, a partir daí, o som constante da arma é lancinante.

Jantar em família: o principal tempero é a insanidade – Foto: Divulgação

Isso sem contar a clássica cena do “jantar”, em que somos testemunhas de toda a sorte de bizarrices e, por meio de uma montagem excepcional, ficamos atônitos com os cortes rápidos entre os closes dos olhos aterrorizados de Sally, em uma interpretação alucinada e excepcional de Marilyn Burns, para os risos tresloucados daquela família ensandecida. Percebemos que eles não querem causar apenas dor física, mas psicológica. Eles estão brincando com a sua comida.

No livro “A invenção do monstro”, o autor Fernando Vugman destaca essa característica do filme de Hooper, de jamais permitir espaço para qualquer tipo de identificação com o vilão como outras produções da época, que exploravam a câmera subjetiva, com o ponto de vista do assassino. “Quando ele aparece na tela, é tão assustador para nós, quanto para suas vítimas”. Somos, portanto, meros espectadores daquelas ações monstruosas que nos causam revolta, nos fazem gritar e deixam marcado em nossos rostos expressões de puro terror, mesmo que tenham se passado cinquenta anos. E isso independe do contexto histórico. Mas, claro, a sua existência só o engrandece ainda mais.

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ONDE ASSISTIR

  • O filme está disponível para streaming no Amazon Prime Video e na Darkflix. Você também pode alugá-lo na Apple TV.

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