“Namorada de aluguel”: não se pode comprar o amor!

É altamente representativa a escolha por uma música do auge da beatlemania para o título original de uma comédia adolescente típica dos anos 1980. “Can’t buy me love” é frenética, divertida, feita para tirar os pés do chão de tanta excitação com seus arroubos de paixão, além, claro, de ser tematicamente singela, com uma carga extraforte de sentimentalismo. É exatamente assim que a trama de “Namorada de aluguel” é construída.

O filme é de 1987, ou seja, já estava sob forte influência do cinema de John Hughes, o precursor do “cinema adolescente” da década e que transportou com sucesso para as telas todos os anseios daquela geração, como em “Gatinhas & Gatões”, “Clube dos Cinco”, “Curtindo a Vida Adoidado” e “A Garota de Rosa-Shocking”. Com as bases lançadas, vários outros exemplares surgiram, apostando em romances ingênuos e amizades verdadeiras.

Assim, as histórias basicamente mantêm um padrão em seus temas: é preciso ter um garoto ou uma garota nerd como protagonista; a popularidade, especialmente no “High School” norte-americano, assume um lugar central nos conflitos; e uma necessária quebra de estereótipos dentro deste universo – isto é, se o filme realmente se importar com o desenvolvimento de seus personagens. Afinal de contas, estamos falando de adolescentes, com personalidades sendo formadas. É natural que haja uma oscilação de humor ou de atitude.

No caso de “Namorada de aluguel”, o filme segue bem a cartilha de Hughes e, baseado na música dos Beatles, propõe nas entrelinhas essa reflexão sobre as coisas que realmente importam na vida, numa crítica ao consumismo. Essa é a lição que Ronny Miller aprende. Ele está secretamente apaixonado por Cindy Mancini, a garota mais bonita e mais popular do campus. Ele também se ressente de ser um pária na escola. Então, quando Cindy se desespera ao estragar uma roupa cara da sua mãe, que pegou sem permissão, Ronny faz uma proposta: dá o dinheiro para ela comprar a roupa nova, contanto que ela finja ser sua namorada por um mês.

O caminho traçado a partir daí é bem traiçoeiro, pois o nosso “herói” passa a ter um comportamento execrável a partir do momento em que, de fato, ganha popularidade. Ao lado dos novos amigos, esquece dos antigos parceiros, do que gosta de fazer, tudo para não correr o risco de deixar aquele círculo. Ele muda seu jeito de ser até mesmo com Cindy, que, em princípio relutante, aos poucos já estava retribuindo o sentimento de Ronny, mas ele, cego pelo novo status, não percebeu. Em dois momentos, um com Cindy e outro com seu ex-melhor amigo, Ronny chega a completar sua transformação em vilão do filme.

Por que torceríamos por uma redenção? Bem, para começar, pelo carisma de Patrick Dempsey, que, mesmo em início de carreira, já mostrava seu tino para galã, com um ar deliciosamente canastrão e uma veia cômica demonstrada em cenas de morrer de rir. Quando ele aprende a dançar pela TV e, sem querer, executa os passos do ritual de acasalamento do tamanduá africano, isso é ouro puro. Fora que a química na tela com Amanda Peterson também colabora sobremaneira para a nossa boa vontade. Na verdade, é importante notar que há uma inversão de papéis aqui. A outrora fútil Cindy aprende o valor das relações humanas e agora é apenas através dela que um final feliz se tornaria possível.