GALÁXIA EM EBULIÇÃO

“Andor” reafirma a relevância do universo de “Star Wars”

Em “Andor”, entramos de cabeça no conflito entre um Império cada vez mais autoritário e uma crescente rebelião.

A série tem duas temporadas e liga "A vingança dos Sith" a "Rogue One" - Foto: Divulgação
A série tem duas temporadas e liga "A vingança dos Sith" a "Rogue One" - Foto: Divulgação

“Tenho amigos em todos os lugares”. Essa frase não apenas serve como código para identificar aqueles que agem secretamente e desafiam o Império Galáctico em “Andor”, como também é um lembrete constante do que move todo o universo de “Star Wars”. A capacidade de se envolver com uma causa, de ter empatia e desenvolver laços afetivos, são habilidades naturais obrigatórias para combater as injustiças e tiranias. Seja no mundo real ou em uma galáxia muito, muito distante. Ainda mais nos dias de hoje, diante do perigo da ascensão de ideologias e ameaças totalitárias, em que essa força política, de resistência, se torna crucial. Lembrem-se, “O totalitarismo está baseado na experiência da solidão”, já dizia Hannah Arendt.

Dessa forma, a série “Andor”, que conecta “A vingança dos Sith” a “Rogue One”, e chegou ao fim nesta semana, apresentou, em apenas duas temporadas, uma trama política instigante, permeada por intrigas, espionagem e bastante tensão. O showrunner e roteirista Tony Gilroy não alivia na construção da narrativa. Vemos as entranhas de uma ditadura, a amoralidade – e imoralidade – dos seus oficiais, o jogo de poder, conchavos, interesses disfarçados em inúmeras cortinas de fumaça, as fake news, a falta de escrúpulos e de humanidade. Mesmo daqueles que acham que detêm o controle e a autoridade, mas na verdade não passam de um mero instrumento, uma marionete. Contudo, nem por isso menos ameaçadores.

Mas se tem uma característica que não pertence a “Andor” é o maniqueísmo. Pelo contrário. Os tons de cinza estão em cada poro dessa produção. No Império, há aqueles que enxergam o mal sendo praticado e se revoltam. Alguns nada fazem, por medo ou impotência. Outros revidam do jeito que podem. Do outro lado, a pergunta “Até onde você vai pela liberdade?” é feita rotineiramente. Radicalizar é preciso? Até que ponto devemos ser tolerantes com a intolerância? Como combater excessos sendo apenas éticos, polidos? Não são perguntas retóricas. É a realidade se impondo e temos que lidar com ela em algum momento. Além de lembrar, claro, que a arrogância precede a queda. Seja de que lado for.

Neste aspecto, os personagens Saw Guerrera (Forest Whitaker) e Mon Mothma (Genevieve O’Reilly) mostram seus limites – ou a falta deles – ao lidarem com o regime tirano de Palpatine (que não aparece fisicamente, mas é onipresente, quase um ser de caráter divino, em sua onisciência e onipotência). Assim como Luthen (Stellan Skarsgård), que age nos bastidores, tendo comportamento errático em diversas oportunidades, para que a rebelião tome forma e se torne organizada. São pequenos focos que garantem a “Andor” ser uma prova cabal de que há muitas histórias fora do núcleo principal criado por George Lucas que podem e devem ser contadas.

Aliás, os próprios dilemas de Cassian Andor (Diego Luna) mostram a maturidade deste projeto. Pois estes só fazem crescer com o passar dos episódios. É bom ver um protagonista, lidando com suas dúvidas e angústias. Ele não é infalível, às vezes trava. É preciso ser chamado à razão. Age apesar do medo. É um verdadeiro herói e um dos grandes personagens de “Star Wars”. Para quem já conhece o seu destino, mostrado em “Rogue One”, a série só o engrandece mais ainda, o torna mítico, no mesmo patamar de Luke, Han e Leia. E não, isso não é uma heresia. Apenas mostra que uma rebelião não se faz sozinha ou com poucos indivíduos. É preciso união, amizade, amor e muita, muita coragem. Mon Mothma foi certeira em seu discurso forte e emblemático: “A morte da verdade é a vitória final do mal”. Que bom que há pessoas capazes de se indignar e lutar. E que bom ver que “Star Wars” segue com sua relevância após tantos anos. Que a Força esteja com você!

Onde assistir

  • As duas temporadas de “Andor” estão disponíveis para streaming no Disney+.

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