Luiz Flávio
A contadora Rosylena Oliveira, 28 anos, e a advogada Juliana Xerfan, 30, começaram a empreender depois que se tornaram mães, 5 anos atrás. “Sentíamos falta de uma loja que oferecesse roupas bonitas e de qualidade e principalmente, com atendimento diferenciado. Foi aí que decidimos abrir nosso próprio negócio de roupas infantis”.
Para impulsionar o negócio, elas decidiram investir em transmissões ao vivo pela Internet. As sócias faziam tudo: elaboravam as estratégias de marketing, arranjavam os equipamentos, decidiam que peças infantis iriam promover e faziam as transmissões.
A chamada “live shopping” é uma das tendências no mundo do varejo eletrônico, unindo o conforto das compras via internet, com a apresentação e os detalhes de um programa ao vivo. A estratégia foi baseada nos canais de televisão dedicados às compras surgidos na década de 1990, que combinavam entretenimento e vendas. Eles permitiam que os apresentadores demonstrassem produtos em tempo real e os espectadores comprassem diretamente pelo telefone.
A “live shopping” vem evoluindo ao longo dos anos e se expandindo pelo mercado. Dados da Research and Markets, apontam que esse tipo de live devem de gerar US$ 600 bilhões em todo o mundo até 2027. A estratégia de divulgar e vender produtos através de vídeos ao vivo surgiu na China em 2014 e se popularizou em 2017. A ideia da ação é aproximar os consumidores da marca, tornando a compra pelo e-commerce mais intimista e trazendo a oportunidade de conhecer melhor o público.
Durante a transmissão, os clientes podem ver os produtos, interagir no chat, tirar dúvidas, colocar itens no carrinho, garantir descontos e mais. A despeito da estratégia ter se popularizado no varejo de moda e beleza, é adotada por diferentes segmentos, passando até mesmo pelo automotivo e incorporadoras.
“Esse tipo de divulgação compensa muito e não digo que seja uma tendência para o comércio on-line pois parece que a qualquer momento pode esfriar… Diria que é uma participação ativa e assertiva. Fazendo todo esse processo conseguimos chegar com sucesso até o consumidor final. É infalível! Você já que conhece os clientes então sabe entender o que eles precisam para que você consiga atendê-los”, coloca Rosylena.
O contato direto e ao vivo com os clientes é bastante compensador para quem vende, segundo a empresária. “Até porque a gente cria um relacionamento bem consistente com o cliente através do bate-papo e faz com que ele vá até a loja. Assim, ele compara mais. Fomos as pioneiras em lives aqui em Belém e as vendas alavancam. As clientes já esperam as próximas. Elsa falam que é uma dependência”, brinca.
As sócias fazem lives mensais que duram de 2 à 3 horas e até mais, dependendo do retorno dos clientes, utilizando principalmente o Instagram. “Percebemos que as transmissões aumentaram consideravelmente nosso faturamento. É uma estratégia que veio para ficar no comércio eletrônico. Se o vendedor trabalhar com uma boa estratégia, não vai parar nunca e vai transformar seus potenciais compradores em clientes ativos”, assegura.
Interação aproxima clientes e vendedores
A live shopping é a melhor forma de humanizar o e-commerce. Segundo a pesquisa “Estatísticas de Marketing de Vídeo”, feita pela @wyzowl, 96% dos usuários assistem um vídeo de explicação para entender melhor sobre um produto ou serviço; 84% dizem que se sentem convencidos a comprar um produto após assistir vídeo da marca e 66% afirmam que preferem se informar sobre produto por meio de vídeo.
Os números mostram que os vídeos ao vivo se apresentam como oportunidade de troca de informações entre o cliente e o vendedor. E a estrutura para realizar uma transmissão é outro atrativo: basta apenas um aparelho, como um celular, para gravar, e acesso à internet para transmitir, sem a necessidade de grandes superproduções.
A ação pode ser feita pelas redes sociais da marca, YouTube ou pelo site do próprio varejista. Para enriquecer a experiência e coletar diferentes dados, algumas empresas oferecem o auxílio de plataformas específicas para live.
Adriana Cynthia de Freitas, jornalista com especialização em Marketing Digital, ressalta que a live shopping surge como uma estratégia para impulsionar vendas e engajamento. “Realizar esse tipo de live pode oferecer várias vantagens, mas também pode apresentar alguns desafios”, pondera.
Entre os pontos positivos ela aponta a construção de confiança e credibilidade em relação à empresa/marca; feedback instantâneo e aumento do engajamento do cliente, “pois as transmissões ao vivo permitem uma interação direta com os espectadores”.
Já como pontos negativos ela cita que uma live shopping pode gerar possíveis erros ao vivo, já que há sempre o risco de cometer erros que podem afetar na reputação da marca. “Valores podem ser passados com preços alterados, por exemplo. Há também a dependência de tecnologia e conectividade, e possíveis falhas de internet podem interromper a transmissão ao vivo e afetar negativamente a experiência do cliente”, coloca.
A live shopping é para o consumidor, segundo a especialista, “uma oportunidade de garantir o item em condição melhor, além de conseguir realizar uma compra virtual como se estivesse de dentro da loja. Para a marca, é a venda em escala”.
Transmissões são comuns no mercado da moda
A live commerce é vista como um escalador de vendas digital, sendo possível reunir muitas pessoas, em curto espaço de tempo, e com senso de oportunidade muito grande. Para o consumidor, é oportunidade de garantir o item em condição melhor, além de conseguir comprar de dentro da loja como se estivesse lá, mas direto do celular. Algumas empresas e marcas conseguem, em uma única hora de live, colocar mil ou até cem mil pessoas, o que seria impensável numa loja física.
A empresária Ana Katia Brasil garante que a live shopping é uma tendência crescente no mercado da moda, onde atua com uma loja de calçados femininos. “Realizamos transmissões ao vivo na internet, aproveitando o alcance das redes sociais para apresentar nossas peças e interagir com os espectadores em tempo real e realizar muitas vendas”.
Ela diz que durante as transmissões os clientes podem conhecer os produtos, novas coleções, tirar dúvidas e adquirir as peças exibidas pela anfitriã, com praticidade e comodidade. “Muitas vezes esse tipo de feedback não é possível numa loja física, com poucos vendedores. O formato combina entretenimento e compras, proporcionando uma experiência interativa muito interessante”, justifica.
Segundo Ana Kátia a duração da transmissão de uma “live shop” varia muito. “Tudo depende depender do objetivo de vendas, dos produtos a serem promovidos e da audiência. Alguns eventos podem durar apenas 30 minutos, enquanto outros podem se estender por várias horas. O segredo do sucesso é manter a audiência envolvida e interessada durante o tempo que a transmissão durar”, revela.
Antes da execução de cada live, a empresária pesquisa tendências de mercado do produto que comercializa, no caso, calçados femininos. “Procuro saber quais modelos e pares estão em alta, o que envolve percepção de mercado, buscando produtos que estejam alinhados ao mercado paraense e com posicionamento da marca. A cada transmissão temos a oportunidade de conhecer melhor o público, o que nos ajuda nas estratégias e a alavancar as vendas”.