ECONOMIA

Quase metade dos brasileiros compra por impulso para aliviar emoções

Levantamento da Serasa, em parceria com o Instituto Opinion Box, revela a forte ligação entre saúde mental e finanças no Brasil.

Foto: Divulgação
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Levantamento da Serasa, em parceria com o Instituto Opinion Box, revela a forte ligação entre saúde mental e finanças no Brasil. O estudo mostra que 46% dos brasileiros já fizeram compras por impulso para se sentirem melhor emocionalmente, ainda que esse alívio seja temporário e traga consequências financeiras duradouras.

O levantamento ouviu 1.240 pessoas em todo o Brasil, entre os dias 8 e 19 de agosto de 2025, por meio de entrevistas online. A margem de erro é de 2,8 pontos percentuais.

Mais da metade dos entrevistados (54%) admitiram ter acumulado dívidas em razão de problemas emocionais. Já 41% afirmaram ter gastado todas as economias em situações ligadas à saúde mental. O estudo aponta ainda que 27% dependem do crédito para custear despesas básicas do dia a dia.

A economista e educadora financeira Débora Gomes diz que saúde mental e finanças é um elo que não pode ser ignorado e que os números da pesquisa merecem reflexão.

“Costumo dizer que dinheiro é emocional. Muitas vezes, as decisões que tomamos no consumo não têm a ver apenas com a conta bancária, mas com fatores como autoestima, ansiedade, crenças familiares e até a necessidade de pertencimento. Não é coincidência que pessoas que conseguem equilibrar suas finanças costumam estar também em maior equilíbrio emocional”, afirma.

O dado de que 41% dos entrevistados usaram suas reservas para lidar com a saúde mental chama ainda mais atenção, segundo ela. “Mostra como emoções desgovernadas podem levar a decisões financeiras ruins e criar um ciclo de instabilidade que afeta não só o bolso, mas também a vida familiar e pessoal”, pondera.

A especialista considera que os números da pesquisa não devem ser vistos apenas como alarmantes, mas como um sinal para mudar a forma de lidar com dinheiro e emoções. Cuidar das finanças é também cuidar da mente.

“O consumo consciente não significa abrir mão do prazer, mas fazer escolhas alinhadas com nossos valores e com o padrão de vida que realmente cabe no bolso. Esse é o caminho para uma vida financeira equilibrada e, ao mesmo tempo, emocionalmente saudável.

O peso das dificuldades financeiras

O cenário se agrava porque muitos já enfrentam obstáculos estruturais:

• 43% estão com o nome negativado;

• 37% relatam atraso no pagamento de contas;

• 34% têm dificuldade de obter crédito;

• 29% dizem ter renda insuficiente.

Esses fatores, segundo a pesquisa, aumentam a pressão emocional e retroalimentam o ciclo da inadimplência.

Caminho de mudança

Apesar do quadro desafiador, há espaço para otimismo. Para 60% dos entrevistados, cuidar da saúde mental e reduzir o estresse ajudaria a tomar decisões financeiras mais conscientes. Outros 30% acreditam que o equilíbrio emocional também reduziria gastos com tratamentos e cuidados ligados à saúde mental.

A psicologia do dinheiro já demonstra que o impacto das emoções mal administradas pode ser profundo, provocando dívidas, frustrações e até problemas de saúde.

“Diante disso, a pergunta que surge é: como se blindar do consumo impulsivo e alinhar as escolhas financeiras ao que realmente importa?”, indaga Débora. Ela compartilha a seguir, passos que considera fundamentais nessa jornada:

1. Faça um raio-x financeiro simples – Tenha clareza do quanto você ganha e gasta. Divida em categorias como moradia, alimentação, transporte, lazer e educação. Parece óbvio, mas muitas pessoas caem na armadilha de não saber exatamente para onde vai o dinheiro.

2. Crie barreiras contra compras por impulso – Nosso cérebro reage ao consumo como a uma forma de recompensa. Por isso, adote mecanismos de proteção: nunca compre sem lista, aguarde 24 horas antes de decidir e evite usar o cartão em momentos de tristeza, ansiedade ou euforia.

3. Gaste com propósito, não com modismo – Como destaca o livro “Dinheiro Feliz: A arte japonesa de fazer as pazes com o seu dinheiro”, o dinheiro pode trazer felicidade quando aplicado em experiências significativas, em tempo de qualidade ou em algo que fortaleça seus valores — e não em compras passageiras.

4. Construa uma reserva de emergência emocional e financeira – Assim como é importante guardar para imprevistos, também é essencial cuidar da mente no dia a dia. Terapia, lazer saudável, hobbies e descanso podem custar menos do que uma dívida gerada por consumo descontrolado.

5. Pergunte antes de gastar – Questione-se: “Eu realmente preciso disso? Eu posso pagar agora? Essa compra me aproxima ou me afasta dos meus objetivos?”. Esse simples exercício já ajuda a reduzir gastos desnecessários.

6. Invista em autoconhecimento – Como reforça o livro A Psicologia Financeira, muitas decisões ruins vêm de comparações sociais e histórias pessoais. Quanto mais clareza temos sobre nossos valores, mais fácil fica sair do ciclo da impulsividade.