Even Oliveira
Com as enchentes no estado do Rio Grande do Sul (RS), principal produtor de arroz do Brasil, responsável por 70% da produção nacional, veio a preocupação para os danos que podem ser gerados pela possível falta do arroz e do feijão nos estados.
Segundo o presidente da Associação Paraense de Supermercados (Aspas), Jorge Portugal, cerca de 83% da safra de arroz já havia sido colhida antes da tragédia climática, restando 17% – dos quais 30% destes estão em áreas afetadas. Por enquanto, não houve aumento de preços do arroz nos supermercados devido aos estoques disponíveis que garantem o abastecimento por cerca de 15 dias.
Portugal assegura que não haverá falta desses alimentos, embora o arroz seja um dos mais afetados pelas enchentes. O maior desafio agora é o armazenamento e escoamento desses produtos, devido às estradas danificadas. “Os preços serão regulados pela oferta e demanda. Quanto ao aumento desses preços, não é possível determinar neste momento um percentual exato, não podemos dizer se será 1% ou 50%”, explica.
No entanto, espera-se que, em aproximadamente uma semana, os preços comecem a refletir a escassez. O feijão, por sua vez, é amplamente proveniente do Nordeste, e sua disponibilidade pode ser afetada indiretamente pela crise no estado sulista.
O supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PA), Everson Costa, destaca que a situação no Rio Grande do Sul deve influenciar o mercado nacional em outros aspectos, pois as implicações vão além do âmbito alimentar.
“O RS é o quinto estado mais rico do Brasil, possuindo um Produto Interno Bruto (PIB) na ordem de mais de R$ 640 bilhões. O estado produz insumos para o país inteiro que ultrapassam os alimentos. Estamos falando da indústria, do agronegócio e de uma série de outros produtos e serviços que derivam em partem daqueles municípios, os quais, nesse exato momento, vão causar uma desorganização de preço em território nacional”.
No Pará, de acordo com relatório das novas pesquisas realizadas pelo Dieese-PA, pelo quarto mês consecutivo de 2024, a cesta básica dos paraenses comercializada em Belém voltou a ficar mais cara. Dentre os alimentos, o arroz, embora tenha tido uma queda de 1,85% no mês de abril, foi o alimento que mais sofreu aumento nos meses de janeiro a abril deste ano, resultando em 20,10%.
“Nosso arroz comercializado no Pará já vinha com uma oscilação de preço e, automaticamente, um encarecimento. Isso já acontecia porque, primeiro, a safra deste ano, seja do Sul ou outras regiões produtoras de alimentos, já vem sofrendo com as intempéries climáticas. A produção até veio, mas a qualidade dessa produção ela também sentiu os efeitos climáticos”, detalha Costa.
Everson relembra sobre os 83% de arroz já colhidos, e pontua que “estamos falando de grandes números e essa diferença que ficou faltando vai fazer com que a busca por outros mercados se amplie”.
Afinal, “o arroz faz parte da cesta básica, compõe o prato feito tradicional de todo santo dia de uma ponta a outra do país, sendo um dos alimentos mais consumidos da nossa mesa; e a formação de preço dele, que já levava em consideração a distância, a produção, encargos e tributos pode ser sim afetada com esse cenário”, complementa o supervisor.
Com importações autorizadas pelo governo federal, o preço do arroz pode ser afetado dependendo do país de origem do produto utilizado para atender à demanda nacional. “O valor final dependerá do fornecedor desse arroz, do país de origem e da quantidade absorvida por cada estado”, conclui. (Com Redação. Veja mais no caderno Brasil)