Ana Laura Costa
Levantamento realizado pelo Serasa em julho deste ano, aponta uma queda no número de inadimplentes no Brasil pelo segundo mês consecutivo. Com 71,4 milhões de brasileiros em situação de inadimplência em julho, a redução foi de 34 mil em comparação ao mês de junho.
É a primeira vez, desde 2021, que a queda é registrada e esse declínio se deve, em parte, às dívidas negociadas nos canais do Serasa Limpa Nome. O novo levantamento do Serasa também indica que 39,64% dos paraenses estão inadimplentes. A média nacional é de 43,72%, ou seja, no ranking nacional o Pará ocupa a 21ª posição da população mais inadimplente. O Estado do Rio de Janeiro lidera a primeira posição, com 53,11%, seguido do Amapá, com 52,34%.
Ainda de acordo com o levantamento, a maior parte das dívidas dos brasileiros está concentrada em três setores: bancos e cartões (29,96%), contas utilitárias – água, luz e gás (13,97%) e as dívidas financeiras (13,97%). Entre as faixas etárias, os maiores inadimplentes têm entre 41 e 60 anos, seguidos pela população entre 26 e 40 anos e depois pelas pessoas com mais de 60 anos.
O gerente de uma loja no centro comercial de Belém faz parte das estatísticas de brasileiros que ainda estão com o nome sujo. Mas Diego Souza, 30, revela que o cartão de crédito não é o grande vilão nesta situação. “Na verdade o cartão de crédito te ajuda, né? O fator predominante é o alto custo de vida, a renda não acompanha os gastos que são necessários como aluguel, alimentação das crianças, material escolar, etc”, pontua.
A autônoma Jovelina Santos, de 60 anos, também se equilibra na corda bamba para não voltar para o “vermelho”. “Tem luz, tem água, tem plano de saúde, tudo isso pesa. Meu marido é cadeirante, a aposentadoria dele vai toda para esses gastos básicos, fixos. Mas tem que pagar, né? Tem que dar um jeito”, afirma.
O economista e supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese Pará), Everson Costa, ressaltou que a educação financeira é fundamental, porém, nem todos têm acesso.
“Quando você não tem educação financeira, você não tem controle das contas, não tem noção de gastos, você não tem racionalização daquilo que de fato, pelo menos, é consumo que você precisa e aquilo que é supérfluo”, ressalta.
O economista também salienta que é necessário ser consciente, caso seja possível, poupar de 20% a 30% da renda para poder utilizá-lo em momento oportuno para algum tipo de emergência ou compra de bem. “Assim você não cai nos empréstimos nos quais as taxas de juros ainda são elevadas. Quando não se tem essa disciplina com os gastos, se entra na inadimplência”, orienta.
Everson Costa também chama atenção para o mercado de trabalho que não remunera com salários dignos, daí não se consegue organizar as despesas e nem a vida financeira. Aliado à inexistência da educação financeira ou campanhas que fomentem o consumo responsável, a inadimplência é uma realidade.
“O resultado disso estamos vendo, até o final do primeiro semestre deste ano, segundo dados da Federação Nacional do Comércio, tínhamos cerca de 71% das famílias pesquisadas endividadas. Então é um cenário de muita dificuldade. Tanto que o programa “Serasa Limpa Nome” chega na expectativa de ajudar a reorganizar as finanças dessas famílias”, destaca.