Cintia Magno
Quando o assunto é a atividade econômica do país, não é incomum que surja a necessidade de falar sobre as previsões e metas da taxa Selic. Apesar de bastante presente nas análises de economistas, o termo pode causar dúvidas na maior parte da população. Afinal, o que é a taxa Selic e de que maneira ela interfere no bolso do cidadão?
O conselheiro do Conselho Regional de Economia do Pará e Amapá (Corecon-PA/AP), o economista Nélio Bordalo explica que Selic é a sigla para Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, um sistema administrado pelo Banco Central do Brasil e onde são realizadas as transações dos títulos públicos federais.
“A taxa média de todas essas transações (empréstimos de curto prazo, realizados no mesmo dia) é referente à Taxa Selic”, destaca. “A Selic é um indicador importante, pois representa os juros básicos de toda a economia brasileira. Ela tem influência direta nas demais taxas de juros no Brasil, tais como de empréstimos, cartão de crédito e cheque especial”.
Mais do que impactar nas finanças de quem busca um empréstimo ou faz uso do cheque especial, a taxa Selic mantém uma relação direta com a inflação no país. Por isso mesmo, a taxa tem como principal função buscar um equilíbrio nas contas nacionais, estimulando ou não a economia, a depender da situação.
“A Selic é utilizada como instrumento de política monetária do Banco Central no controle da inflação. Por ser a taxa básica de juros da economia, ela também serve de base para a rentabilidade de investimentos, portanto, os movimentos da Selic impactam diretamente o valor do retorno dos investimentos no mercado brasileiro”, explica Nélio Bordalo.
“Quando a taxa sobe, os juros cobrados em financiamentos, empréstimos e no cartão ficam mais altos e isso desencoraja o consumo, o que, por sua vez, estimula uma queda na inflação”.
Exatamente por essa relação, a taxa pode afetar a todos os cidadãos, de alguma maneira. O conselheiro do Corecon-PA/AP explica que a taxa pode impactar até mesmo quem não tem empréstimos ou financiamentos, pois mudanças na Selic funcionam como ‘gatilhos’ que podem impactar toda a cadeia econômica do país.
“Quando o governo precisa desacelerar o crescimento da inflação, o Copom tende a elevar a taxa Selic”, aponta Nélio.
“Com a Selic em alta, empresários e comerciantes tendem a diminuir os investimentos dos seus negócios, o que vai afetar a produção e a geração de empregos, inclusive com demissões. Consequentemente, a renda das famílias brasileiras e o consumo vão encolher. Dessa forma a inflação tende a cair. No caso da Selic em baixa, a população passa a consumir mais, pois os preços estão menores. E nesse contexto entra a lei da oferta e demanda, ou seja, quanto mais alta for a procura por um produto, menor será a disponibilidade deste produto, ocasionando o aumento dos preços”.
ENTENDA
O que é a taxa Selic?
A chamada taxa Selic é a taxa básica de juros da economia, se configurando como o principal instrumento utilizado pelo Banco Central do Brasil (BC) para controlar a inflação no país. Isso é possível porque a Selic influencia todas as demais taxas de juros, como as taxas de juros dos empréstimos, dos financiamentos e das aplicações financeiras.
O que significa Selic?
A sigla ‘Selic’ faz referência a ‘Sistema Especial de Liquidação e de Custódia’. Esse sistema é uma infraestrutura do mercado financeiro administrada pelo Banco Central, onde são transacionados Títulos públicos federais (TPFs). A taxa média ajustada dos financiamentos diários apurados nesse sistema corresponde à taxa Selic.
Quem é responsável por definir a meta da taxa Selic?
O Comitê de Política Monetária do Banco Central, identificado pela sigla Copom, é o responsável por determinar a meta da taxa Selic que, segundo a avaliação do comitê, é mais adequada para assegurar a estabilidade dos preços naquele período de vigência. As reuniões normalmente ocorrem em dois dias seguidos, sendo que o calendário de reuniões de um determinado ano é previamente definido e divulgado até o mês de junho do ano anterior. No total, são realizadas oito reuniões por ano.
O que acontece depois que é definida a meta da taxa Selic?
Após a definição da taxa Selic para determinado período, o Banco Central atua diariamente por meio de operações de mercado aberto – comprando e vendendo títulos públicos federais – para manter a taxa de juros próxima ao valor definido na reunião.
O que é levado em consideração para definir a Selic?
De acordo com o Banco Central, o Copom considera critérios como a inflação, a situação das contas públicas, a atividade econômica do país e o cenário externo. No primeiro dia de reunião são apresentados os dados sobre a economia brasileira e mundial ao comitê e no segundo dia é realizada a avaliação das perspectivas da inflação, é tomada a decisão e se faz a divulgação da taxa Selic para o período.
Como a Selic influencia a economia nacional?
Entenda os efeitos de mudança na Selic, segundo explica o Banco Central:
- Quando o Banco Central altera a meta para a taxaSelic, a rentabilidade dos títulosindexados a ela também se altera e, com isso, o custo de captação dos bancos muda.
- Uma redução da taxaSelic, por exemplo, diminui o custo de captação dos bancos, que tendem a emprestar com juros menores.
Na prática
No que se refere aos efeitos práticos sentidos diretamente pelos consumidores, os efeitos das mudanças na taxa Selic funcionam da seguinte forma:
Quando a taxa Selic sobe
- Quando a taxaSelicsobe, os juros cobrados nos financiamentos, empréstimos e cartões de crédito ficam mais altos.
- Como consequência, o cenário desestimula o consumo e favorece a queda da inflação.
Quando a taxa Selic cai
- Já quando a taxaSeliccai fica mais barato tomar dinheiro emprestado, já que os juros cobrados nessas operações ficam menores.
- Essa possibilidade acaba estimulando o consumo, na medida em que o consumidor passa a ter acesso a um crédito mais barato.
Meta
A meta da taxa Selic para o período a partir de 22 de junho é de 13,75% ao ano, taxa que segue em vigência até hoje. Esta foi a sétima vez seguida que a meta foi mantida neste valor, que é o maior já definido desde janeiro de 2017 no Brasil. A manutenção da taxa pelo Copom já foi alvo de críticas por parte de economistas, empresários, ex-diretores do Banco Central e do próprio Governo Federal, já que taxas mais altas tornam o crédito também mais caro.
Quando será definida uma nova taxa Selic?
A atual meta da taxa Selic, de 13,75%, foi definida pelo Copom no dia 21 de junho, naquela que foi a quarta reunião do órgão em 2023. A próxima reunião do Copom para a definição de uma nova meta Selic deve ocorrer nos dias 1º e 2 de agosto.
VOCABULÁRIO
Banco Central do Brasil (BC) é uma autarquia federal criada pela Lei nº 4.595, de 1964, e que possui autonomia técnica, operacional, administrativa e financeira estabelecida pela Lei Complementar nº 179/2021. Entre outras atividades, a sua atuação tem como objetivo fundamental manter a inflação do país sob controle, ao redor da meta.
Títulos públicos federais (TPFs) são promessas de pagamento emitidas pelo governo do Brasil, representado pelo Tesouro Nacional. Quando emite um título, o governo torna-se devedor; já quem compra esse título financia o governo.
Comitê de Política Monetária (Copom) é o órgão do Banco Central, formado pelo seu Presidente e diretores, que define, a cada 45 dias, a taxa básica de juros da economia – a Selic.
Fonte: Com informações do Banco Central do Brasil (BC). Disponível em: https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/taxaselic; https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/copom. Acesso em: 18/07/23.