A inadimplência no Brasil segue em ritmo alarmante, com alta reincidência de dívidas e desaceleração acentuada na recuperação de crédito, segundo dados divulgados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), referentes ao mês de junho de 2025.
De acordo com o levantamento, 83,81% dos consumidores negativados no período já haviam enfrentado restrições no CPF nos últimos 12 meses. O dado representa uma leve alta em relação aos 83,48% de maio, reforçando a constância do problema. Apenas 16,19% dos inadimplentes de junho não tinham registro recente de dívidas, sendo considerados novos devedores.
Entre os reincidentes, a maioria (62,30%) não quitou débitos anteriores, enquanto 21,51% voltaram a ser negativados após conseguirem limpar o nome. O tempo médio para que ocorra uma nova dívida após a anterior foi de 72,8 dias — o que mostra como os consumidores estão caindo rapidamente em ciclos sucessivos de endividamento.
Crise da Inadimplência no Brasil
José César da Costa, presidente da CNDL, alerta para o caráter estrutural da crise. “Estamos diante de uma inadimplência que se tornou sistêmica. Quitar uma dívida, muitas vezes, significa contrair outra em condições ainda piores. O cenário econômico com juros altos, inflação persistente e renda pressionada aprisiona milhões de brasileiros em uma armadilha financeira.”
Crédito difícil de recuperar
O Indicador de Recuperação de Crédito, que mede a quantidade de pessoas que conseguem limpar o nome ao pagar suas dívidas, registrou queda de -12,57% no acumulado de 12 meses até junho de 2025. Em maio, a retração havia sido de -11,92%. A maior dificuldade está entre quem levou de quatro a cinco anos para quitar as dívidas, com redução de -17,80% na recuperação — evidenciando obstáculos mais profundos entre os endividados crônicos.
Roque Pellizzaro Júnior, presidente do SPC Brasil, defende ações mais efetivas. “A queda no número de consumidores que conseguem sair da inadimplência aponta para a necessidade urgente de medidas que promovam a educação financeira e impeçam a perpetuação desse ciclo de dívidas.”
Perfil dos Inadimplentes e Recuperação de Crédito
A maior parte dos reincidentes está na faixa etária de 30 a 39 anos (26,61%). Quanto ao sexo, 53,64% são mulheres e 46,36% homens. Já entre os consumidores que conseguiram regularizar sua situação em junho, predominam pessoas entre 50 e 64 anos (24,10%). A média de idade dos recuperados é de 47,2 anos, e o pagamento médio por pessoa chegou a R$ 2.410,68 — acima dos R$ 2.108,70 registrados em maio.
Mesmo com o aumento do valor médio pago, a maioria dos consumidores (59,86%) conseguiu quitar dívidas de até R$ 500, o que reforça o papel do microcrédito e das dívidas de pequeno valor nesse contexto.
Com a inadimplência atingindo 42,89% da população adulta, o país enfrenta um cenário preocupante de exclusão financeira e necessidade urgente de políticas públicas voltadas para o reequilíbrio das finanças pessoais.