Even Oliveira
O número de inadimplentes no Brasil continua a preocupar, conforme apontam os dados mais recentes da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Em maio deste ano, 41,79% dos brasileiros adultos estavam negativados, totalizando 68,76 milhões de consumidores. O percentual representa uma ligeira queda de 0,04% em comparação com maio de 2023, e uma redução de 0,82% em relação a abril de 2024 – o mais alto da série histórica do levantamento.
Everson Costa, supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PA), explica que essa estabilidade, apesar das variações mensais, se deve a uma combinação de fatores como o mercado de trabalho mais aquecido, colocando mais renda nas mãos das pessoas.
Segundo Costa, “a recuperação do mercado de trabalho, programas de recuperação de crédito como o Desenrola Brasil, desenvolvido pelo Governo Federal, e uma inflação mais controlada contribuíram para essa pequena redução na inadimplência. Contudo, ainda há um número significativo de pessoas que não conseguem arcar com suas contas de consumo”, explica.
Além disso, os gastos com alimentação têm um impacto direto na capacidade de pagamento dos consumidores. “O cartão de crédito que, muitas vezes é usado como extensão do salário, leva muitas pessoas a se endividarem não apenas com compras de supermercado, mas também com alimentação fora do lar. Isso cria uma bola de neve, onde as dívidas se acumulam e se tornam insustentáveis”, explica Costa.
DADOS
Os dados da CNDL e do SPC Brasil também revelam variações regionais significativas. A região Norte apresenta a maior proporção de inadimplentes, com 45,49% da população adulta negativada. Conforme o supervisor técnico do Dieese, no Pará, por exemplo, a inadimplência é exacerbada pelo elevado custo de vida combinado com baixos rendimentos.
“O Pará é a décima maior economia do país, mas a renda média é baixa, com mais de 52% da população ocupada ganhando apenas um salário mínimo. A gente tem um número de inadimplentes no Pará que chega a 2 milhões de pessoas. Isso torna difícil para muitas famílias arcarem com as despesas básicas, resultando em altos índices de inadimplência”, analisa Costa.
SAIBA MAIS
EDUCAÇÃO FINANCEIRA E CONSUMO RESPONSÁVEL
- A falta de planejamento financeiro é outro fator crítico. Costa enfatiza a necessidade de uma maior educação para o consumo e educação financeira, que poderiam ajudar a evitar a inadimplência. “O apelo ao consumo é muito forte, e sem um planejamento adequado, muitas pessoas se endividam comprando bens que não são essenciais. A educação financeira pode ensinar as pessoas a priorizar suas despesas e a evitar dívidas desnecessárias”, sugere.
Para mitigar esse problema, Costa recomenda um consumo mais consciente e racional. Ele pondera que é crucial que os consumidores saibam exatamente quanto ganham e quais são suas despesas fixas. “Devem evitar tomar empréstimos desnecessários e, sempre que possível, poupar para emergências. Programas de recuperação de crédito são importantes, mas a educação financeira é fundamental para evitar que as dívidas se acumulem novamente”.
PANORAMA NACIONAL
- A variação anual, registrada em maio de 2024, considera que a queda do indicador se concentrou na diminuição de inclusões de devedores com tempo de inadimplência de 91 dias a 1 ano, registrando uma diminuição de 13,88%.
- Em termos nacionais, o setor de bancos continua a ser o principal credor das dívidas, com 64,90% do total, seguido pelos setores de água e luz (10,88%), comércio (10,68%) e outros (7,53%). A inadimplência, embora esteja ligeiramente controlada, ainda é uma preocupação significativa, com uma média de R$ 4.445,19 em dívidas por consumidor negativado.
- O grupo etário com maior representação de devedores em maio deste ano é o de 30 a 39 anos (23,69%). Estima-se que 17,01 milhões de pessoas dessa faixa estão registradas em cadastros de devedores, o que equivale a metade (50,01%) dos brasileiros neste grupo.
- A distribuição dos devedores por gênero é bem equilibrada, com 51,14% sendo mulheres e 48,86% homens.
- Já na abertura por região em relação ao número de dívidas, a maior alta veio da região Centro‐Oeste (2,15%), seguidas pelo Nordeste (1,29%) e Sudeste (1,02%). Por outro lado, o Sul (5,64%) e o Norte (1,31%) mostraram queda no número de dívidas na comparação anual.