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FGTS Futuro para compra de casa pode ser liberado este mês

O trabalhador poderá usar até 120 meses de depósitos futuros
FOTO: Wagner Santana
O trabalhador poderá usar até 120 meses de depósitos futuros FOTO: Wagner Santana

Idiana Tomazelli e Lucas Marchesini

FOLHAPRESS

O governo deve destravar o uso do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) Futuro na compra da casa própria ainda neste mês, disse à Folha a vice-presidente de Habitação da Caixa, Inês Magalhães.

Segundo ela, o tema deve ser tratado na próxima reunião do Conselho Curador do FGTS, convocada para 19 de março. A partir da decisão, em poucos dias a Caixa já terá condições de operar sob o novo modelo. O trabalhador poderá usar até 120 meses de depósitos futuros para melhorar suas condições de financiamento.

“O FGTS Futuro vai ser importante, deve entrar na próxima agenda de março do Conselho Curador. Todos os estudos, tudo que é necessário para isso já está feito”, disse. “A solução tecnológica já foi feita, era um dos desafios. Hoje só falta a decisão. Aí, a gente em poucos dias já consegue operar”. O FGTS Futuro consiste no uso dos depósitos futuros dos empregadores no fundo do trabalhador para compor renda e ajudar a pagar as prestações do financiamento contratado no âmbito do Minha Casa, Minha Vida.

A iniciativa passará por um período de teste, direcionado a famílias que compõem a faixa 1 do programa habitacional (com renda mensal de até R$ 2.640). Depois, o governo pretende avaliar a possibilidade de atender a todos os grupos, até o limite de renda familiar de R$ 8.000.

A expectativa do governo é que cerca de 60 mil famílias com renda até dois salários mínimos sejam beneficiadas anualmente pela medida. Segundo Magalhães, a regra será não ultrapassar os 30% de comprometimento de renda.

PRESTAÇÃO

O principal gargalo, porém, é que muitas famílias hoje nem sequer alcançam este patamar. Após o estudo da capacidade de pagamento, considerando outros compromissos do lar, a prestação do financiamento que o banco se dispõe a conceder compromete um percentual menor que o teto de 30%.

Em outras palavras, isso significa que as famílias não estão conseguindo pleitear valores mais altos de financiamento porque sua capacidade de pagamento não suporta a parcela correspondente.

É aí que entra o FGTS Futuro. Os empregadores recolhem ao fundo um valor equivalente a 8% da remuneração bruta paga ao funcionário. O trabalhador não pode sacar esse recurso na hora que bem entender, mas a medida vai permitir que esse fluxo seja usado para ajudar no pagamento das prestações da casa própria.

“O FGTS Futuro pode ser uma saída para aumentar o valor que ele pode acessar. Isso vai ajudar, principalmente, as pessoas de menor renda. Pode ser uma linha divisória entre acessar ou não, ou acessar em melhor condição ou não esse financiamento”, avalia a vice-presidente da Caixa.

Em caso de demissão, a cobrança será pausada por até seis meses. Se o trabalhador não conseguir novo emprego com carteira (o que gera novo fluxo de recursos para o fundo) nem se responsabilizar pelo pagamento do valor complementar, ele ficará em situação de inadimplência.

A decisão de recorrer ao instrumento ou não é do trabalhador e vale apenas para os novos contratos. A instituição financeira deve informar as condições de uso desses depósitos, uma vez que se trata de uma antecipação de recursos.

Serviço

COMO FUNCIONA O FGTS FUTURO

A modalidade aprovada pelo Congresso Nacional em julho de 2022 permite que o trabalhador com carteira assinada complemente um financiamento habitacional com créditos futuros do FGTS como forma de caução.

Com o uso do FGTS Futuro, será possível reduzir o valor da prestação e aumentar a capacidade de pagamento em até 8% (valor depositado na conta do trabalhador do fundo mês a mês).

Inicialmente, famílias com renda mensal de até R$ 2.640 poderão utilizar o FGTS Futuro.

COMO É FEITO O CÁLCULO

Pela medida, as parcelas futuras do FGTS poderão ser incorporadas à base de cálculo da capacidade de financiamento, como se fosse uma renda extra.

O banco fará uma simulação a partir dos depósitos mensais atuais do empregador à sua conta do FGTS em nome do trabalhador.

A diferença necessária para quitar a parcela será paga todo mês, de forma automática, pela Caixa Econômica Federal à instituição na qual o trabalhador fará o financiamento, com o dinheiro que iria para a sua conta no Fundo de Garantia gerenciada pela Caixa.

Pelas regras do Minha Casa, Minha Vida, o mutuário pode comprometer até 30% da renda familiar mensal como a parcela do imóvel. Por exemplo, se a família comprovar renda de R$ 2.640, poderá contratar até R$ 129,4 mil em financiamento e pagar parcelas de até R$ 791, segundo a Caixa.

Se, no entanto, sua capacidade efetiva de pagamento permite honrar uma prestação menor, de R$ 580 (22% da renda), o financiamento só com essa renda seria de R$ 93,6 mil.

O uso do FGTS futuro, neste caso, permitiria direcionar o fluxo de depósitos para cobrir a diferença de R$ 211 – nesse cenário, o incremento no valor do crédito seria de R$ 17,8 mil, elevando o empréstimo total a R$ 111,4 mil.

Os recursos do fundo ficarão bloqueados até o pagamento da dívida. Se o trabalhador for demitido, ele terá de assumir a parcela que vinha do depósito do ex-empregador no FGTS. Se ficar inadimplente, pode perder o imóvel.