Nos últimos anos, um fenômeno econômico conhecido como “inflação invisível” ou “reduflação” tem chamado a atenção dos consumidores e especialistas financeiros. Embora os preços de muitos produtos aparentemente se mantenham inalterados nas prateleiras, o que ocorre é uma redução na quantidade ofertada, mascarando um aumento real no custo de aquisição. Para o consumidor, o impacto é claro: pagar o mesmo valor por uma quantidade menor de produto ou serviço, sem necessariamente perceber que está sendo afetado.
O presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Pará (CRC-PA), Ailton Ramos, explica que a inflação invisível resulta de uma estratégia adotada pelas empresas para não repassar diretamente ao consumidor os impactos inflacionários em seus custos. “É como se há um ano o pacote de sabão em pó de 1 quilograma (kg) custasse R$15 e, hoje, ele custasse o mesmo, mas com uma embalagem reduzida para 800 gramas”, exemplifica. “As empresas começaram a camuflar para que os consumidores não sentissem tanto a inflação no bolso”.
O contador relembra que esse movimento se popularizou ganhando maior espaço no setor de alimentos e inclui produtos como biscoitos e leite condensado, onde embalagens menores e porções reduzidas são cada vez mais comuns; mas vai além e tem sido observada em serviços, como no setor de viagens, onde os lanches disponibilizados por companhias aéreas, antes inclusos na passagem, são removidos sem alterações no preço final.
TRANSPARÊNCIA
Apesar de ser legal, essa prática exige transparência: a diminuição deve ser informada ao consumidor, o que geralmente ocorre em letras pequenas nas embalagens. “Quando isso não ocorre, o consumidor tem o direito de denunciar ao Procon [Procuradoria de Proteção e Defesa do Consumidor] ou às demais autoridades competentes”.
Os setores preferem essa abordagem em vez de um aumento nos preços, mas isso não significa que o consumidor esteja livre da inflação. O contador esclarece que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) calcula a inflação do país e que, embora o índice tenha recuado em alguns períodos, nem sempre reflete a realidade percebida pelo consumidor.
“Sobre a medição da inflação, vamos considerar o cálculo da cesta básica, que compara os preços no início e no final do mês. Se a cesta custou inicialmente R$100 e no fechamento R$102, temos o aumento de 2% na inflação; então a gente relembra o caso do sabão em pó, em que o preço da cesta aumenta e o salário do trabalhador geralmente não acompanha, e o impacto é direto no bolso”.
O especialista aconselha os consumidores a observarem cuidadosamente as embalagens, comparando pesos e quantidades a cada compra. “Quem está atento ao que compra mensalmente vai perceber rapidamente quando um produto mudou”. E para aqueles que desejam evitar surpresas desagradáveis, a dica é sempre conferir o peso ou o volume nas embalagens.