BALANÇO POSITIVO

Crédito do Trabalhador fecha 1.494 contratos realizados na estreia

Até as 18h de hoje, segundo dados informados pela Dataprev, foram simulados 15.098.810 pedidos de empréstimos.

Até as 18h de hoje, segundo dados informados pela Dataprev, foram simulados 15.098.810 pedidos de empréstimos.
Até as 18h de hoje, segundo dados informados pela Dataprev, foram simulados 15.098.810 pedidos de empréstimos.

Trabalhadores com carteira assinada começaram a ter acesso à nova plataforma do governo para concessão de empréstimo consignado com desconto em folha de pagamento, batizada de Crédito do Trabalhador. No primeiro dia, foram registradas 15 milhões de simulações e 1,58 milhão de solicitações de propostas às instituições financeiras. No total, foram fechados 1.494 contratos de empréstimo. Com a demanda aquecida, a plataforma disponível na Carteira Digital do Trabalhador apresentou instabilidade.

Especialistas avaliam que a nova modalidade de empréstimo vai acirrar a disputa entre bancos e fintechs e deve resultar em juros mais baixos. Até então, o consignado privado dependia do fechamento de acordo entre instituições financeiras e empresas, o que acabava por restringir o acesso a empregados de grandes companhias. Além disso, com a plataforma a expectativa é de condições mais vantajosas, pois havia preocupação no setor financeiro no modelo tradicional com a inadimplência em casos como a perda de emprego. Na nova plataforma há uma espécie de leilão. Os bancos apresentam propostas, e o trabalhador escolhe a que considerar melhor.

A iniciativa é também uma aposta do governo para recuperar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afetada pela crise do Pix e pela inflação de alimentos. Nesta sexta, Lula usou as redes sociais para falar sobre o novo programa:

– Você que é trabalhador CLT, ou empregado do MEI, empregado ou empregada doméstica ou trabalhador rural, fique sabendo o seguinte: o crédito do trabalhador já está disponível a partir de hoje (nesta sexta-feira) na sua carteira de trabalho digital. É um crédito a juros baixo para você fazer aquela reforma, comprar uma geladeira, trocar a televisão ou fazer o que você quiser. Ou até pagar uma dívida que você tem que tem um juros mais alto. Você pode resolver grande parte dos seus problemas.

Mas a recomendação geral dos analistas é que o trabalhador deve buscar quitar dívidas mais caras com o novo crédito ou ter cautela antes de contrair novo empréstimo para evitar o endividamento excessivo. Economistas avaliam que os sinais de uma corrida por crédito barato deve ter impacto na inflação e, consequentemente, nos juros.

A avaliação é que o programa vai injetar mais recursos na economia e estimular o consumo das famílias em um momento de juros elevados.

Economistas explicam que a substituição de dívidas mais caras por outras mais acessíveis tende a manter mais recursos na mão dos consumidores. No entanto, não confere sustentabilidade ao crescimento econômico e acende uma “luz amarela” sobre a inflação, dificultando o trabalho do Banco Central de esfriar a atividade com a alta da taxa básica de juros, atualmente em 14,25% ao ano.

Fábio Bentes, economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), considera a medida positiva porque se alinha à necessidade de redução estrutural das taxas de juros no país. De imediato, ele entende que a modalidade reduz o custo das dívidas das famílias, que atualmente enfrentam altas taxas no cartão de crédito e no rotativo.

– O problema é que o consumidor pode perceber no crédito mais barato um estímulo adicional para consumir mais e não reduzir o seu grau de endividamento. E aí vai caber mais uma vez ao BC enxugar esse excesso de liquidez na liberação de recursos. Então, do ponto de vista conjuntural, vai produzir efeitos positivos de curto prazo, mas cria problemas adiante – afirma. – Faz sentido para alavancar o consumo, mas vai colocar mais gasolina na fogueira da inflação.

Dados do Banco Central mostram que o nível de endividamento das famílias voltou a subir no fim do ano passado, após certa estabilidade no primeiro semestre. Em dezembro, o nível de comprometimento de renda das famílias com dívidas chegou a 48,32%. Trata-se do maior patamar desde junho de 2023, quando ficou em 48,40%. O movimento ocorreu em meio ao ciclo de alta de juros, que deixa o crédito mais caro.

Alessandra Ribeiro, economista da Tendências, aponta que a nova modalidade pode impulsionar o consumo no curto prazo. A Tendências projeta alta de 1,7% para o consumo das famílias, após avanço de 4,8% no ano passado.

– O governo adota uma medida que dá suporte ao consumo quando se tenta esfriá-lo para controlar os preços. Não estamos prevendo que o consumo cresça tanto quanto no ano passado, mas talvez fique mais resiliente e dê mais trabalho para o Banco Central.

Para Katherine Hennings, economista e pesquisadora associada do FGV Ibre, o acesso à nova modalidade traz riscos de aumento do endividamento e possível aumento da inadimplência, especialmente entre trabalhadores que ganham menos.

– Entre quem ganha de dois a três salários mínimos, a inadimplência é bem mais alta. E são essas pessoas que também sofrem com a inflação. E seriam elas, inclusive funcionários de MEIs, que devem ter acesso.

Delber Lage, CEO da SalaryFits, empresa adquirida pela Serasa Experian, alerta que a taxa de juros do consignado privado não será necessariamente mais baixa para todos. Isso porque há fatores como o risco do empregador e a questão operacional. Empresas menores, terceirizadas ou com alta rotatividade tendem a ter juros mais altos.

Texto de: Geralda Doca, Carolina Nalin e Bruna Lessa (AG)