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Consumidor paraense dá dicas de como comprar alimentos

Mais que uma necessidade, aquisição de alimentos obriga consumidores a abrir mão de marcas mais caras por aquelas mais em conta

Foto: Ricardo Amanajás / Diário do Pará
Foto: Ricardo Amanajás / Diário do Pará

O ano passado terminou com uma má notícia para o trabalhador paraense: o valor da cesta básica ficou 5% mais caro em dezembro, em Belém, segundo dados do Dieese Pará. A mesma pesquisa aponta que o custo da cesta básica compromete boa parte do salário mínimo do belenense, com R$ 697,81 destinados aos itens alimentícios essenciais.

Na hora das compras, os consumidores também adotam estratégias, como evitar determinados produtos e optar por marcas mais em conta, para fugir da inflação. A pesquisa sobre estabelecimentos que oferecem promoções é outra dica que pode ajudar a reduzir a conta. Elma Cruz, 70, professora aposentada, aponta o café como o maior vilão do momento. Ela tem buscado opções de marcas menos tradicionais e evitado preparar o produto fora do período da manhã. Outra dica da aposentada é acrescentar mais leite – um dos produtos que teve redução de preço – em maior quantidade do que o café puro.

“Eu comprava por 8, 9 reais – olha para quanto ele ficou. O Santa Clara está, olha, a R$ 14,78. Eu gosto do descafeinado, mas está custando 20 reais. O jeito vai ser levar o normal. A minha técnica é tomar menos café, mas só um pouquinho, apenas para sentir o gosto do café. Fico com água de café ”, conta.

Outro problema apontado pela aposentada foi a reduflação de alguns alimentos. A reduflação é uma estratégia comercial que consiste em diminuir o peso dos produtos sem alterar o preço cobrado. Ela relata que o pacote de leite que costumava comprar passou por esse processo. “Antes, era por volta de 300 gramas. Agora, está com 200 gramas e mais caro. Então, eu prefiro levar esse de 500g. Na verdade, eles dizem 500, mas nunca tem essa quantidade – tem menos. Não dura o mês inteiro, mas dura pelo menos uns 15 dias, porque é só para o café da manhã. E eu gosto mais do leite do que do café. Isso ajuda a economizar em casa”, explica.

O fotógrafo João Ramid, 68, é fã de culinária italiana e de massas em geral. Por conta disso, ele costuma preparar o próprio molho de tomate para as receitas, pois não gosta dos industrializados. A preferência de Ramid vai de encontro ao maior problema apontado na pesquisa de dezembro: o tomate. “Eu gosto de fazer molho de tomate, por isso compro bastante. Esse tomate, que eu gastava 10 reais para fazer um molho que duraria uma semana ou quinze dias, hoje custa 30 e poucos reais. São quase 200% de aumento em um ano, na quantidade que preciso”, relata.

Ramid conta ainda que morar sozinho facilita a adaptação do orçamento da cesta básica, mas, mesmo assim, ele continua sendo bastante impactado pela alta inflação dos alimentos. “Não é só o tomate, não. Se você analisar o preço da carne, eu queria entender qual é a matemática. Por exemplo, se você vai em Ananindeua, Marituba, Benevides, Santa Izabel, na Grande Belém, um quilo de filé custa 55 reais. Aí você chega num supermercado e paga cento e poucos reais no quilo. Por que isso?”, reclama.

SAÚDE

A tentativa de driblar os preços, trocando alimentos saudáveis por opções ultraprocessadas mais em conta, pode acarretar em problemas graves para a saúde dos brasileiros.

“A alta dos preços faz com que a mágica de fazer o dinheiro render entre em ação e, aí, é natural abrir mão do consumo de proteínas de alto valor sendo feita a troca por proteínas enlatadas – como salsicha e carne enlatada –, que sabemos ser alimentos ultraprocessados e não benéficos à saúde. Eles podem estar correlacionados com diversas doenças crônicas que afetam quem os consome”, alerta a nutricionista Jamile Khaled.

Outro movimento comum, segundo a especialista, é a diminuição do consumo de frutas frescas e vegetais, os quais são preteridos em favor de produtos menos perecíveis e mais baratos. De acordo com Khaled, a proteína animal é fundamental e alguns ajustes podem ser feitos para adequar o consumo destes alimentos ao orçamento das famílias.

“O perfil da carne pode mudar, você pode optar por uma carne de segunda, consumir mais frango ou ovos, que são alimentos de alto valor biológico, muitas vezes negligenciados ou com restrições de consumo. Além disso, as proteínas vegetais são uma opção quando o preço das proteínas animais aumenta consideravelmente. Nessa situação, poderíamos recorrer a feijões, ervilhas, soja e cogumelos, que podem substituir as proteínas animais”, elenca.