As transformações e facilidades como Pix mudaram a realidade do pagamento de contas e tornaram o processo mais ágil. Porém, as fraudes virtuais fazem com que consumidores ainda procurem os postos de atendimento presencial para realizar operações financeiras. A preocupação tem justificativa: os golpes digitais vitimaram mais de 40 milhões de brasileiros com mais de 16 anos, em 2024. A pesquisa do instituto DataSenado aponta que esse número expressivo já perdeu alguma quantia em dinheiro em decorrência de crimes cibernéticos como clonagem de cartão, fraude na internet ou invasão de contas bancárias.
Foi o caso da estudante Renata Ribeiro, 22, que procurou uma agência lotérica no bairro da Sacramenta, em Belém, para quitar algumas dívidas. “Eu já fui vítima pagando um boleto no Pix. Para mim constava como pago, mas o pagamento foi para outro lugar e eu não consegui recuperar o dinheiro”, afirma. Para garantir a segurança e fugir de outro golpe, ela prefere fazer o pagamento presencial na agência. Segundo o levantamento do DataSenado, os golpistas não escolhem renda, escolaridade, faixa etária ou sexo. As pessoas que relataram ter perdido dinheiro com os crimes virtuais têm proporção semelhante às características socioeconômicas da população brasileira.
Entre os idosos, o receio de usar os aplicativos para pagamento é frequente, o que motiva a procura por uma lotérica ou banco. “Alguns tributos e questões do INSS ainda exigem pagamento no boleto. Já recebi clientes que tinham o QR Code para fazer o Pix, mas preferem pagar direto no caixa mesmo”, esclarece o gerente da casa lotérica no IT Center, na Sacramenta, Júlio Cézar Vilhena.
Atendimento presencial
Nessa unidade, a maior parte do público que procura atendimento para quitação de dívidas são da terceira idade. A aposentada Inês Cunha, 73, é uma dessas pessoas. “Aqui tem menos dificuldade, cheguei e foi rápido. Se eu fosse em um banco seria uma fila grande e iria demorar mais”, relata.
Mesmo quem tem habilidade em manejar a tecnologia presente nos celulares deve ficar atento. O professor Abel Oliveira, 57, esperava o atendimento em uma unidade da Caixa na avenida Dr. Freitas para realizar alguns pagamentos e relatou que por pouco não pagou um boleto falso. “Estava em outra lotérica e o código de barras deu erro. Fui verificar e vi que era um boleto falso. A facilidade existe, mas acontecem essas situações que nos deixam descrentes”. O Banco Central (BC) orienta que, atualmente, todos os boletos emitidos por bancos são registrados conforme convenção. Isso significa que os dados dos beneficiários dos boletos sempre aparecem quando a pessoa vai pagar o boleto e que os boletos podem ser pagos em qualquer banco.
Como a pessoa deve agir
Se a vítima pagou um boleto indevidamente, o primeiro passo é entrar em contato com o banco de origem para relatar o caso e contestar. Se a quantia foi paga via Pix, o cliente deve solicitar a devolução dos valores através do MED (Mecanismo Especial de Devolução). O mecanismo é exclusivo do Pix e foi criado para facilitar as devoluções em caso de fraudes, aumentando as possibilidades de a vítima reaver os recursos. Em paralelo, é recomendável registrar um Boletim de Ocorrência. Outras dicas do BC incluem:
- Ao pagar um boleto, verificar se o nome do beneficiário do pagamento é uma pessoa física ou a empresa contratada, e se o banco destinatário é o mesmo que consta no boleto. Se tiver alguma informação diferente, é melhor não fazer o pagamento
- Desconfiar de código de barras com falhas e evitar ligar no telefone inscrito no boleto, porque pode ser do próprio golpista, esperando para passar instruções para pagar diretamente na conta dele
- Entrar em contato direto com a prestadora de serviços que deveria gerar o boleto, encontrando seu contato em meios oficiais, como sites, por exemplo
- Não imprimir o boleto fora do site ou e-mail oficial do serviço que contratou.