NATHALIA GARCIA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central voltou a ignorar a pressão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de empresários pela redução dos juros e manteve nesta quarta-feira (21) a taxa básica (Selic) em 13,75% ao ano.
A sustentação da Selic no atual patamar veio em linha com a projeção consensual do mercado financeiro de que os juros ficariam estáveis pela sétima vez consecutiva -a quarta desde o início da gestão petista. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que essa era a expectativa unânime entre os analistas consultados.
Antes da reunião, o BC voltou a ser alvo de críticas. Além da pressão de Lula e de seus ministros, um grupo de 51 integrantes do Conselhão (Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Presidência da República), dentre eles a empresária Luiza Heleno Trajano, escreveu uma carta aberta pedindo corte de juros. Houve ainda um protesto em frente ao prédio do BC em São Paulo, na terça-feira (20), promovido por centrais sindicais.
Os apelos levaram em conta que o cenário econômico doméstico apresentou melhora desde o encontro anterior do Copom, em maio, com desaceleração da inflação corrente e apreciação do câmbio -influenciada pela revisão da perspectiva do Brasil para “positiva” pela agência de classificação de risco S&P Global Ratings.
Em maio, o índice oficial de inflação do Brasil desacelerou para 0,23%, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No acumulado em 12 meses, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) recuou para 3,94% -a menor variação para o mês desde 2020.
O ambiente mais favorável se traduziu em viés de queda nas expectativas de inflação nas últimas semanas. Segundo o boletim Focus, divulgado na segunda-feira (19), a projeção dos analistas para o IPCA deste ano foi revisada de 5,42% para 5,12%. Para o ano que vem, a expectativa caiu para 4%. Para 2025, a estimativa dos economistas está em 3,8% -acima do centro da meta.
A decisão do colegiado do BC foi tomada uma semana antes da reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional), agendada para o dia 29, quando os ministros da Fazenda (Fernando Haddad) e do Planejamento e Orçamento (Simone Tebet), além do presidente do BC (Roberto Campos Neto), devem debater as metas de inflação.
O presidente Lula sinalizou anteriormente o desejo de mudar os alvos da autoridade monetária, enquanto Haddad defendeu um ajuste no horizonte da meta de inflação. Atualmente, os objetivos perseguidos pelo BC são 3,25% neste ano e 3% em 2024 e 2025, com intervalos de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
No âmbito fiscal, o desenho definitivo da nova regra para controle das contas públicas ainda é dúvida. Com as mudanças promovidas pelo Senado, o texto voltará para a Câmara dos Deputados, que terá a palavra final sobre o arcabouço. Segundo o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), a votação ocorrerá na semana de 3 a 7 de julho.
Com 2024 na mira, o colegiado do BC volta a se reunir nos dias 1º e 2 de agosto para recalibrar o patamar da taxa básica.
O ciclo de alta de juros foi interrompido pelo Copom em setembro de 2022 depois de o BC promover o mais agressivo aperto da política monetária desde a adoção do sistema de metas para inflação, em 1999.
Foram 12 aumentos consecutivos entre março de 2021 e agosto do ano passado, com elevação de 11,75 pontos percentuais. A taxa básica saiu de seu piso histórico (2%) até atingir o nível atual de juros -o mais alto desde o fim de 2016.