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Aprenda a falar sobre finanças com crianças sem complicação

Felipe Lira é pai de Bernardo, 7 anos, e Guilherme, 9 anos. O médico garante que os meninos aprendem desde cedo a dar valor para o dinheiro. Foto: Divulgação
Felipe Lira é pai de Bernardo, 7 anos, e Guilherme, 9 anos. O médico garante que os meninos aprendem desde cedo a dar valor para o dinheiro. Foto: Divulgação

Luiz Octávio Lucas

Felipe Lira é pai de Bernardo, 7 anos, e Guilherme, 9 anos. O médico garante que os meninos aprendem desde cedo a dar valor para o dinheiro. Na casa deles, educação financeira é tratada como prioridade na formação dos filhos.

“É algo que os meninos presenciam diariamente. A importância de se investir é algo que está cada vez mais solidificado nos pensamentos deles. Conversamos sobre o porquê de se investir, quais empresas se encaixam melhor em nossa forma de investimento, modo de operação de investimento. Estudamos juntos sobre as perspectivas de crescimento das ações e montamos um plano de investimentos. Tudo de forma que eles entendam”, afirma.

Questionado se Bernardo e Guilherme gostam do assunto, Felipe é enfático. “Eles adoram! Se empolgam bastante, pois acreditamos que quando a criança vivencia em sua rotina toda essa prática, ela se torna agente ativa no processo financeiro”, avalia.

“Para deixar tudo bastante real, discutimos ao final do dia a possibilidade de crescimento de algumas ações, as quedas e elevações do dia, bem como analisamos o seu seguimento e assim eles conseguem escolher suas próprias ações para investirem”, completa.

A conversa sobre investimento em ações não é para  impressionar a reportagem, deixa claro o médico. “Por aqui, ao invés de receberem mesadas e guardarem em seus respectivos ‘cofrinhos’, eles escolhem as ações e compram com seu próprio dinheiro”, detalha.

“Porém, o dinheiro por aqui não é dado. É conquistado! Meu filho menor, por exemplo, vende origami para os amiguinhos. Outra forma de conquistar dinheiro é através de pequenos serviços em casa além de suas obrigações diárias”, conta.

O rigor com as finanças é justificado. “Sempre tive em mente que dinheiro se conquista e procuro repassar isso para eles e assim tem dado muito certo. A cada escolha que eles fazem, solidifica ainda mais a conscientização deles sobre gastos excessivos, valores elevados das coisas e assim conseguem ter o discernimento de economizar para arrecadar e investir pequenos montantes”, pontua o médico.

“Escolhas simples acontecem diariamente como, por exemplo, ao invés de enchê-los de brinquedos que, na maioria das vezes, nem brincariam, eles escolhem ações que apresentam boa perspectiva de crescimento. Sempre pensando no longo prazo”.

O pai educador financeiro destaca que o foco é no futuro. “Deixamos bem claro a importância de nunca utilizar o capital e sim os dividendos das empresas das quais somos acionistas. Eles entendem tudo com clareza”, diz.

“Acredito que o meio em que a criança está inserida é extremamente importante, bem como a questão da educação. Em casa, eles praticam a matemática, a leitura e utilizam brinquedos de forma a somar para o desenvolvimento racional, lógico e educacional deles”, continua.

“Com uso cauteloso das telas, apenas aos finais de semana e com tempo determinado, conseguimos orientá-los melhor, de forma objetiva, e eles conseguem compreender a importância das coisas, bem como seus valores”.

O papai observa ainda que essa é a maior contribuição que dá na formação da dupla. “Aqui em casa eu e Natali, minha esposa e mãe dos meninos, somos muito parceiros. Dividimos tarefas, ela cuida de 90% e eu ajudo com a parte de educação financeira. A parceria e alinhamento do casal resulta positivamente na educação das crianças”.

 

ESPECIALISTA DÁ DICAS

A forma com que Felipe Lira trabalha a educação financeira das crianças é atestada como positiva por Luan Sinimbu, especialista em investimento da XP no Pará. Não é obrigatório que os pais entendam de bolsa de valores e ações para mostrar a importância de saber lidar com dinheiro junto aos filhos, mas é preciso repassar o senso de responsabilidade.

“Para que uma pessoa seja organizada financeiramente é necessário ter disciplina, praticando constantemente no dia a dia, até que se torne um hábito. Esse hábito de lidar com dinheiro, sem dúvida, vai proporcionar uma vida financeira mais tranquila, principalmente quando criado na infância”, analisa.

“Quanto mais cedo a conversa começar, e quanto mais lúdico o assunto for apresentado, as chances dele ser aceito e assimilado são maiores”, comenta Luan.

Contudo, é preciso respeitar a fase de vida dos pequenos. “É fundamental também assimilar o estágio de aprendizado da criança. Não adianta falar de juros compostos para uma criança bem pequena ou algo mais simples para uma criança mais velha”, frisa. “É preciso adaptar o que for possível para o estágio da criança. É importante que a pessoa responsável pela criança seja alguém que organize suas finanças de forma clara, ao ponto de ter reservas para cada momento de vida, como fazer uma viagem, ir ao supermercado ou mesmo comprar um brinquedo de uma forma periódica”, sugere.

“Desta forma, isso fará com que a criança crie uma memória afetiva no futuro, para também se organizar financeiramente. Outra sugestão é trocar a mesada por ‘semanada’, trocar o cofrinho, criar outra ferramenta que permita à criança visualizar o acúmulo de dinheiro”, ensina o especialista. “O responsável pela criança também deve explicar os porquês de ter aumentado a quantidade de dinheiro. Inclusive, não menos importante, pode estabelecer metas de ganhos e gastos com a criança”.

CONFIRA AS DICAS 

Como ensinar educação para crianças

– Introduza o assunto logo o mais cedo possível.

– Adeque a linguagem de acordo com a idade da criança.

– Ensine pelo exemplo: se os pais têm uma boa organização financeira, os filhos tendem a encarar de um jeito parecido.

– Mesada, semanada ou quinzenada, o nome e a frequência variam de acordo com a idade da criança. O recomendado é que crianças mais novas não recebam todo o dinheiro de uma vez, pois são mais impulsivas e não têm noção de tempo.