Pará

Você Empreendedor: Quando o crescer se torna um esforço coletivo

Vitor Alves promove ações tecnológicas e sustentáveis da Amazônia por meio da associação “Açaí Valley”
Vitor Alves promove ações tecnológicas e sustentáveis da Amazônia por meio da associação “Açaí Valley”

Ana Laura Costa

A criatividade de empreendedores amazônidas é tão fértil quanto a própria Amazônia e, quando iniciativas trabalham o terreno para dar espaço e fomentar projetos sustentáveis, quem ganha, principalmente, é a comunidade local.

Exemplo disso é a Associação Paraense de Tecnologia e Inovação, “Açaí Valley”, que impulsiona o ambiente tecnológico e sustentável na Amazônia, por meio de eventos e parcerias que conecta empreendedores locais tanto a investidores, quanto a universidades, aceleradoras e à esfera pública, fortalecendo oportunidades.

O presidente da Associação, Vitor Alves, de 35 anos, avalia que, anteriormente, a Amazônia era considerada desconectada entre si e distante de outros hubs de inovação no Brasil e no mundo, mas isso não corresponde mais à realidade atual.

“Estou nesse meio desde 2010, e no passado, vi muitos projetos na Amazônia com grande potencial não darem certo por falta de incentivo. Hoje, vejo um ambiente muito mais fértil e propenso à inovação. Estou muito feliz com o surgimento de startups e outras empresas que têm a sustentabilidade como parte integrante de seus modelos de negócios, tornando-nos exemplo para o resto do mundo nesse aspecto”, destacou.

Segundo Alves, atualmente o Açaí Valley conta com cerca de 50 empreendedores associados, mas também com um braço importante que é a comunidade aberta, no site acaivalley.com.br, com mais de 1.300 atores mapeados e 400 pessoas ativas diariamente nos grupos de comunicação e cooperação da associação.

“Na comunidade aberta, compartilhamos diariamente oportunidades que variam desde bolsas de estudo até viagens internacionais financiadas por entidades de fomento à inovação. Este ano, já conseguimos enviar empreendedores para os EUA, Europa e Ásia, por exemplo”, destacou.

Ainda de acordo com o presidente, as iniciativas ligadas à associação, são de segmentos variados com destaque para Edtechs, que fazem uso de alguma forma de tecnologia para serviços voltados à educação; Fintechs, que introduzem inovações no mercado financeiro; e Bioeconomia, que buscam equilíbrio entre crescimento e sustentabilidade na Amazônia. “Nossas empresas e tecnologias estão contribuindo para aumentar o impacto social e reduzir o impacto ambiental dentro e fora da Amazônia” disse.

COP 30

Já no ritmo para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), em 2025 na capital paraense, Vitor Alves comenta que a associação tem percebido o interesse de startups com preocupações ambientais, na preparação para receber o evento.

“Estamos divulgando amplamente as oportunidades que a COP 30 já está trazendo. Na comunidade do Açaí Valley, diariamente são compartilhados editais de fomento, informações sobre investidores, treinamentos, missões empresariais, parcerias e tudo o que for necessário para que a Amazônia esteja preparada para mostrar ao mundo que desenvolvemos tecnologia e inovação de qualidade. Estamos fazendo um esforço para mostrar ao mundo a tecnologia desenvolvida aqui, incluindo inteligência artificial de ponta, realidade virtual, automação, projetos em nuvem e bioeconomia”, explicou.

Vitor Alves acredita que conectar as pessoas têm demonstrado o potencial empreendedor da Amazônia. No entanto, reforça que é necessária maior divulgação dos feitos locais, além de investimentos. “Em resumo, se dermos importância e espaço para a inovação e seus atores, em 2025, poderemos mostrar ao mundo que a Amazônia pode ser referência em tecnologia e empreendedorismo sustentável”, frisou.

ECONOMIA VERDE

“A loja Aldeia Verde é a culminância e a materialização de um processo que tem como objetivo incentivar reflexões sobre nosso modo de produção e consumos, e também o fomento à economia verde e à economia circular”, explica Soraya Costa, de 51 anos, co-fundadora do Instituto Alachaster, organização socioeconômica sustentável que promove negócios sociais por meio do apoio de pequenos empreendedores da região.

Soraya Costa, de 51 anos, co-fundadora do Instituto Alachaster, organização socioeconômica sustentável que promove negócios sociais por meio do apoio de pequenos empreendedores da região.

A Aldeia Verde – loja colaborativa ligada ao grupo Alachaster, começou com um programa de coleta de resíduos domiciliar pago, onde eram oferecidas mudas de plantas, adubo orgânico, biofertilizante, como uma espécie de brindes aos assinantes.

“Nessa época, começamos a conhecer outros empreendedores e empreendedoras que trabalham com produtos naturais ou produzidos com reaproveitamento de material. Então, percebemos que já havia uma demanda local por um estilo de vida sustentável e que as pessoas queriam comprar esses produtos que as ajudariam a desenvolver esse novo estilo de vida. Assim surgiu a ideia da loja”, contou.

No espaço físico, a Aldeia Verde mantinha uma lista de empreendedores locais com mais de 160 nomes de Belém e de outros municípios do Estado. De artigos feitos de reaproveitamento de materiais a cosméticos naturais com matéria-prima da Amazônia, tudo era encontrado e comercializado. Soraya, conta como a loja colabora nesse processo.

“Eles buscam vitrine para seus produtos e um apoio acessível para o processo de comercialização, pois os pequenos empreendedores, em sua maioria, fazem desde a aquisição da matéria-prima até a venda e pós-venda. Isso é muito cansativo e os restringe muito, pois não podem se dedicar tanto ao processo criativo e produtivo. Então, num negócio que depende de vendas, eles poderiam vender muito mais se tivessem um canal de divulgação, venda e pós-venda continuado e não limitado somente às feiras itinerantes e sazonais”, disse.

No entanto, desde o início deste ano, a loja colaborativa passa por mudanças e continua divulgando, virtualmente, os produtos feitos por mãos paraenses. Em 2024, a loja vai focar na Economia Circular – que visa prolongar a vida útil dos recursos.

“Mesmo que o produto seja “verde”, traga uma proposta sustentável, o que fazemos com ele ou com a embalagem quando acaba ou quando não nos serve mais? A economia circular propõe aumentar a vida útil do produto, por meio do reuso e do reaproveitamento, e a loja quer trazer algumas respostas a essa questão de forma prática e concreta, através de produtos, serviços, e principalmente, experiências”, explicou.

Além de dar espaço aos empreendedores locais, Soraya compreende que contribuir para comportamentos mais sustentáveis também é papel da loja junto aos empreendedores que integram o mercado.

“A mudança para um estilo de vida sustentável passa por um processo de reflexão, compreensão e tomada de atitude. Só falar não é suficiente. Mostrar somente também não gera o resultado esperado. É necessário gerar uma ação e experiência. E ao reunir esses produtos, contar suas histórias e falar de suas origens, é possível incentivar a reflexão nas pessoas e ajudá-las a compreender o que é economia circular, economia verde e consumo consciente”, ressaltou.