Pará

Visão sustentável é janela de oportunidade para empreender

Noanny Maia ajudou a família a criar a Cacauaré
Noanny Maia ajudou a família a criar a Cacauaré

Ana Laura Costa

Em junho deste ano, o secretário do Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, Côrrea do Lago, estimou que Belém deve receber cerca de 50 mil visitantes para a COP-30, em 2025. Entre estes, estarão líderes globais, governos, ONG’s, empresas, que oportunizam aos empreendedores da região a oportunidade de fortalecer as marcas, conectar seus negócios junto a influenciadores e potenciais parceiros, mas também fincar o engajamento com a sustentabilidade.

PRESENÇA

“Participar da COP-30 é crucial para empreendedores com foco na sustentabilidade. Ao expor negócios neste evento e participar do networking, o empreendedor não apenas amplia sua visibilidade, mas também demonstra compromisso com práticas sustentáveis”, frisa Paulo de Tarso Melo, advogado, mestre em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação.

O advogado entende que a presença na COP-30 proporciona acesso a líderes de pensamento, potenciais parceiros e investidores alinhados aos valores ambientais, fortalecendo as conexões e oportunidades de colaboração. Além disso, destaca.

“A participação reforça a imagem da empresa como parte ativa na busca por soluções e inovações sustentáveis, o que é cada vez mais valorizado pelos consumidores e investidores engajados com a responsabilidade ambiental”.

Paulo de Tarso Melo, advogado, mestre em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação.

Paulo de Tarso Melo, pontua ainda que no atual cenário – com o mundo e, principalmente, a Amazônia na pauta global das mudanças climáticas – a ênfase em práticas sustentáveis e responsabilidade atual é ainda mais possante.

Segundo ele, empreendedores que compreendem este momento como uma janela de oportunidades, também devem alinhar suas estratégias a práticas verdadeiras e efetivas, correspondendo às expectativas do mercado por negócios que não apenas visam a lucratividade, mas de fato consideram o impacto social e ambiental de suas operações.

“A ênfase na transparência, inovações verdes e a busca por parcerias sustentáveis são elementos-chave nesse cenário, onde a conscientização ambiental dos consumidores e pressões regulatórias impulsionam a necessidade de práticas empresariais mais responsáveis”, enfatiza.

PREPARAÇÃO

O advogado também é sócio fundador do escritório de advocacia Ferreira Melo Barroso (FMB Advocacia) – que trabalha na gestão de propriedade intelectual e presta assessoramento e consultoria a empreendimentos, cooperativas, associações e empreendedores individuais para aplicação de práticas de sustentabilidade, empregando valores ESG (ambiental, social e governança).

Novamente, o registro de marcas de produtos e serviços, depósito de patentes, reconhecimento de indicações geográficas, proteção autoral e adequação de contratos, estatutos e regimentos às práticas ESG, se mostram indispensáveis na preparação para o terreno fértil da COP-30, aflorar os empreendimentos da região.

“Isso não apenas fortalece a sustentabilidade dos empreendimentos, mas também cria uma narrativa poderosa e verdadeira, onde se alia sustentabilidade  e ganho social e econômico. Ao conectar esses empreendimentos com influenciadores e potenciais parceiros de negócios, destaca-se a responsabilidade ambiental e social, gerando diferenciação no mercado e promovendo uma imagem positiva da empresa num mercado global que está cada vez mais alinhado e exigente em relação a essa pauta. A abordagem integrada não só atrai colaboradores, investidores e consumidores conectados aos valores sustentáveis, mas também contribui para a preservação da Amazônia, alinhando-se com os objetivos de conservação e desenvolvimento sustentável”, destacou.

Mas além de preparar os negócios, é bom que os empreendedores também se preparem individualmente, enquanto profissionais. De acordo com o advogado, isso inclui possuir conhecimento sobre o próprio empreendimento, claro, além de saber qual público pretende alcançar.

“Além de apresentarem seus produtos na conferência (…) comunicar-se de maneira clara, entender a audiência, contar uma história envolvente e verdadeira, lidar com perguntas desafiadoras e estabelecer contatos estratégicos. Ao integrar esses elementos, os empreendedores podem otimizar sua participação na conferência e destacar efetivamente os aspectos sustentáveis de seus negócios. Estar atento aos fóruns, cursos e demais meios de trocas de ideias e debates, de maneira geral, podem ser caminhos a serem seguidos”, pontua.

PÚBLICO 

“Queremos que a Cacauaré seja a primeira marca de rituais da Amazônia e entenda ritualizar a vida, como o ser humano come, como vive, quais os seus valores e como a sua existência impacta positivamente o planeta”, destaca Noanny Maia, da quarta geração da família de produtores de cacau selvagem nativo de várzea, do município de Mocajuba, na região do Baixo Tocantins.

A Cacauaré é uma empresa familiar que une quatro mulheres amazônidas, mães e filhas, que assumiram os negócios após o falecimento do patriarca, durante a pandemia da Covid-19, em 2020.

“Já vendo que o meio ambiente tinha sido totalmente transformado pelos impactos ambientais sofridos em Mocajuba, resolvemos promover a primeira inovação, produzir cacau fino para alcançar melhores mercados, já que não tínhamos mais tanta abundância de cacau. Em 2022, nosso principal comprador, César de Mendes, foi nosso mentor nesse processo, pois estávamos com cinco toneladas de cacau fino e sem compradores”, conta.

Neste momento, Noanny conta que o segundo passo para inovar no negócio foi, a partir das amêndoas do cacau, produzir barras para um novo público que buscava consumir cacau puro para além de um estilo de vida mais saudável, mas também ritualística, resgatando a cosmovisão Maya – vinculada à conexão do ser humano ao meio ambiente. “A partir desse momento, nós imergimos em estudos e, a Cacauaré, passa a fazer o resgate ancestral da cultura do cacau aplicando além da cosmovisão maya, mas também à cultura original da Amazônia”, explica.

Hoje, a empresa produz níbis, doces, geleias, xaropes e outros produtos do cacau, que destacam a produção tradicional mocajubense. Segundo Noanny, a Cacauaré também vem se preparando no mundo digital para aproveitar as oportunidades na COP-30 e se conectar com o seu público, além de possíveis parceiros.

“Além de melhorar nossa capacidade produtiva, estamos trabalhando label, site, treinando fornecedores e fortalecendo nosso e commerce, a fim de garantir um desempenho coerente e inovador dentro da COP-30. Estamos passando por uma transformação digital, queremos fortalecer nossos canais, firmar parcerias que favoreçam não somente o consumidor final, mas principalmente a nossa comunidade”, disse.

Ainda de acordo com a empreendedora, a Conferência do Clima é uma oportunidade de descolonizar a nossa biodiversidade. “Tudo o que se fala de Amazônia, sobre consumo, é complexo, pois pouco se sabe como os povos originários utilizavam nossa biodiversidade. A presença de empresas como a Cacauaré fortalecem a cultura original da Amazônia e contribuem para desenvolver um modelo disruptivo de consumo”, finalizou.