Luiz Flávio
Desde a Revolução Industrial, entre os séculos 18 e 19, a temperatura média da Terra subiu 1,5°C. Pode parecer pouco, mas isso implica em consequências graves. Se a temperatura do planeta ultrapassar 2º, há risco de catástrofes irreversíveis, como inundações e extinção de espécies da fauna e da flora.
O carbono é um dos elementos mais versáteis que encontramos na natureza, em razão de sua larga aplicação industrial e, principalmente, pela presença em composições celulares e compostos naturais, sendo o 4° elemento mais abundante no Universo.
O carbono também aparece ligado ao oxigênio na composição do gás carbônico (CO₂), presente na atmosfera e dissolvido na água. Apesar da associação negativa com o efeito estufa, o carbono faz parte de ciclos vitais, como da fotossíntese e da respiração celular. Então, neutralizar carbono seria uma alternativa que busca evitar as consequências do desequilíbrio do efeito estufa, a partir de um cálculo geral de emissão de carbono.
Frear o aquecimento global, porém, não será fácil. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – IPCC (órgão da ONU para análise de dados científicos) defende que precisamos reduzir as emissões antrópicas – ou seja, aquelas causadas pela ação humana – em 70% até 2050 em comparação com as emissões de 2010.
A transição para uma sociedade com baixo teor de carbono deve aumentar a demanda por alumínio. Estima-se que a demanda por alumínio fora da China aumente 4% ao ano até 2030, com taxas de crescimento geral semelhantes em setores-chave como automotivo e construção civil. A produção de alumínio reciclado deve crescer 5% ao ano até 2030 e se tornar uma parcela maior da produção total do metal. E o que a Hydro está fazendo para reduzir suas emissões?
“O compromisso da Hydro para tornar as operações da empresa neutras em emissões de carbono até 2050 segue em curso e uma das iniciativas prioritárias é a mudança da matriz energética da refinaria de alumina, Hydro Alunorte, localizada em Barcarena. A Hydro tem a meta de reduzir as próprias emissões globalmente em 10% em 2025 e 30% em 2030. Uma matriz energética mais verde na refinaria é um capacitador-chave da estratégia climática global da Hydro e dessas metas”, esclarece Sérgio Ferreira, gerente executivo de Projetos de Energias Renováveis da Hydro.
Brasil emite menos carbono que a média
O Pará é estratégico para a indústria brasileira do alumínio por conter ativos importantes para o atendimento da demanda industrial nacional e para o posicionamento do Brasil na cadeia global de suprimentos. O estado concentra as maiores e melhores reservas de bauxita do país, insumo a partir do qual é produzido o metal. Além das atividades de mineração, a cadeia é verticalizada, contando com operações de refino de alumina, produção de alumínio primário, de vergalhão e cabos de alumínio para transmissão e distribuição de energia.
As empresas que atuam no setor são internacionalmente conhecidas por práticas ambientalmente responsáveis, fazendo o Brasil se destacar no mercado global como produtor de um alumínio de alta qualidade e de baixa pegada de carbono.
Graças ao uso de fontes renováveis de energia e a um conjunto de esforços para implementação de processos produtivos que promovam o uso mais eficiente de recursos e a maior circularidade de materiais, a intensidade carbônica do alumínio brasileiro chega a ser 3,3 vezes inferior à média mundial. Além da baixa pegada de carbono no processo produtivo, o Brasil é o único país no mundo a ter empresas que atuam em todos os elos da cadeia produtiva certificados pela Aluminium Stewardship Initiative (ASI), uma iniciativa internacional que avalia e valida toda a cadeia de custódia do setor.
“O alumínio é aliado estratégico para o cumprimento dos objetivos de descarbonização de seus principais mercados consumidores, em setores essenciais para a vida cotidiana e da economia, tais como construção civil, embalagens, transportes e energia, entre outros”, lembra Janaina Donas, presidente executiva da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL).
A Hydro, por exemplo, investiu cerca de R$ 30 milhões em uma metodologia pioneira, denominada Tailing Dry Backfill, que permite que os rejeitos inertes da mineração de bauxita sejam devolvidos às áreas já abertas e mineradas, em vez de serem depositados em áreas separadas e permanentes de armazenamento. Além de garantir maior segurança operacional, o método reduz significativamente a pegada ambiental.
O Depósito de Resíduo a Seco (DRS2) foi concebido para ser combinado à tecnologia Filtro Prensa, o mais moderno sistema para preparação e desaguamento do resíduo de bauxita, instalado na refinaria Alunorte desde 2018, que recebe o resíduo com altíssimo teor de sólidos, diferentemente da prática usual da indústria do alumínio, que adota sistemas de lagos e barragens. “Dessa forma, com o resíduo mais seco, realiza-se o empilhamento por compactação. Os ganhos ambientais são expressivos, assim como os de segurança, uma vez que a área necessária para o armazenamento é cerca de quatro vezes menor para o mesmo volume, comparada com a metodologia que usa lagos e barragens”, diz a executiva.
Em Porto Trombetas, no oeste do Estado, a Mineração Rio do Norte (MRN) utiliza um método de gestão ambiental que associa restauração de áreas mineradas com pesquisas e apoio ao desenvolvimento econômico da região. Por meio do Programa Banco de Germoplasma, em vigor desde 2013, a empresa realizou o plantio de espécimes de castanha-do-pará. Esses espécimes foram escolhidos a partir de matrizes de grande vigor e produtividade.
A região do rio Trombetas é conhecida por abrigar importantes áreas de castanhais, especialmente nas proximidades do município de Oriximiná, onde comunidades tradicionais, ribeirinhos, indígenas e quilombolas têm no fruto uma das suas principais fontes de renda. O modelo de diálogo social implementado pela Alcoa na gestão de sua mina em Juruti também é um exemplo de como e construção de pautas convergentes para colaboração em projetos de impacto social também é possível, em torno de objetivos comuns e geração de valor compartilhado em matéria de educação ambiental, conservação da biodiversidade, promoção do empreendedorismo e desenvolvimento regional.
Iniciativas
Caldeiras elétricas na operação
l A Hydro Alunorte continuará investindo na implementação de caldeiras elétricas em sua operação. A primeira, com tecnologia mais moderna e maior capacidade, está em operação na Alunorte, desde março deste ano, e teve um investimento de cerca de R$ 42 milhões. A capacidade nominal de geração da nova caldeira é de aproximadamente 95toneladas de vapor por hora, consumindo 60 megawatts e com potencial para redução na ordem de 100 mil toneladas de CO2 por ano. Também está em andamento um projeto focado na substituição do óleo combustível por gás natural na refinaria em um investimento de R$ 1,3 bilhão.
“A empresa assinou contrato com a New Fortress Energy (NFE) com o objetivo de receber fornecimento de GNL por 15 anos. Com base nisso, a Alunorte, que já é uma referência em eficiência energética no setor do alumínio, está sendo preparada para a troca de combustível, investindo ainda mais na refinaria para adaptar o processo de calcinação e parte da geração de vapor para passar do óleo combustível ao gás natural como fonte de energia. A previsão de início da operação é em 2023”, informa o gerente executivo de Projetos de Energias Renováveis.
Uso de biomassa
l Outra iniciativa que também está sendo realizada é o estudo para uso do caroço de açaí como biomassa. O resíduo do açaí será misturado ao carvão mineral para uso como combustível nas caldeiras da Alunorte. Energia renovável com ampla oferta no Pará, o caroço do açaí como biomassa está sendo pesquisado em parceria com a Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Mineroduto
l O mineroduto da Mineração Paragominas foi a primeira experiência no mundo com transporte de minério por meio de duto enterrado, por isso, os estudos e projetos foram desenvolvidos com os mais altos padrões de qualidade para atender às necessidades técnicas específicas do projeto, se tornando uma referência em termos de tecnologia.
“O método consome menos energia e não emite gases de efeito estufa”, afirma o gerente executivo de Projetos de Energias Renováveis. O mineroduto transporta bauxita da mina em Paragominas para a refinaria Alunorte, em Barcarena. Ele possui 244 km de extensão e passa por sete municípios do estado: Paragominas, Ipixuna do Pará, Tomé-Açu, Acará, Moju, Abaetetuba e Barcarena.