A Polícia Federal realiza na manhã desta quinta-feira, 16, uma segunda perícia no apartamento de Ana Suellen Carvalho de Araújo, 43, escrivã da Polícia Civil do Pará e mãe do auxiliar administrativo Marcello Victor Carvalho de Araújo, 24, morto no local dia 8 passado durante uma operação da Polícia Federal.
O procurador da república Sadi Flores Machado, que instaurou o procedimento de investigação criminal relacionado ao homicídio, também está no local acompanhando o trabalho. Foi O procurador que autorizou a perícia complementar a pedido da família de Marcello.
A perícia está sendo acompanhada por peritos da Polícia Científica do Estado também a pedido da família da vítima. A primeira perícia foi feita apenas por peritos da Polícia Federal ainda com o corpo de Marcello presente no apartamento. “A perícia de hoje também é de local de crime, mas sem o cadáver… Mas o sangue ainda está lá….Ainda está tudo lá…”, afirma a promotora de justiça Ana Maria Magalhães, tia da vítima.
Ana Maria explica que foram feitas duas perícias: uma no local do fato e outra no corpo da vítima. “A perícia no corpo foi feita na Polícia Científica por um perito da PF vindo de Brasília acompanhado de 3 peritos da Polícia Científica do Estado. A primeira perícia no local foi feita apenas pela PF, que agora na segunda perícia, serão acompanhadas por peritos daqui”, detalha.
Família contesta versão da Polícia Federal
Os agentes entraram no apartamento de Ana Suellen para cumprir um mandado de prisão contra Marcelo Pantoja Rabelo, o “Marcelo da Sucata”, que tinha um relacionamento com Ana, no âmbito da Operação Eclesiastes. Segundo a PF, Rabelo é suspeito de liderar uma organização criminosa voltada ao tráfico internacional de drogas e à lavagem de capitais, com atuação em grupo de extermínio. A escrivã e o filho não eram alvos da ação.
De acordo com a versão da Marcello se deparou com a equipe tática em um dos corredores do imóvel e teria avançado contra o primeiro agente, desferindo-lhe um golpe e tentado alcançar sua arma de fogo, e que, por isso, “houve reação imediata, com uso proporcional da força, fato que infelizmente ocasionou na morte”, segundo nota da corporação.
A família contesta completamente essa versão, alegando que a vítima não estava armada e não era um rapaz agressivo, não representando qualquer ameaça aos nove agentes que realizaram a operação, fortemente armados, com coletes e escudos. Segundo Ana Suellen, os policiais federais teriam entrado no apartamento, perguntado o nome do seu filho. Assim que Marcello respondeu os policiais o teriam alvejado com dois tiros, morrendo no local.
A mãe de Marcello afirmou ainda ao site www.ponte.org que mantinha um relacionamento “esporádico” com Rabelo e que nem ela nem o filho tinham envolvimento com suas supostas atividades. Para ela, os policiais podem ter confundido os dois, já que ambos se chamam Marcelo.
Ana Suellen relatou ainda ao site ponte.org que foi rendida pelos agentes e retirada do quarto do filho. “Quando passei pela porta do quarto do meu filho, vi ele jogado no chão, e um policial federal do GPI [Grupo de Pronta Intervenção] na porta. Tentei entrar no quarto com ele e ele não deixou. Olhei, vi que tinha sangue e eles me empurraram. Saíram batendo na minha cabeça, me chamando de vagabunda e me botaram para sala”, denunciou.
“Nenhuma reação autoriza autoria a polícia atirar para matar””
Ana Maria Magalhães lembra que Marcello era um ser humano muito amado por muitos familiares e amigos. “Eu por exemplo era um pouco mãe dele. Ele não foi só um elemento abatido pela polícia. Ele era uma pessoa que tinha uma vida que era feliz, que trabalhava, que dava um orgulho pra família dele, que era motivo de muita alegria pra todos nós e sua morte deixou um vazio absurdo na nossa vida.”, disse, abalada.
A protomora pontua que nenhuma reação de um inocente autoriza a polícia simplesmente a atirar pra matar. “Ainda que houvesse uma reação, que avaliamos ser totalmente improvável diante da situação, é impossível que uma pessoa tenha conseguido dar um soco em alguém tão protegido como estavam os policiais. Ainda se houvesse a reação eles tinham plena plenas condições de conter um jovem de 24 anos, desarmado e sem treinamento, de um metro e sessenta e nove, franzino sem dar um único tiro. Isso mostra ou que eles quiseram executar ou que eles são os incompetentes”, acusa.
“Foi a execução sumária de um inocente”
Ana Maria afirma ainda que o delegado que instaurou o procedimento de apuração do suposto auto de resistência contra Marcello era o mesmo delegado chefe da missão que resultou na sua morte. “Qual era a isenção que esse delegado tinha pra apurar? Quando o diretor da PF falou aquele absurdo que a vítima tinha agredido um policial que tinha ido até pro hospital foi baseado no que o delegado relatou. Aquela nota divulgada pela Polícia Federal foi passada por uma pessoa diretamente interessada em camuflar um homicídio que era o próprio delegado que chefe da missão que que resultou na morte”, denuncia.
A tia da vítima diz que a família está reagindo ao ocorrido com muita tristeza, consternação e revolta, motivada por duma ação absurda da polícia. “O Estado simplesmente ceifa a vida de um inocente e ainda tenta justificar tudo numa eventual reação de um jovem que não tinha a mínima reação contra nove agentes da polícia federal armados com fuzis e com escudos enormes! O que aconteceu foi a execução sumária de um inocente! Essas pessoas terão que enfrentar o Tribunal do Júri e eu como tia do Marcello só vou sossegar no dia que os responsáveis pela morte sentarem no banco de réus como assassinos, acusados de homicídio e forem julgados pela sociedade, pelos atos que praticaram!”, garante.
Apesar de contestar a versão da PF, a promotora afirma confiar na investigação que também será feita também pela Corregedoria da corporação, que considera uma instância séria. “Não foi a Polícia Federal e sim policiais federais que executaram o meu sobrinho. Isso é tem uma grande diferença”.
Editado por Clayton Matos