Um jovem de 23 anos foi morto dentro do próprio apartamento durante uma operação da Polícia Federal (PF) na manhã desta quarta-feira (8), em Belém. O caso, que gerou forte comoção e indignação, envolve versões divergentes entre a família da vítima e a corporação.
Quem era a vítima
Marcello Carvalho de Araújo tinha 23 anos, era formado em Educação Física e trabalhava na Polícia Civil. Segundo familiares, ele era uma pessoa tranquila, caseira e estudiosa. Gostava de cozinhar, cuidar dos cães e jogar videogame, evitando ambientes movimentados.
Ele morava com a mãe, a policial civil Ana Suellen Carvalho, no Edifício La Ville, localizado na Rua dos Mundurucus, entre Carlos de Carvalho e Honório José dos Santos, na confluência dos bairros Jurunas e Batista Campos.
O que diz a família
De acordo com familiares, o mandado de busca e apreensão cumprido pela Polícia Federal não tinha Marcello como alvo, mas sim o namorado da mãe dele, que teria o mesmo nome — um homônimo, e muito mais velho.
“A ação foi totalmente equivocada e executada por pessoas despreparadas”, afirmou a promotora Ana Maria Magalhães, tia-avó da vítima e presidente da Associação do Ministério Público do Estado do Pará (AMPEP).
Segundo relatos da família, os agentes da PF arrombaram a porta do apartamento pouco antes das 6h. A mãe do jovem teria sido rendida e agredida mesmo após se identificar como policial civil.
O primo de Marcello, Mário Rivera, contou que o jovem saiu do quarto assustado, sem entender o que acontecia, e acabou atingido por dois tiros. “Ele tentou recuar, mas sangrou até a morte sem saber o que estava acontecendo”, relatou Rivera.
A família acusa a PF de execução e afirma que Marcello “não tinha qualquer envolvimento com crimes nem era alvo de investigação”.
Reação e pedido de Justiça
A promotora Ana Maria Magalhães prometeu acompanhar o caso de perto.
“As pessoas não podem invadir a casa de cidadãos de bem e fazer algo assim. Ninguém tem o poder sobre a vida de ninguém. Vou lutar até o fim por Justiça”, afirmou. Ela disse que contratará advogados para atuar como assistentes de acusação.
O que diz a Polícia Federal
Em nota oficial, a Polícia Federal informou que a morte ocorreu durante o cumprimento de mandado judicial da Operação Eclesiastes, que investiga um grupo de extermínio com atuação no Pará.
Segundo a corporação, o mandado tinha como alvo o líder do grupo, considerado violento, e por isso a ação contou com o apoio do Grupo de Pronta Intervenção (GPI).
Durante a operação, ainda segundo a PF, “um homem que se encontrava na residência investiu contra um policial federal, desferindo um soco no rosto e tentando tomar-lhe a arma de fogo”. Diante da agressão, os agentes efetuaram disparos “para conter a ação”.
O homem foi socorrido, e o SAMU foi acionado, mas ele não resistiu aos ferimentos.
O verdadeiro alvo do mandado também teria resistido à prisão, mas foi detido e conduzido à sede da Polícia Federal.
O que falta esclarecer
Apesar das versões apresentadas, diversos pontos seguem em aberto e deverão ser apurados pelas autoridades:
- Por que houve confusão na identificação do alvo do mandado;
- Se o nome de Marcello realmente constava nos documentos da operação;
- Se houve erro de procedimento ou excesso de força na abordagem;
- O que mostram as câmeras corporais (caso tenham sido usadas) e os laudos periciais sobre o local e os disparos;
- As circunstâncias exatas que levaram à morte do jovem dentro do apartamento.