FIM TRÁGICO

Caso Bruna Meireles: quem era estudante morta por namorado policial militar em Belém

A vítima foi encontrada sem vida dentro do carro de um policial militar, identificado como cabo Wladson Luan Monteiro Borges, principal suspeito do crime.
A vítima foi encontrada sem vida dentro do carro de um policial militar, identificado como cabo Wladson Luan Monteiro Borges, principal suspeito do crime.

Os exames complementares, a perícia no local do crime e a necropsia, em conjunto com as investigações da Polícia Civil, devem esclarecer as circunstâncias da morte de Bruna Meireles Corrêa, de 32 anos, que ocorreu na noite de quarta-feira (12) no bairro do Umarizal, em Belém. A vítima foi encontrada sem vida dentro do carro de um policial militar, identificado como cabo Wladson Luan Monteiro Borges, principal suspeito do crime.

Bruna Meireles era estudante de Nutrição na Universidade da Amazônia (Unama) e residia em Belém há 10 anos. Natural de Colares, cidade localizada no nordeste do estado, ela morava com o pai e, na capital, vivia na casa de seu padrinho. Ela mantinha um relacionamento com o suspeito há cerca de um ano. Segundo relatos de familiares e amigos da vítima, ela estava sendo oprimida nesse relacionamento, a ponto de ter abandonado suas contas nas redes sociais para atender aos pedidos do acusado, isolando-se até de seus familiares.

A vítima foi encontrada morta dentro do carro de um policial militar, identificado como o cabo Wladson Luan Monteiro Borges, que é o principal suspeito do crime.
A vítima foi encontrada morta dentro do carro de um policial militar, identificado como o cabo Wladson Luan Monteiro Borges, que é o principal suspeito do crime.

O caso não foi registrado no Centro Integrado de Operações (CIOp), pois o suspeito levou Bruna ao Pronto Socorro Municipal da 14 de Março, alegando um disparo acidental. No local, ele se identificou como policial militar. Conforme o registro da ocorrência, por volta das 19h15, uma guarnição da Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam) recebeu uma ligação do próprio cabo Wladson, informando que houve uma discussão com Bruna, sua namorada, seguida de um disparo que a atingiu. O policial ainda relatou que prestou socorro à vítima e a levou ao Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti, onde Bruna foi declarada morta. Uma guarnição do 2º Batalhão esteve no local e acionou a Corregedoria da Polícia Militar. O comandante da Rotam foi informado imediatamente, e o suspeito foi encaminhado à Delegacia da Mulher, sendo autuado por feminicídio.

O estado do veículo do policial, estacionado em frente ao Pronto Socorro, chamou atenção. O carro apresentava diversas marcas de tiros, e o vidro do lado do passageiro estava quebrado, indicando que um dos disparos pode ter atingido a vítima no lado esquerdo da cabeça. Testemunhas afirmaram que Bruna já chegou sem vida ao hospital, levantando dúvidas sobre a versão do disparo acidental.

O corpo de Bruna Meireles foi liberado ao meio-dia de quinta-feira (13) no Instituto Médico Legal Renato Chaves e transportado para Colares, onde foi enterrado na manhã de sexta-feira (14), em um cemitério da comunidade.

Pará registrou 50 feminicídios em 2024

Entre janeiro e dezembro de 2024, o Pará registrou 50 casos de feminicídio, o que representa uma redução de 12,28% em relação ao mesmo período de 2023, quando foram contabilizados 57 casos. Também houve uma queda de 9,79% nos registros de lesões corporais e violência doméstica contra a mulher, com 9.924 ocorrências, em comparação a 11.002 casos no ano anterior.

Proteção e Acolhimento

Em 2022, o Estado lançou o programa “Pró Mulher Pará”, com ações de proteção, repressão qualificada e orientação para mulheres em situação de violência doméstica, integrando as políticas públicas para combater a violência contra a mulher no Pará. Inicialmente lançado na Região Metropolitana de Belém, o programa agora abrange 21 municípios, incluindo o Distrito de Mosqueiro, oferecendo atendimento de urgência e emergência por meio de ligações ao 190, atendidas pelo Centro Integrado de Operações (Ciop), vinculado à Segup.

A diretora de Políticas de Segurança Pública e Prevenção Social, delegada Ariane Melo, destaca que um dos principais focos da Segup é a proteção da mulher, o que contribui para a redução das estatísticas de violência.

“O enfrentamento da violência contra a mulher é uma prioridade para a Segup, seja na prevenção ou na repressão. O programa Pró Mulher Pará e os projetos coordenados pelas polícias Civil e Militar, entre outros órgãos do Sistema de Segurança, têm sido fundamentais para aumentar a conscientização da população e reduzir a violência. Estimulamos o registro das ocorrências e a solicitação de medidas protetivas para evitar que a violência se agrave, levando ao feminicídio”, afirmou a delegada Ariane Melo.

Rede de Apoio

O programa Pró Mulher criou uma rede articulada de apoio no enfrentamento à violência contra mulheres, com mais de 5.400 atendimentos realizados em 21 localidades até dezembro de 2024. Atualmente, mais de 1.200 agentes de segurança qualificados e especializados atendem as vítimas, acompanhados por 39 viaturas rosas, que fazem parte das ações de combate à violência contra a mulher.

Delegacias Especializadas

As mulheres vítimas de violência também podem contar com o apoio das 21 Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (Deam) no estado. As Deams de Belém, Ananindeua, Santarém, Castanhal, Marabá e Parauapebas oferecem atendimento 24 horas, garantindo agilidade nas investigações e nas punições dos responsáveis pelos crimes. O Estado também disponibiliza a Delegacia Virtual, permitindo que a vítima registre sua ocorrência online.

A delegada Adriana Barros Norat, diretora de Atendimento a Grupos Vulneráveis da Polícia Civil, destaca a parceria com outros órgãos para garantir um bom atendimento e a dedicação de uma equipe multidisciplinar para acolher as vítimas.

“Nosso trabalho é baseado na escuta qualificada e no respeito, oferecendo um ambiente seguro e acolhedor para que as mulheres se sintam à vontade para buscar ajuda. Trabalhamos em parceria com o Ministério Público, Defensoria Pública, CRAS e CREAS, garantindo um atendimento integral e coordenado”, afirmou a delegada.

Canais de Denúncia

A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Segup) reforça os canais de denúncia, como o 190 do Ciop, o Disque-Denúncia 181, o WhatsApp (91) 98115-9181 com a atendente virtual Iara, e o aplicativo SOS Maria da Penha, da Polícia Militar, que monitora o cumprimento das medidas protetivas expedidas pela Justiça. Essas ferramentas garantem que a violência contra a mulher seja apurada e que as vítimas recebam o suporte necessário.