NA DITADURA

Volkswagen é condenada a pagar R$ 165 milhões por trabalho escravo no Pará

A decisão, divulgada em 29 de agosto de 2025, também obriga a empresa a assumir publicamente sua responsabilidade e emitir um pedido formal de desculpas aos trabalhadores prejudicados e à sociedade.

Volkswagen é condenada a pagar R$ 165 milhões por trabalho escravo no Pará

A Justiça do Trabalho em Redenção (PA) sentenciou, em primeira instância, que a Volkswagen do Brasil deve pagar R$ 165 milhões em indenizações por utilizar mão de obra em condições análogas à escravidão na Fazenda Vale do Rio Cristalino, no sul do Pará, entre 1974 e 1986, durante a ditadura militar. As informações são do site Repórter Brasil.

A decisão, divulgada em 29 de agosto de 2025, também obriga a empresa a assumir publicamente sua responsabilidade e emitir um pedido formal de desculpas aos trabalhadores prejudicados e à sociedade.

O juiz Otávio Bruno da Silva Ferreira destacou que a ausência de punição administrativa ou criminal na época não impede a atuação da Justiça do Trabalho via ação civil pública diante de graves violações de direitos humanos

De acordo com o site Repórter Brasil, a ação movida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) acusa a montadora de práticas como aliciamento de trabalhadores, servidão por dívida e condições degradantes no trabalho e moradia.

Em nota, a Volkswagen afirmou que recorrerá da sentença, reiterando seu compromisso com a dignidade humana e a conformidade com leis trabalhistas, além de salientar que conduziu investigações internas que não confirmaram irregularidades.

Sentença e Investigação

Apesar disso, o juiz ressaltou que a falta de responsabilização formal não impede reabertura de investigação com base em novos elementos, citando precedente da Corte Interamericana de Direitos Humanos como orientação para evitar perpetuação da impunidade

Além da indenização, diz o site, a sentença exige que os recursos sejam destinados ao Fundo Estadual de Promoção do Trabalho Digno e de Erradicação do Trabalho em Condições Análogas à Escravidão no Pará (Funtrad/PA).

A empresa deve também promover campanha pública em rádio, TV e internet, incluir cláusulas contratuais que proíbam trabalho escravo em seus contratos com terceiros, criar um canal de denúncias e instituir programas de treinamento sobre trabalho escravo e tráfico de pessoas, além de implementar procedimentos de due diligence em direitos humanos.

Histórico de Responsabilidade Social da Volkswagen

O caso se soma ao histórico de responsabilidade social da Volkswagen com o MPT. Em 2022, a empresa firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) reconhecendo perseguição e tortura de trabalhadores em sua fábrica de São Bernardo do Campo (SP) durante a ditadura, resultando em compensações financeiras de R$ 36 milhões.

No processo atual, diz a Repórter Brasil, a empresa alegou que o TAC encerrava quaisquer discussões sobre seu papel durante o regime militar, mas o juiz entendeu que os episódios na Amazônia não estavam relacionados ao acordo, que tratava apenas da repressão política no ambiente fabril.

A ação do MPT contra a Volkswagen é robustamente fundamentada: conta com documentos históricos, depoimentos, fotos, investigações parlamentares e reportagens ao longo de quatro décadas, que revelam violência, tortura, escravidão por dívida e ameaças na antiga fazenda de criação de gado e extração de madeira.

Estima-se que até mil trabalhadores rurais simultaneamente estivessem sob exploração dessas condições em diferentes frentes de trabalho escravo.