Cintia Magno
Em Bragança, uma tradição mantida há 224 anos e que precisou ser adaptada nos últimos dois em decorrência da pandemia da Covid-19, voltou às ruas da cidade no dia em que ocorre o ponto alto da Festividade de São Benedito. A marujada retornou com a procissão em seu itinerário pelas ruas de Bragança nesta segunda-feira, 26, com São Benedito conduzido em seu andor por cerca de 4,73 km. A grande procissão encerra a festividade iniciada no dia 18 deste mês.
Coordenador da Festividade de São Benedito, o historiador Dário Benedito Rodrigues lembra que a festividade em homenagem ao santo negro é organizada desde que, em 03 de setembro de 1798, os negros escravizados, livres e libertos da vila de Bragança criaram a Irmandade do Glorioso São Benedito de Bragança, que se manteve até 1988. “Os negros escravizados, livres e libertos pediram, junto aos seus senhores, para celebrar São Benedito, que era um santo de tradição italiana, mas que migrou para o Brasil como um símbolo também de resistência e de esperança”.
Quando, na época, a população negra começou a organizar a festa o objetivo era reunir os seus pares ao redor da devoção a São Benedito, construir uma igreja e construir uma aliança de resistência cultural que se manifesta através da Marujada. Dário lembra que a igreja construída pela irmandade foi a que hoje é a Catedral de Nossa Senhora do Rosário, porém, posteriormente houve a troca para a atual Igreja de São Benedito.
“Os brancos forçaram essa troca e deram a igreja menor, de frente da orla, para os negros em 1872”, rememora o historiador, ao continuar relatando os objetivos que uniam àquela irmandade. “Eles também tinham o objetivo de fazer as esmolações, ir de casa em casa, levando São Benedito nas regiões rurais da cidade anunciando a festa e também preparando os donativos para receber e, por último, de fazer com que a irmandade tivesse essa aliança de resistência cultural que é a Marujada, algo indissociável da Festividade”.
A partir da herança deixada por essa irmandade católica fundada pelo povo negro ainda no final do século XVIII, a Marujada se torna esse grande bem cultural que faz parte da Festividade de São Benedito e da própria identidade da cidade de Bragança.
“A Marujada é concomitante a fundação dessa irmandade e esse crescimento vai acontecendo de forma conjunta. Mas o processo de massificação e grande divulgação acontece no final dos anos 80 com os projetos do Preamar. Já no final da década de 90, com a celebração dos 200 anos da Festa de São Benedito, foi o primeiro ano em que a festa recebeu mais de 100 mil pessoas, no sentido da participação na procissão e hoje estamos prestes a ter, com muita fé e esperança, o reconhecimento da Marujada e da Festividade de São Benedito de Bragança como Patrimônio Cultural e Imaterial do Brasil”.