O arquipélago do Marajó, no Pará, é um pedaço da Amazônia carregado de belezas naturais e de contrastes sociais. Quando se fala deste lugar, logo vem à memória o queijo, os búfalos, os campos de fazenda e, claro, as praias de beleza exuberante. A cultura marajoara é rica e abrangente, passando pelo carimbó e pelo artesanato – sendo que a sua raiz está nos saberes e na vivência do marajoara com o lugar onde mora.
É nesta relação entre homem e natureza que uma se destaca um ponto específico da cultura do Marajó: a de cavalos. O animal foi introduzido na região há mais de 300 anos por colonizadores europeus. Atualmente, estes animais ajudam os vaqueiros no trabalho no campo e também são protagonistas de várias modalidades esportivas, entre elas, a corrida de cavalos.
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No final de semana passado foi realizada a 1ª Maratona Intermunicipal de Cavalos no Marajó. O evento consistiu numa corrida de cavalos de Ponta de Pedras à Cachoeira do Arari – o que já é tão tradicional que a corrida de cavalos marajoaras foi considerada Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Estado do Pará (Lei nº 9.706/22).
Foram 73 quilômetros de adrenalina por campos, rios e estradas de chão. Uma experiência que permitiu mostrar a região como ela é, de fato. Participaram 23 cavalos e jóqueis das cidades de Ponta de Pedras, Cachoeira do Arari, Salvaterra e Soure. O 1º lugar ganhou R$ 15 mil.
Os equinos de raça árabe costumam ser os favoritos nestas competições, por serem mais velozes. Os cavalos de raça marajoara, embora mais resistentes ao clima e a geografia da região, apareciam em segundo lugar na preferência do público.
Natural de Cachoeira do Arari, Atson Ramon, foi o único jóquei a disputar a maratona com uma égua – a “Boêmia”. “Tivemos uma preparação intensa. A Boêmia nada duas horas por dia, faz caminhada e corrida. Já fizemos o percurso [Cachoeira do Arari/Ponta de Pedras] duas vezes para ela se acostumar com a distância e o terreno”, disse.
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Maratona
A maratona intermunicipal foi feita em dois dias. No primeiro, foi percorrido cerca de 40% do percurso total. A largada foi em frente à sede da prefeitura de Ponta de Pedras. De lá, os conjuntos (jóquei e cavalo) passaram pela praia de Mangabeira e seguiram até a comunidade do Canal, onde foi feita uma pausa para o descanso do animais.
A estratégia dos jóqueis foi correr a pé ao lado dos cavalos para poupá-los para o dia seguinte da maratona. Thiago Nascimento, 24, jóquei de Salvaterra, correu descalço. Enfrentou trechos de asfalto, pedras e areia.
Os passos dele e do “Gabola”, nome do cavalo com o qual correu, pareciam estar em perfeita sincronia. “Eu estava de sandália, mas a sandália me deu calo e então a tirei”, disse.
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A disputa foi assistida de forma privilegiada pela aposentada Celina Alves, de 75 anos, moradores da comunidade de Cachoeirinha. Debaixo de um cajueiro, ela sentou para ver os jóqueis passarem e aproveitou para vender chopp de frutas (suco congelado). “Eu nunca tinha visto isto, aqui, na frente da minha casa e fiquei muito feliz!”, descreveu.
“Quando passaram fazendo a marcação do trajeto eu perguntei o que era e um rapaz me explicou e sugeriu eu reforçar a produção de chopp porque eu ia vender bastante”, exemplificou a idosa – sem perceber o quanto a maratona movimentou direta e indiretamente a economia local.
Lei torna as aparelhagens patrimônio cultural do Pará
Ao final do primeiro dia, todos os animais passaram por uma avaliação com o veterinário, que analisou o casco das patas, o couro e o condicionamento de cada um dos cavalos.
“Estamos preocupados com o bem-estar dos animais. Na primeira avaliação, antes da largada, desclassificamos um dos cavalos que não estava em condições físicas de maratonar”, ressaltou o veterinário Leandro Assunção, médico veterinário.
No segundo dia de maratona, os animais e jóqueis percorreram campos de fazenda, cujo solo e o pasto já sofrem as consequências do período de estiagem. A chegada foi em frente à sede do município de Cachoeira do Arari, onde uma multidão aguardava a chegada deles.
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Turismo
O evento entrou para o calendário oficial do Turismo de Ponta de Pedras e de Cachoeira do Arari. As duas prefeituras fecharam parceria para ajudar na realização do evento. No próximo, o trajeto será feito no sentido contrário, com largada em Cachoeira do Arari.
A diretora de Turismo da Secretaria Municipal de Turismo de Ponta de Pedras, Mônica Torres, destacou que a maratona foi planejada há dois anos, mas ainda não tinha sido realizada em virtude da fase mais crítica da pandemia de covid-19.
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“A primeira edição foi um evento piloto para que a gente possa desenvolver e potencializar o Turismo na região. Ponta de Pedras é um dos poucos municípios marajoaras que tem eventos o ano inteiro e criar novos irá somar ainda na cadeia econômica da cidade e na valorização da nossa cultura”, projetou.