Cintia Magno
Diante de um acidente envolvendo animais peçonhentos, a celeridade na busca pelo correto atendimento médico faz toda a diferença no desenvolvimento de possíveis sequelas ou, a depender do animal envolvido, até mesmo no maior ou menor risco de vida. Por isso, nesses casos, é fundamental que o cidadão saiba como agir e que atendimento procurar em caso de contato com algumas dessas espécies.
De acordo com informações oficiais do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, no Estado do Pará as serpentes são as principais causadoras de acidentes com animais peçonhentos, com 120 casos registrados no ano de 2023.
O médico veterinário do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), Cláudio Guimarães, explica que quando se fala de animais peçonhentos, é importante considerar que eles têm diversas categorias.
Portanto, dentro dessa classificação biológica, é possível encontrar as serpentes peçonhentas, os escorpiões, as aranhas, as arraias, entre outros. Alguns deles, inclusive, podem ser encontrados até mesmo dentro das residências, em decorrência de diferentes fatores, mas principalmente fatores relacionados ao meio ambiente.
Nesse sentido, é possível considerar que os sintomas apresentados em casos de acidentes com animais peçonhentos variam muito de acordo com o animal envolvido. Dependendo do tipo de acidente, o indivíduo apresenta alguns tipos de sintomas, mas independente disso, a regra é buscar o atendimento de urgência o quanto antes.
“Em todos os casos o que deve ser feito, de imediato, é procurar o atendimento médico porque o acidente pode ser classificado como leve, moderado ou grave e só quem vai poder fazer essa avaliação é o corpo médico dentro de um centro especializado”, orienta. “Caso você esteja longe de um atendimento médico, por exemplo, a orientação é lavar o local com água e sabão para evitar qualquer tipo de infecção e logo em seguida se deslocar até o atendimento médico mais próximo”.
Cláudio explica que, nesses casos, é possível procurar qualquer atendimento de emergência mais próximo, seja uma Unidade Básica de Saúde (UBS) ou uma UMS. “É o que a gente recomenda porque, a partir daí, ele vai ser encaminhado aos hospitais de referência. Muitas vezes, não adianta ele chegar no hospital de referência porque esse paciente precisa passar por uma avaliação clínica primeiro, geralmente é esse protocolo”, explica.
“Mas em alguns casos mais graves o paciente pode já procurar um hospital de referência, como, por exemplo, o PSM da 14 ou o Hospital Barros de Barreto, que é o hospital o principal que nós temos no nosso município e que disponibiliza, fornece, distribui o soro antiofídico, o soro antiescorpiônico, o tratamento específico para toda a rede pública de saúde”.
IDENTIFICAÇÃO
Outro fator importante após a ocorrência de um acidente com animais peçonhentos é tentar ver de que animal se tratava e suas características principais. Naturalmente, diante da dor sentida, e até mesmo da característica comportamental do animal, muitas vezes as pessoas não conseguem visualizar com clareza de que animal se tratava e, nesses casos, a equipe médica saberá identificar o possível animal através das características da picada e dos sintomas.
“Na maioria das vezes, quando acontece o acidente, por exemplo, com a serpente, a pessoa fica tão preocupada com a dor que acontece no local, com o sangramento, que muitas vezes ela não consegue nem visualizar a serpente, até porque ela tem o comportamento de fugir. Com o escorpião já é um pouco diferente porque ele geralmente não foge”, considera.
“Independente da situação, o que ela deve fazer é procurar imediatamente o atendimento médico, o mais rápido possível, porque o médico já tem um protocolo esquematizado de perguntas para tentar identificar e diagnosticar o caso, se é um caso de intoxicação por animal peçonhento ou não. Ele vai descartar as possibilidades de acordo com o que a pessoa relatar e também vai identificar os sintomas, os sinais clínicos que aquela pessoa vai apresentar mediante a situação que ela se encontra”.
Justamente por demandarem a produção de uma medicação específica, os soros, tais acidentes precisam ser obrigatoriamente notificados ao Ministério da Saúde, que é responsável pelo encaminhamento dos soros para os estados e municípios. Quando se analisam os dados inseridos no Sinan referentes ao ano de 2023, o que se observa é que as serpentes ainda são responsáveis pela maior frequência de acidentes com animais peçonhentos ocorridos no Pará, acumulando 120 notificações. Em seguida vêm os acidentes com escorpião, que somaram 60 ocorrências, e os acidentes com aranhas, com 22 registros.
“Ultimamente a gente observa que existe um aumento no número de casos de escorpiões acidentando pessoas, mas os acidentes com serpentes ainda são o maior número, a maior ocorrência”.
ACIDENTES
Os animais peçonhentos que mais causam acidentes no Pará são algumas espécies de:
Serpentes
l O envenenamento ocorre quando a serpente consegue injetar o conteúdo de suas glândulas venenosas, mas nem toda picada leva ao envenenamento. Isso porque há muitas espécies de serpentes que não possuem presas ou, quando presentes, estão localizadas na parte de trás da boca, o que dificulta a injeção de veneno ou toxina.
Escorpiões
l Os escorpiões são representantes da classe dos aracnídeos, predominantes nas zonas tropicais e subtropicais do mundo, com maior incidência nos meses em que ocorre aumento de temperatura e umidade. Os grupos mais vulneráveis a acidentes com escorpiões são os trabalhadores da construção civil, crianças e pessoas que permanecem maiores períodos dentro de casa ou nos arredores, como quintais. Ainda nas áreas urbanas, estão sujeitos os trabalhadores de madeireiras, transportadoras e distribuidoras de hortifrutigranjeiros, por manusear objetos e alimentos onde os escorpiões podem estar alojados.
Aranhas
l Os acidentes causados por aranhas são comuns, porém a maioria não apresenta repercussão clínica. Os gêneros de importância em saúde pública no Brasil são as espécies:
Aranha-marrom (Loxosceles), que costumam se esconder em telhas, tijolos, madeiras, atrás ou embaixo de móveis, quadros, rodapés, caixas ou objetos armazenados em depósitos, garagens, porões, e outros ambientes com pouca iluminação e movimentação.
Aranha-armadeira ou macaca (Phoneutria), que abriga-se sob troncos, palmeiras, bromélias e entre folhas de bananeira. Pode se alojar também em sapatos, atrás de móveis, cortinas, sob vasos, entulhos, materiais de construção, etc.
Viúva-negra (Latrodectus), que costuma fazer teia irregular em arbustos, gramíneas, cascas de coco, canaletas de chuva ou sob pedras. É encontrada próxima ou dentro das casas, em ambientes sombreados, como frestas, sob cadeiras e mesas em jardins.