Mesmo diante das compras rápidas pela internet e promoções de fast-fashion, a famosa moda rápida, as tradicionais lojas de tecidos seguem firmes, resistindo às tendências do mercado digital. Em Belém, especialmente ao caminhar pelas ruas do Centro Comercial, no bairro da Campina, elas continuam sendo ponto de referência para quem não abre mão de uma peça pensada no próprio estilo.
Alcilene Silva, de 44 anos, que há 16 anos trabalha como supervisora na Rebouças Tecidos, vive diariamente essa transformação no comércio. Ela reconhece que os sites oferecem praticidade, mas garante que a clientela fiel segue presente.
“Os clientes ainda procuram muito. Tem gente que prefere comprar o tecido e mandar fazer, e também tem os costureiros, que montam seus próprios negócios com o que compram aqui”, afirma ela, que trabalha na loja localizada na rua Santo Antônio, entre as travessas 1º de Março e Leão XIII, uma das mais tradicionais do centro de Belém, com 30 anos de história.
“Eles [donos] começaram bem pequenos, com poucas coisas, e foram conquistando, aumentando aos poucos”, lembra, comparando com a resistência do ramo, no qual só a empresa já possui 4 unidades de lojas espalhadas na cidade. E a movimentação, para o segmento, varia de acordo com a época do ano, e o período junino é, sem dúvida, o de maior venda. “Agora é tempo de quadrilha, então sai muita chita e tergal xadrez. A gente chega a vender em média 70 mil metros no mês só nesse período”, revela.
Mesmo diante da concorrência pesada dos sites de e-commerce, esses espaços mantêm viva a cultura da costura, do artesanal e do personalizado para quem busca exclusividade. Já na rua Conselheiro João Alfredo, a loja Paris N’América, referência de moda e glamour, os tecidos finos, todos importados da capital francesa, Paris, se consolidaram há mais de 150 anos na capital paraense.
Tradição e adaptação no comércio de tecidos
O gerente Márcio Cullere, 48, que acumula 29 anos de experiência no balcão, testemunhou de perto as mudanças. “Quando eu cheguei, a loja era muito conhecida como cara, porque só tinha tecidos finos. A gente precisou se adaptar e começar a trabalhar também com tecidos populares, para atrair mais gente e atender outros públicos”, lembra.
E deu certo. O espaço impressiona não só pela história, mas também pelo tamanho: são centenas de rolos que, juntos, somam mais de 600 variações de tecidos, desde os mais simples até os mais sofisticados. “Nosso maior volume de vendas é em dezembro, para o Natal e Ano Novo. Depois vem junho, na quadra junina, e, em terceiro, o Carnaval. Aqui temos o tule bordado à mão, que custa R$200 o metro. Entre todos os panos, cada rolo tem uma metragem diferente, pode ser de 15, 25, 100 até 200 metros. É muito tecido”.
Mas há quem se aventure mais recentemente no mercado. Empreendendo no segmento há pouco mais de três anos, a paixão de Ayanne Rodrigues, 30, pelo ramo têxtil pode até ser recente, mas a tradição familiar no setor vem de longe. A história começou em 1980, no município de Abaetetuba, quando seu avô abriu a primeira loja de tecidos da cidade. Formada em direito, ela atuava como advogada até a pandemia, quando decidiu trocar os processos jurídicos pelos rolos de tecidos.
“Fui trabalhar com minha tia, me apaixonei e percebi que estava no sangue, na veia, no coração… não teve mais volta”, conta. Dessa mudança, nasceu a Maya Tecidos, uma parceria com a mãe, Jurema. O nome, aliás, carrega essa união. “Pegamos o ‘Ma’ de Jurema e o ‘ya’ de Ayanne. E assim surgiu a Maya, com muito amor e trabalho conjunto de mãe e filha”, explica.
O diferencial do atendimento presencial
Apesar da concorrência do comércio on-line, a empresária garante que ainda há público fiel, que valoriza a qualidade e o atendimento presencial. “Na internet você não sabe se o tecido é bom, se vai chegar no prazo. Aqui, a pessoa vê, sente, escolhe, e ainda sai com indicação de costureiras de confiança. É um diferencial”, frisa.
“Tem muita gente que gosta de fazer sua roupa do seu jeito, ela não abre mão, ela quer combinar, tocar. A experiência é diferente. Tem cliente que chega com as inspirações na mão, vem com a ideia pronta e só busca o tecido ideal. É muito legal participar desse processo de criação”, finaliza.