Pará

Veja como evitar riscos ao encontrar alguém que conheceu pela internet

O assassinato de Laila Vitória Rocha de Oliveira acende o alerta para a necessidade de se tomar medidas para diminuir situações de risco com conhecidos em meios virtuais. Foto: Divulgação
O assassinato de Laila Vitória Rocha de Oliveira acende o alerta para a necessidade de se tomar medidas para diminuir situações de risco com conhecidos em meios virtuais. Foto: Divulgação

Ana Laura Costa

O recente caso da jovem paraense, Laila Vitória Rocha de Oliveira, de 20 anos, que foi morta no último dia 26, no Rio Grande do Sul, por André Ávila, 37, com quem manteve um breve relacionamento após conhecê-lo via internet, atenta para os ‘protocolos de segurança’ que precisam ser seguidos para diminuir e evitar situações de risco em tempos virtuais.

A vítima do feminicídio, natural de Parauapebas, havia se mudado há apenas dois meses para a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A jovem foi encontrada parcialmente carbonizada em uma residência localizada no bairro do Lemi. Uma hipótese é de que André Ávila, que confessou o crime à polícia, não aceitou o fim do relacionamento e teria a executado.

Considerando que, no ano passado, segundo o Monitor da Violência, do portal G1 e do Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV-USP), o Brasil registrou mais de 1.400 casos de feminicídio, o que representa, em média, uma mulher assassinada a cada 6 horas apenas por ser mulher, é preciso cuidado redobrado ao marcar um encontro em tempos de relações que se iniciam virtualmente.

Para saber como evitar situações de riscos, o Diário conversou com o coronel da reserva da PMPA e advogado especialista em Defesa Social e Segurança Pública, Marcelino Frota Vieira.

Antes do encontro

  • Segundo explica Vieira, o principal cuidado a se tomar antes de encontrar alguém que se conhece apenas virtualmente, é perguntar-se o motivo, ou seja, ‘O que eu quero com isso? O que o outro deseja?’ ‘Quem é esta pessoa?’, ao fazer a análise de risco, a pessoa tende a não agir de forma inconsequente e considera as probabilidades de lesões. Ou seja, sua segurança pessoal deve ser colocada em primeiro lugar.
  • Lembrando que, de acordo com registros policiais, André possuía antecedentes criminais, tendo sido condenado em 2007 por triplo homicídio tentado, o advogado também destacou que, com o fluxo de informações na internet hoje, vale a pena fazer uma simples busca pelo nome da pessoa no próprio Google. Buscar as redes sociais, cruzar fotos e endereços para apurar as informações, é importante para se proteger de um possível criminoso.
  • “Uma busca simples no Google pode, por exemplo, mostrar se a pessoa já possui antecedentes criminais. Informação é a chave para se manter seguro em situações como essa”, pontuou o especialista.
  • Na internet, ninguém se esconde. Uma outra medida é pesquisar outras redes sociais do conhecido, além daquela no qual vocês mantêm contato. Peça, o user do Twitter, cheque o perfil no Facebook e Instagram e cruze as informações. Há casos, onde por exemplo, a pessoa se diz solteira mas já tem família, é casado, então, confira se a conversa bate.
  • Além destas, medidas como realizar chamadas de áudio e vídeo, diminuem as chances de sofrer desde golpes financeiros a risco de vida. O advogado afirma que o princípio é básico, assim como temos cuidados para falar com desconhecidos na vida real, é preciso saber com quem de fato estamos nos comunicando virtualmente.
  • “Fazer chamadas de vídeo é um ponto que reforça a segurança porque assegura que você, de fato, está conversando com uma pessoa. Até porque, com o avanço da inteligência artificial, é possível que em chamadas de áudio a pessoa modifique a voz. Então, com a videochamada, você consegue saber se aquela pessoa, ao menos, existe”, ressaltou Vieira.
  • Agora, se a pessoa resiste em realizar chamadas de vídeo, é um sinal de alerta. Além do mais, essa medida ainda não garante segurança plena, pois não há como definir as reais intenções da pessoa. Sendo assim, caso queira seguir em frente com o encontro, cuidados com a escolha do local são essenciais.

Para o encontro

  • Importante ressaltar que conversas pela internet tendem a evoluir rápido, com isso é mais fácil ser ludibriado, ceder informações pessoais e, em algumas situações, até dados bancários. Mas, não esquecer que você não sabe realmente quem está do outro lado da tela, é fundamental.
  • “Não tenha pressa em marcar um encontro, é preciso de tempo para conhecermos de fato as pessoas. Na internet é muito fácil se passar por algo com base nas informações que são expostas nas redes sociais. Desse modo, a pessoa começa a falar sobre algo do seu interesse, porque já colheu as informações no perfil do Facebook, Instagram”.
  • Caso queira seguir em frente, a máxima é evitar locais isolados e com pouca iluminação. O ideal é marcar o encontro em local público e monitorado, onde haja fluxo intenso de pessoas. Apesar de não impedir situações de assédio ou outros tipos de violência, locais movimentados possibilitam um pedido de ajuda mais fácil.
  • Além disso, avisar familiares e amigos próximos sobre onde e com quem você está, é também uma medida de segurança e apoio a ser adotada. Combinar códigos por mensagem com amigos e familiares, sinalizando que corre perigo ou que está tudo bem, também é um reforço válido.
  • “Precisamos sempre nos prevenir com base em informações que possuímos hoje em dia, casos assim estão cada vez mais recorrentes. Então, avisar um amigo próximo, combinar um código para avaliar a situação das coisas e deixar os mais próximos cientes, é essencial para que outras pessoas saibam em qual situação você se encontra”, destacou o advogado.

No encontro

  • Compartilhar a localização em tempo real, é uma ferramenta que precisa ser usada nestas situações. E não é difícil utilizá-la, o recurso pode ser adotado em aplicativos de mensagens instantâneas, como o WhatsApp.
  • “As pessoas costumam manter a localização do celular ativado por conta de um roubo ou furto, mas essa função é importante para a nossa própria segurança. Então, quando for a algum encontro, compartilhe sua localização com alguém sempre, é fundamental. Fazemos isso quando pegamos um aplicativo, por exemplo. É importante fomentar uma cultura comportamental de segurança”, disse.
  • Por fim, ouça seu instinto. Se você não se sentir confortável em uma situação, levante e vá embora. Caso sua intuição indique que algo está errado, escute-a. Segundo Vieira, é necessário saber identificar e respeitar as percepções que sinalizam o risco que se corre.
  • “Você sente que tem alguma coisa errada mas não sabe o que é? Saiba se escutar e dar atenção a sua percepção. Porque existe um parâmetro dentro do habitual, que está errado. E quem lhe diz isso? O senso interno”.